O Hotelier News segue sua viagem pelo Brasil para entender como está a retomada da hotelaria nacional. Nesta semana, continuamos no Centro-Oeste e, depois de Goiás, desembarcamos em Brasília para entender o ritmo de recuperação dos hotéis locais. Cerne da política nacional, a metrópole idealizada por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa gira em torno do corporativo. Por isso, como em outros estados, a avaliação dos hoteleiros ouvidos é que só o retorno do segmento Mice acelera de vez a demanda.

“O cenário ainda não é exatamente animador”, pontua Henrique Severien, presidente da ABIH-DF (Associação Brasileira da Indústria de Hoteis do Distrito Federal). “O nosso turismo tem uma vocação natural para o segmento de negócios. Mesmo com os protocolos já liberado para eventos de pequeno porte, ainda não se traduz em negócios efetivos”, completa.

Sem os eventos, portanto, a demanda presente nos hotéis de Brasília está concentrada no mundo que gira em torno da política. “Basicamente, nossa única fonte de hospedagem fica concentrada no Congresso”, reitera Severien. Cenário, destaca o dirigente, bem diferente do que se via antes do coronavírus.

“Brasília estava numa crescente, retomando gradativamente o lugar que ocupava anos anteriores. A capital foi amplamente castigada por ter ficado quase tudo em ‘stand by’ e ‘online’, como o Judiciário, Supremo, Senado e Congresso”, acrescenta George Durante, diretor de Operações do B Hotel. “Isso afetou demasiado o cenário. Basicamente, executivos, juristas, advogados e tudo ligado a esses órgãos deixaram de vir à Brasília”, diz o diretor do hotel de luxo (veja In Loco Especial).

Segundo Durante, outra complicação decorrente da crise, pelo menos logo no início da pandemia, foi a malha aérea limitada. “Mesmo sendo Brasília o maior hub doméstico do Brasil. Hoje, o aeroporto já está operando com 50% da sua capacidade, o que já se reflete em todo o restante”, adiciona.

Brasilia - retomada - George Durante

A capital foi amplamente castigada por ter ficado quase tudo em ‘stand by’, diz Durante

Retomada devagar

Mesmo com 100% dos empreendimentos funcionando, o Distrito Federal assiste atualmente a uma volta em ritmo lento. “Tivemos um cenário de abril e maio que, na nossa avaliação, é praticamente zero. A média geral de ocupação foi de 3%”, revela Severien. “Agosto apontou para 13% e, em setembro, chegou a 17%. Sendo que esse percentual é medido pelas unidades abertas, ou seja, a amostragem de unidades que estão operando. É extraída de uma base de dados da ABIH-DF, é ressaltar. Temos uma quantidade expressiva que não faz parte da associação, com alguns hotéis independentes e menores”, completa.

Números referentes a agosto do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) mostram, de fato, um cenário desafiador. Frente a igual período do ano anterior, por exemplo, a ocupação caiu mais do que pela metade (-63,7%). Por isso, em meio a tantas incertezas, o termo retomada talvez não seja o mais adequado para o momento atual de Brasília.

Segundo o presidente da ABIH-DF, a associação vem trabalhando em uma nova nomenclatura para essa fase. “Esse indicador de ocupação é a única coisa que as pessoas vem utilizando como o fator retomada. O mais importante para um negócio, contudo, é quando você deixa de ter prejuízo. Então, enquanto as unidades performam com resultados negativos, fica difícil abraçar essa terminologia no dia a dia”, explica.

Brasilia- retomada - Danilo Stacciarini

Segundo Stacciarini, o Nobile Monumental atingiu o ponto de equilíbrio em julho

Estímulo de recuperação

Para fomentar o crescimento do turismo regional, novas estratégias estão desenvolvidas, revela Severien. “A Secretaria Estadual de Turismo está dando enorme ênfase para a promoção do destino por meio do turismo cívico. Não é uma pauta novidade, mas, na ausência de negócios, faz todo sentido”, comenta.

Enquanto os números não voltam a subir, os hotéis também criam estratégias para manter as operações. Sem fechar as portas durante todo o período da pandemia, o Nobile Suítes Monumental atua hoje em busca de terminar o ano sem prejuízo. “Para diminuir os custos fixos do hotel, bloqueamos 50% das unidades e estamos liberando de acordo com o aumento da demanda”, conta Danilo Stacciarini, gerente geral do empreendimento.

Segundo o executivo, o hotel atingiu – e assim ficou – o ponto de equilíbrio em julho. “Agora, estamos em busca de finalizar o ano eliminando o prejuízo causado pelo período mais crítico da pandemia: março, abril, maio e junho”, ressalta. Pensando em ocupação, hoje os números apresentam média positiva comparado ao cenário como um todo.

“Está girando em torno de 40% a 50%”, revela Stacciarini. Em relação ao público, o gerente comenta que já existe uma retomada do público corporativo. “E, aos finais de semana, temos visto muitos hóspedes da própria região que estão procurando um local seguro para relaxar e praticar o turismo cívico na capital federal”, acrescenta.

Já o B Hotel chegou a paralisar as operações no auge da pandemia, durantes os meses de abril e maio, reabrindo em 1º de junho. “Foi uma estratégia para estarmos mais fortes e preparados já para a segunda quinzena de julho, preservando o maior número de colaboradores possíveis para facilitar a retomada, garantindo assim ,como consequência, todo o nosso diferencial humano que tanto nos custou formar para atingir as expectativas dos hóspedes”, explica Durante.

Em relação à ocupação, atualmente o hotel vem performance melhor durante a semana. “Devido especialmente ao nosso perfil de hóspedes, está no patamar de 30%. Nos finais de semana, cai um pouco, em torno de 22%”, revela o diretor.

Adotando diversas medidas de contenção na reabertura, o hotel também já atingiu o ponto de equilíbrio. “O que nos dá maior tranquilidade de trabalho, porém ainda falta para chegarmos aos números pré-Covid. Pela minha perspectiva atingiremos esse patamar apenas no segundo semestre de 2021, isso se a vacina chegar a tempo”, estima Durante. “Mesmo assim, temos atualmente crescimento mensal em torno dos 20% e estamos atentos à retomada da economia, mesmo que de modo tímido, a tendência no mercado brasiliense e de retomada”, finaliza.

(*) Crédito da capa: telmofilho/Unsplash

(**) Crédito das fotos: Divulgação