Na semana passada, a indústria do turismo de Barcelona, na Espanha, assistiu o fim de uma era. A segunda maior cidade da Espanha, que cresce continuamente dentro do mercado turístico, adotará uma medida que impedirá o surgimento de novos hotéis na proibição mais drástica de que se tem notícia em cidades européias.

Por meio de votação, decidiu-se que estão proibidos novos leitos no centro da cidade. Na pequena área que ladeia a região, novos leitos só serão permitidos em caso de substituição a empreendimentos que encerrarem atividades. Nos subúrbios de Barcelona, novos leiros estão permitidos, mas apenas sob condições estritamente limitadas a áreas previamente destinadas à habitação.

A expectativa é de que nos próximos dez anos, o número de hotéis na área diminua, fazendo com que as ruas regressem ao seu antigo modelo de passeio e compras com maior espaço para moradores.

A medida, que em um primeiro momento pode parecer absurda e extrema, tem explicação: a cidade possui atualmente 1,6 milhões de habitantes. Barcelona recebeu 32 milhões de visitantes em 2016, sendo a maior parte durante a primavera e o verão. Estes turistas significam, naturalmente, uma fonte de recursos, mas isso também pode ter impactos negativos sobre a economia local com o aumento do preços dos aluguéis e a redução do número de apartamentos disponíveis para os moradores, além da proliferação de trabalhos mal remunerados e na maioria dos casos, sazonais. 

Outras observações incluem o aumento de lojas de souvenires que comercializam produtos com pouca ou nenhuma conexão real com a cultura da cidade, sobrecarregando algumas partes da cidade que ganharam características de parques temáticos onde se tem de esperar horas em uma fila por um serviço, acabando com a diversão e comprometendo a característica histórica do destino.

Os moradores, especialmente os do centro da cidade, também não estão satisfeitos. Na mais recente manifestação de descontentamento, mais de 1 mil pessoas se reuniram no último sábado (28) no principal calçadão da cidade, munidos de cartazes onde se liam mensagens como "Barcelona não está a venda". 

Hoteleiros já criticam a medida, alegando que nenhuma das ações significará o fim dos excessos da indústria do turismo no destino. Milhões de visitantes, por exemplo, chegam a Barcelona apenas para passar o dia, vindos de um dos muitos resorts de praia presentes na costa do Mediterrâneo ou de algum cruzeiro recentemente atracado. Acredita-se que, com a diminuição do número de leitos, esse perfil de visitante de apenas um dia possa crescer substancialmente.

O novo plano de turismo para o destino procura formas de controlar o volume e gerenciar todos os perfis de visitantes estando ou não hospedados. A taxa de estacionamento para ônibus de excursões, por exemplo, saltará de 4,5 para 34 euros, em uma experiência que poderá ser estendida para a cidade inteira.

Além disso, também estão previstas leis para o fechamento de bares que contribuem com a poluição sonora e proibição de scooters e segways, pelo menos durante a temporada de verão. 

Segundo especialistas, mesmo que estas ações não signifiquem a solução do problema do turismo na cidade, ao menos mostram que as autoridades estão trabalhando em busca de uma solução.

Serviço
citylab.com

* Crédito da foto: Pixabay/tpsdave