A pandemia derrubou a demanda por viagens aéreas no Brasil no ano passado, e isso não é nenhuma novidade. A grande dúvida era saber qual o tamanho do tombo, mistério encerrado ontem (20), quando a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) divulgou seu tradicional balanço anual. Segundo a autarquia, 45,1 milhões de passageiros foram transportados ao longo de 2020 no país, queda de 52,5% frente ao ano anterior. Já a demanda doméstica, que chegou a cair, em média, 89,7% nos três primeiros meses da pandemia (abril, maio e junho), fechou 2020 com recuo de 48,7% na comparação anual.

Abril, quando o desconhecimento ainda imperava e governos estaduais tomavam as primeiras medidas restritivas, foi o pico de queda no indicador (-93,1%). A partir de julho (veja o infográfico ao final da matéria), a retomada ganhou corpo e, em dezembro, a aviação interna estava “apenas” 29,5% abaixo do ano anterior. Na outra ponta, a oferta de assentos terminou 2020 com queda de 47%. Nos dois índices, trata-se do pior desempenho em mais de uma década.

Presidente da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Eduardo Sanovicz conta que o setor não ficou, ao longo de 2020, fazendo previsões sobre a dimensão das perdas. “O que posso te garantir é que foi o pior ano da história da aviação mundial”, afirma. O dirigente destaca que a entidade trabalhou em diversas frentes para manter as empresas aéreas de pé, com o máximo possível de conexões para atender aos passageiros e ao país. Dessa forma, diante do ano de intensas dificuldades, a avaliação é de que o setor se saiu bem na crise.

“Essa impressão fica mais clara se você considerar que, em vários países, empresas aéreas ganharam ajuda financeira dos governos. Aqui, tivemos medidas de apoio governamental importantes, mas o empréstimo via BNDES acabou não se confirmando. Nossas associadas foram buscar meios de acessar capital e crédito no mercado e tiveram sucesso”, explica. “O dado final foi que o desempenho da aviação nacional foi a metade do que era. No pico mínimo, chegou a quase 8%. Ainda temos um ano de muitos desafios, mas o setor se comportou bem”, completa Sanovicz, que afasta a possibilidade de risco sistêmico para a aviação nacional.

Anac - dados de balanço 2020 - Eduardo-Sanovicz

Sanovicz: 2021 será de grandes desafios, mas aviação se comportou bem no auge da pandemia

Anac: mais dados

O exemplo de que a retomada ganha corpo pode ser medido pelo desempenho de dezembro. A quantidade de passageiros em voos domésticos chegou a 5,6 milhões, 36,4% inferior do que igual mês de 2019. Ainda assim, trata-se do maior volume desde fevereiro de 2020. Outro dado positivo se refere à ocupação de aeronaves, que fechou o mês passado em 81,6%, redução de 2,5% na mesma base de comparação. No acumulado dos 12 meses do ano, a taxa média foi de 80%, retração de 3,2%.

Com vários países com fronteiras fechadas ao longo do ano, a demanda e a oferta no mercado internacional acumularam queda de 71% e 62,6% em 2020, respectivamente,  na comparação anual. Em dezembro, os indicadores também apresentaram variação negativa quando comparado com igual mês do ano anterior: -77,3% e -67,1%, respectivamente.

Durante todo o ano de 2020, foram transportados 6,75 milhões de passageiros no mercado internacional. O número é 72% inferior ao registrado no acumulado dos 12 meses do ano anterior. Esse segmento tende a ter mais dificuldades para retomar, até pelo grande número de casos no Brasil. Em dezembro, por exemplo, 408 mil pessoas viajaram para o exterior, queda de 80,3% na comparação anual. Segundo a Anac, o indicador apresenta retração em 17 meses consecutivos.

Anac - infográfico_balanço2020

(*) Crédito da capa: rauschenberger/Pixabay

(**) Crédito da foto: Vinicius Medeiros/Hotelier News

(***) Crédito do infográfico: Anac