Esta semana, a reportagem do Hotelier News completa a viagem pelo Sul abordando a retomada no Rio Grande do Sul. E, assim como muito estados, a recuperação ainda caminha a passos lentos. O protagonismo, puxado pela demanda regional, está com a Serra Gaúcha. Já a capital, mais dependente do corporativo, ainda batalha para subir ocupação.

“Vários hotéis fecharam definitivamente. Na capital, dos 100 hotéis que temos no segmento midscale, retornaram cerca de 80%”, revela José Reinaldo Ritter, presidente da ABIH-RS. “Em julho, a ocupação em Porto Alegre chegou a 18%. Em agosto baixou para 14%, um resultado muito ruim. Agora, o indicador está na faixa de 20%, ainda em recuperação”, completa.

Segundo Ritter, na verdade, uma das dificuldades enfrentadas por Porto Alegre é um gargalo antigo. “O turista desembarca no aeroporto e já vai direto para outras cidades. Porto Alegre é mais corporativo mesmo”, reconhece. “O ideal seria que o visitante ficasse pelo menos um dia na capital. No entanto, esse é um plano antigo que nunca conseguimos colocar em prática.”

Com isso, a hotelaria da Serra Gaúcha consegue ter melhor performance, dentro das restrições impostas pela pandemia. “Em Gramado, desde o início da reabertura nos surpreendemos muito com a demanda, principalmente no fim de semana”, revela Cristiane Mörs, diretora de vendas da Laghetto Hotéis. “Os dias de semana seguem como desafio”, completa.

Ao todo, a rede conta com 17 empreendimentos no Rio Grande do Sul, sendo que a maioria está concentrada na Serra Gaúcha. “São 10 só em Gramado, além de um em Canela, dois em Bento Gonçalves. Termos ainda outras três unidades em Porto Alegre e uma em Rio Grande, mais ao Sul do estado”, explica Cristiane.

Fechados logo no início da pandemia, os empreendimentos fizeram um retorno gradativo a partir de maio. Hoje, as unidades da Serra registram ocupação positiva. “Em Gramado e Canela, os hotéis estão sempre chegando próximo a 50%. Bento Gonçalves também, um dos hotéis chega a lotar, dentro do limite máximo permitido”, explica a diretora.

Rio Grande do Sul- retomada - jose ritter

Ritter Na capital, dos 100 hotéis midscale, retornaram 80%

As bandeiras, que fazem o monitoramento do contágio pelo Covid-19 no estado, é que delimitam os limites de ocupação. Mais do que determinar a capacidade dos hotéis, também determina os serviços que ficam abertos ou fechados. Tal situação gera não só descompasso entre as diferentes regiões do estado, como atrapalha os planos de viagens dos clientes.

Localizado em Bento Gonçalves, o Hotel Dall’Onder também assiste a um crescimento de retomada. “Estamos com ocupação média de 30% durante a semana, percentual que dobra nos finais de semana”, revela Rodrigo Ricieri, gerente Comercial do hotel.

Situação diferente da que passa o Plaza São Rafael, de Porto Alegre. “Nós estivemos na bandeira vermelha por muito tempo. Agora, na laranja, a capacidade máxima dos hotéis é de 60%”, explica Cláudia Hörbe, gerente de Marketing da Plaza Hotéis.

Quanto à ocupação, o número ainda está bem inferior ao da serra, como ressaltou Ritter no início da reportagem. “Varia de 20% a 30% dentro desse limite estabelecido pela bandeira laranja”, conta. “Há essa variação e é óbvio que nossa meta seria bem mais alta. Entendemos, contudo, que o momento ainda não é de retomada total”, completa.

Rio Grande do Sul - retomada - Cristiane Mörs

Cristiane: nos surpreendemos com a demanda de Gramado

O público da retomada

Como em Santa Catarina, é o turista regional que viaja de carro que impulsiona a hotelaria gaúcha. O que, no caso do Plaza São Rafael, ainda é um gargalo no processo para a volta. “A malha aérea na capital não retomou totalmente, trabalhando com 30% do que havia antes da pandemia. A maioria de nossos hóspedes chega de avião”, conta Cláudia.

Um público sempre presente no estado também anda sumido. De fato, argentinos, uruguaios e paraguaios ainda não conseguem vir ao Brasil. “Por isso, hoje, a maior parte do público vem do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná”, conta a diretora de Vendas do Laghetto. “Mercado emissor importante, São Paulo ainda tem retomada tímida”, completa Cristiane.

Medidas alternativas

Adaptando-se ao novo cenário, o Plaza São Rafael busca alternativas para suplantar a baixa ocupação. “Buscamos saídas para trazer receita nova para o hotel que a não seja só de hospedagem”, comenta Cláudia. “Além disso, já trabalhávamos com coworking e estamos abrindo um no lobby, também para tentar trazer mais movimentação”, revela.

O local também disponibiliza salas de reuniões para locação. “Muitos hotéis entregaram salas com valores mais altos. Temos a competitividade de valores de aluguel, com a grande vantagem de que as empresas clientes podem usar as áreas de lazer do hotel. Entendemos que isso está sendo um diferencial bacana”, acredita Cláudia.

Outra aposta é a área de A&B (Alimentos & Bebidas), explica a executiva da Plaza Hotéis. Tanto é que a rede gaúcha vai inaugurar uma cafeteria nas próximas semanas, visando gerar maior movimento no local.

Também investe na área de A&B o Hotel Dall’Onder. “Valorizamos a gastronomia e estamos com novas ações de marketing para adesão de pacotes e promoções”. Ainda assim, diante do cenário atual, é difícil trabalhar com objetivos de longo prazo. “Não possuímos metas. O momento é de perspectivas coletivas com todo o trade turístico regional”, diz Ricieri.

Rio Grande do Sul - retomada - Rodrigo Ricieri

Riceri: diante do cenário atual, é difícil trabalhar com objetivos de longo prazo

Expectativa nos eventos

Em Gramado, o Natal Luz sempre marcou a alta temporada na cidade. Agendado de 22 de outubro e 30 de janeiro, o evento (mesmo que reduzido) gera boas expectativas para a Laghetto Hotéis. “Sempre tivemos ocupação acima de 90%. Alguns hotéis chegavam a lotar. Agora, as bandeiras limitam nossa disponibilidade. Ainda assim, já temos reservas para vários períodos do Natal Luz com o máximo da ocupação permitida”, revela Cristiane. “Ontem, o governador publicou novo decreto passando de 50% para 60% a capacidade dos hotéis em Gramado. O trade local vem conversando com o governo para que aumentem essa disponibilidade. O fato é que, hoje, temos demanda e não conseguimos vender devido à limitação”, elucida.

Outros eventos, a exemplo das festividades de Réveillon, ainda são uma incerteza. “Estamos com a Covid-19 estável no estado. Acreditamos que isso tende a melhorar. No entanto, enquanto não vier a vacina, ainda resta uma grande incógnita”, finaliza Ritter.

(*) Crédito da capa: Edison Vara/Prefeitura de Gramado

(**) Crédito da foto José: Divulgação/ABIH-RS

(***) Crédito da foto: Cristiane: Divulgação/Laghetto Hotéis

(****) Crédito da foto Riceri: Divulgação/Hotel Dall’Onder