* De Carmo do Rio Claro, Minas Gerais

Chega a ser clichê dizer que o Brasil, em toda a sua extensão e complexidade, guarda pequenos paraísos escondidos. Ainda fora da rota mainstream do turismo de Minas Gerais, Carmo do Rio Claro não deixa a desejar em absolutamente nada em relação a outros municípios com altos índices de visitação como Capitólio, Tiradentes e Ouro Preto, por exemplo. Com a chegada da pandemia, o mercado esboçou reações semelhantes no segmento, como a união de entidades turísticas, conhecida como G20. Dados os prejuízos causados pela crise, o movimento no município localizado ao Sul do estado não foi diferente.

O desejo em investir no turismo da região é antigo, porém nunca contou com o apoio das iniciativas pública e privada. Em 2020, a ficha finalmente caiu. Com toda turbulência gerada pelo coronavírus, empresários, comerciantes e hoteleiros enxergaram no setor, um dos mais afetados pela crise, justamente a alternativa para girar a economia da cidade.

Apesar de desconhecida por muitos, seu principal atrativo, o Lago de Furnas, já caiu no gosto do brasileiro há anos. Para explorar a região e entender quais seus reais potenciais turísticos, a reportagem do Hotelier News foi convidada pela Asceturis (Associação Carmelitana de Eventos e Turismo Urbano e Rural), com consultoria da Sara Souza Consultoria e Negócios e apoio de logística da CS Global para conhecer as belezas de Carmo do Rio Claro.

Cidade típica do interior de Minas, o destino abraça diferentes frentes, como o turismo corporativo – encabeçado pelo agronegócio – lazer e religioso. Entre cafés e doces de compota, conversamos com o prefeito Tião Nara e Marly Lemos, presidente da Asceturis, sobre os próximos passos do setor e principais empecilhos que impedem o município de alavancar a chegada de viajantes.

Nosso bate-papo aconteceu na Pousada Jatobá, com a Represa de Furnas como pano de fundo. O prefeito, logo à primeira vista, vai na contramão do político com perfil de homem de negócios. Homem simples, o chefe do Executivo de Carmo do Rio Claro mostrou-se empenhado em deixar um legado para seu sucessor.

Carmo do Rio claro - desenvolvimento do turismo - marly e tiao

O prefeito e a presidente da Asceturis vêm unindo forças para impulsionar a chegada de turistas

Carmo do Rio Claro: entraves do setor

Há seis anos ocupando a cadeira da prefeitura, ele afirma que, até então, gestores passados não se propuseram a fomentar o turismo no destino, o que acarretou na falta de profissionalismo por parte dos empresários. “Sempre tive em mente que o turismo seria a peça chave para alavancar nosso município. As gestões passadas deixaram a desejar no incentivo. Após a construção da represa, os produtores que tiveram suas propriedades perdidas construíram hotéis, pousadas e casas de aluguel à beira do lago”, explica.

O prefeito ainda destaca o baixo volume de Furnas como um dos catalisadores para a falta de turistas na cidade. Há uma década que o também chamado Mar de Minas está abaixo do nível aceitável para a prática de navegação de pequenas embarcações. “Nesse período, o turismo ficou a desejar. Quase não tivemos turistas”, completa.

Para Marly, a falta de interesse do governo e iniciativa privada refletem na busca pela fomentação do segmento. “Queremos uma secretaria técnica que entenda e cobre os empresários. Ainda existe muito amadorismo e estamos trabalhando para melhorar essa condição e profissionalizar o setor”. A presidente da Asceturis ainda afirma que a associação junto à prefeitura estão em busca de parcerias com entidades capacitadoras, como o Sebrae, por exemplo, para promover esse movimento.

Outro problema é a falta de infraestrutura para receber os viajantes. Uma central de informações no centro da cidade ou rampas de acesso na chegada da represa são alguns pontos de maior atenção. Tião Nara responde que, no caso das cachoeiras, o cenário é mais complexo, pois os atrativos estão localizados em propriedades particulares. “Não temos projetos de infraestrutura ainda. As cachoeiras são privadas, o que demanda uma série de medidas a serem tomadas. Queremos dar maior condição ao turista como colocar salva-vidas em Furnas. Precisamos ter essa precaução e respaldar os viajantes”.

A chegada do associativismo

Apesar de fazer parte da ALAGO (Associação dos Municípios do Lago de Furnas), composta por 34 cidades banhadas pela represa, Carmo do Rio Claro ainda carecia de uma entidade própria. A necessidade foi acentuada pela pandemia e, em julho deste ano, a Asceturis foi criada. Com apenas dois meses de vida, a associação já conta com 30 membros, entre bares, restaurantes, supermercados e meios de hospedagem.

“Montamos a associação e estamos à todo vapor para dar estrutura e alavancar o turismo. Nossa natureza propõe uma experiência calma e tranquila, com cachoeiras, fazendas antigas e lavouras. Temos muito a oferecer”, incrementa o prefeito. O município, será um dos padrinhos do investimento na ordem de R$ 100 mil em prol da região de Furnas para fomentar o setor.

Mesmo com o objetivo de atrair mais viajantes, Marly garante que a proposta não é tornar o destino uma segunda Capitólio, conhecida por seus cânions e turismo de massa. “Queremos que o turista seja feliz aqui, fique tranquilo e em segurança. Carmo do Rio Claro tem o menor índice de violência da região e isso tem muito valor”. A cidade ainda se beneficia também dos poucos casos de Covid-19. Foram apenas duas mortes no município e 80 casos da doença.
Para isso, a Asceturis vai iniciar projetos de impacto ambiental para promover o crescimento sustentável da cidade.

“O turismo movimenta o comércio. É um dinheiro limpo, que fica na cidade e gera emprego”, complementa Marly. O governo federal vai liberar verba para arrumar o acesso a Serra da Tormenta, um dos principais atrativos para o turismo religioso, com a capela de Nossa Senhora Aparecida, a mais alta em homenagem à santa no país.

carmo do rio claro - desenvolvimento turístico - interna

Vista da Pousada Jatobá, localizada na Represa de Furnas

Potencial para eventos

Atualmente, a Festa do Peão é um dos principais eventos da cidade e realizada em um parque de exposições com capacidade para 10 mil pessoas, ainda subaproveitado pelo município. “Temos uma estrutura maravilhosa, com espaço para exposições, eventos corporativos e sociais. O problema é que as pessoas ainda não acreditam no potencial do produto para investir”, lamenta Marly.

Carmo do Rio Claro ainda é conhecida pelo seu tradicional Carnaval de rua, que recebe 3 mil turistas todos os anos e lota a oferta de hospedagem. O município ainda realiza eventos beneficentes, leilões, bingos e cavalgadas, além da festa da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e o Encontro Folcórico. Segundo a presidente da Asceturis, o foco é promover ao menos quatro grandes eventos por ano.

“No segmento corporativo não temos nada. Queremos fazer um festival do café, com palestras para agrônomos, focar em gastronomia, explorar a pesca, os doces tradicionais e a cachaça daqui. Temos muito potencial para alavancar e trabalhar essa questão”, salienta Marly.

(*) Crédito das fotos: Nayara Matteis/Hotelier News