A busca por sustentabilidade na hotelaria está remodelando as práticas de construção e gestão de ativos hoteleiros. Com quase 40% das emissões globais de CO2 originadas do setor imobiliário, a adoção de práticas sustentáveis tornou-se imperativa. A inovação em materiais e técnicas, como a construção modular, está transformando a indústria, forçando investidores e desenvolvedores a seguirem novos padrões ambientais. A aplicação rigorosa de critérios é agora essencial, com dados mais acessíveis permitindo avaliações mais precisas e adaptações às exigências do mercado.

O avanço na disponibilidade de dados está transformando a avaliação de sustentabilidade em ativos hoteleiros, permitindo uma análise detalhada do desempenho ao longo do ciclo de vida dos produtos. Esse estudo ajuda a garantir a conformidade com os padrões ambientais e evita problemas futuros com financiamento e seguros, além de facilitar a revenda.

A construção modular, por sua vez, oferece eficiência e controle de qualidade superiores, com a vantagem adicional de permitir ajustes durante o processo e facilitar o reaproveitamento das estruturas no final do ciclo de vida. Com as mudanças nas preferências dos hóspedes e as novas tendências de mercado, a flexibilidade nos projetos é crucial para atender às demandas emergentes e garantir que os ativos se mantenham relevantes e valiosos.

Eduardo Manzano

Manzano aponta falta de interesse pelo tema

Falta de maturidade e materiais

Eduardo Manzano, arquiteto especializado em projetos hoteleiros, observa que a crescente conscientização dos hóspedes sobre sustentabilidade tem pressionado as redes hoteleiras a adotar práticas mais verdes. “A grande dificuldade que encontramos, principalmente no Brasil, é achar materiais sustentáveis que tenham custo razoável e volume de produção para atender a demanda”. Ele destaca que, apesar de alguns produtos reciclados de qualidade já estarem disponíveis, a construção modular enfrenta muitos obstáculos no país e não é amplamente utilizada na hotelaria de grande escala.

Os desafios ao projetar hotéis sustentáveis incluem a falta de conhecimento e o baixo interesse dos clientes em certificações de sustentabilidade, salienta Manzano. “A falta de conhecimento dos profissionais de projeto e a falta de urgência por parte de clientes são obstáculos significativos”, afirma. O arquiteto acredita que a situação pode mudar com a chegada de investidores que valorizam ativos hoteleiros sustentáveis, especialmente nas grandes redes e em categorias de hotelaria mais sofisticadas.

Manzano também menciona que, apesar de muitos projetos em desenvolvimento, não tem conhecimento de nenhum onde a redução de pegada de carbono seja um tema central. Ele cita o Bucuti & Tara Beach Resort, em Aruba, como o primeiro hotel de carbono neutro no Caribe, e o URBN Boutique Shanghai, como o pioneiro com a preocupação de carbono zero. Estas inovações são inovadoras, mas ainda há uma escassez de projetos amplamente divulgados focados em emissões.

Em relação às tendências emergentes, Manzano destaca a necessidade de flexibilidade e adaptação no design hoteleiro. “Os meios alternativos de hospitalidade como o Airbnb e os novos hostels obrigaram as marcas a criarem a hotelaria híbrida”, afirma. Ele observa que essas novas formas de hospitalidade exigem que os hotéis sejam sustentáveis para atrair as novas gerações e oferecer economia e baixa manutenção.

Sobre o impacto das tecnologias inovadoras, Manzano afirma que sistemas de gestão integrados têm melhorado a eficiência operacional e, portanto, na construção de ativos hoteleiros sustentáveis. “Hoje temos sistemas que, com um único software, fazemos a gestão do empreendimento desde a reserva até o pós-venda”. Exemplos incluem monitoramento em tempo real das unidades e gerenciamento de serviços, que ajudam a otimizar o uso de recursos e reduzir impactos ambientais.

Avanços em sustentabilidade da B&B Hotels e Grupo Tauá

O avanço das práticas sustentáveis tem sido uma prioridade tanto para a B&B Hotels quanto para o Grupo Tauá, refletindo uma crescente conscientização sobre a importância de se construir ativos hoteleiros de menor impacto. “A sustentabilidade já faz parte dos nossos projetos desde a concepção e desenvolvimento até a execução e operação dos empreendimentos”, diz Flávia Lorenzetti , CEO da rede francesa, que recentemente lançou sua primeira bandeira focada em sustentabilidade, a B&B Home, ainda sem previsão de chegada ao Brasil.

A B&B Hotels está implementando tecnologias como iluminação LED e sistemas de automação para reduzir o consumo de energia e água, além de integrar práticas de gestão sustentável no seu portfólio, semelhante ao que o Grupo Tauá tem alcançado. A B&B Hotels anuncia exclusivamente que, recentemente, conquistou o selo SOCOTEC de sustentabilidade: “nos tornamos a primeira rede de hotéis a conquistar essa certificação fora da Europa. Essa organização independente desenvolveu os primeiros e únicos padrões de avaliação especificamente adaptados e voltados para o setor hoteleiro quando se trata de responsabilidade social corporativa. Todas as métricas são reconhecidas pelo Conselho Global de Turismo Sustentável”.

Na rede mineira, a sustentabilidade é igualmente central, com práticas que vão desde o uso de lâmpadas LED até a instalação de biodigestores e sistemas de tratamento de água.  “O Grupo Tauá se tornou o primeiro grupo de hotéis e resorts carbono neutro do Brasil em 2023”, explica Isis Batista, gerente de ESG e SSO da empresa.

A companhia tem adotado tecnologias sustentáveis, como sistemas de eficiência energética e compostagem de resíduos, alinhadas com seu compromisso com a Matriz de Materialidade e os princípios do Pacto Global da ONU.

Ambas as empresas demonstram um forte compromisso com a sustentabilidade em seus projetos. Flávia, por sua vez, destaca a importância da inovação tecnológica. “O uso de tecnologias como o sistema de gestão de energia é crucial para melhorar a eficiência operacional”, avalia.

De maneira semelhante, Isis ressalta a importância de práticas como a calculadora de pegada de carbono no Grupo Tauá. “É uma medida que ajuda os hóspedes a compensarem suas emissões e promove a conscientização ambiental”. Esses exemplos ilustram como a integração de tecnologias e ações sustentáveis pode levar a uma gestão mais eficiente e ao engajamento dos clientes.

A abordagem das duas empresas, embora distinta em termos de foco e aplicação, converge na meta comum de reduzir o impacto ambiental e melhorar a eficiência. Enquanto a B&B Hotels se concentra em tecnologias inovadoras e certificações sustentáveis, o Grupo Tauá adota uma estratégia ampla, que inclui desde o uso de materiais sustentáveis até a certificação carbono neutro. Ambos os casos destacam a crescente importância da sustentabilidade na indústria hoteleira e como as companhias estão se adaptando para atender às expectativas dos consumidores e das regulamentações ambientais.

Isis Batista

Isis detalha ações adotadas pelo Tauá

Compromisso global e inovações locais da Wyndham

Maria Carolina Pinheiro, vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios para América Latina da Wyndham Hotels & Resorts, destaca a importância da sustentabilidade no portfólio da empresa. “Para um hotel ingressar no portfólio da Wyndham, ele deve atender aos pré-requisitos do nível 1 do nosso programa global de sustentabilidade, o Wyndham Green”.

No Brasil, dois empreendimentos alcançaram o nível 5 do programa, incluindo o Wyndham Gramado Termas Resort & Spa e o TRYP by Wyndham São Paulo Guarulhos Airport. Em Gramado, a oferta de água potável gratuita contribui para reduzir o uso de plásticos, enquanto Guarulhos recicla bitucas de cigarro em parceria com a Poiato Recicla.

Maria Carolina explica que a construção sustentável é crucial para a Wyndham, não apenas para preservar o meio ambiente, mas também para atender às expectativas dos clientes e do mercado corporativo. “O hóspede pergunta sobre as ações ambientais adotadas pelo empreendimento antes de fechar a reserva”, ressalta.

A Wyndham adota tecnologias para construir ativos hoteleiros sustentáveis, como a busca por melhora na eficiência operacional e na redução do impacto ambiental. “Em Punta Cana, um novo hotel TRYP by Wyndham está sendo construído com vigas de aço reciclado e eletricidade 100% renovável”, diz Maria Carolina. Esse aço reciclado reduz as emissões de CO2 em até 70% em comparação com o aço produzido convencionalmente.

Maria Carolina destaca que o programa Wyndham Green é aplicado globalmente, mas cada unidade tem autonomia para adotar práticas adicionais conforme as regulamentações locais. “Trabalhamos para cumprir a legislação vigente e, quando possível, cada unidade pode implementar práticas complementares”, afirma. Isso garante que as estratégias de sustentabilidade sejam adaptadas às necessidades e regulamentações de diferentes mercados.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Wyndham Hotels & Resorts