Quando atravesso o lobby de um hotel, não carrego o olhar de quem concebeu o projeto, mas sim a escuta atenta de quem observa, descreve e busca traduzir sensações em palavras. Procuro compreender o que faz deles mais que um refúgio temporário — o que os transforma em experiências marcantes, capazes de permanecer na memória muito depois do checkout.
Esta é a segunda etapa de minha jornada investigativa sobre como o design contemporâneo da hospitalidade se converte numa espécie de sinfonia sensorial. E se existe algo que procuro destacar nesta série, é o poder do design multissensorial. Não se trata de ostentar beleza: trata-se de gerar emoção, de provocar aquela pausa interna que nos faz dizer “aqui, eu me sinto bem”.
No universo do design multissensorial, as imagens iconográficas e artísticas desempenham um papel fundamental. Obras de arte, fotografias locais e composições visuais cuidadosamente selecionadas não apenas acrescentam caráter ao ambiente, mas também acionam memórias e despertam sensações específicas nos hóspedes. Uma pintura vibrante pode sugerir energia e acolhimento; um mural sutil pode promover serenidade e introspecção. As escolhas iconográficas dialogam com o contexto cultural do espaço, conectando visitantes à história e às tradições do destino, ao mesmo tempo em que desafiam o olhar a descobrir novas camadas de significado.
Pesquisas comprovam: experiências que ativam múltiplos sentidos criam laços emocionais mais profundos com o hóspede. Um espaço iluminado de forma inteligente, com texturas que convidam ao toque, aromas discretos e arte visual relevante, tem capacidade muito maior de se tornar inesquecível do que ambientes visualmente exuberantes, mas sensorialmente neutros.
Vejo o design multissensorial como uma partitura onde cores organizam, texturas provocam o toque, linhas sugerem percursos ao olhar. Aromas ativam lembranças e os sons — seja o burburinho sutil do lobby ou o silêncio controlado do quarto — ajustam o ritmo interno de quem chega exausto de uma longa viagem ou reunião. E, compondo essa orquestra, as imagens iconográficas e artísticas funcionam como notas visuais capazes de evocar sentimentos, contar histórias e criar pontos de atenção ou surpresa.
Hotéis de ponta já entenderam: detalhes não são casualidade, são estratégia. Afinal, quem nunca se recordou de um hotel não pela grandiosidade de sua fachada, mas pelo conforto da cama, a penumbra suave do banheiro, o calor sutil da madeira sob os pés ou ainda pela imagem marcante que adornava o corredor? São essas pequenas escolhas sensoriais que constroem a memória emocional, o ativo invisível mais precioso da hospitalidade.
Hotéis que investem em experiências multissensoriais não apenas fidelizam hóspedes, mas os encantam de verdade. Eles criam ambientes que se deseja revisitar, e — mais do que isso — recomendar. O espaço, nesses projetos, se faz protagonista silencioso: não serve apenas, envolve e conduz. É como se o design dissesse silenciosamente ao hóspede: “você pertence a este instante”.
No próximo artigo da série, vou explorar como a arte e a autenticidade local transformam hotéis em narradores culturais, imprimindo identidade e proporcionando aos hóspedes uma ligação genuína com o destino.
—
Christophe Bonadona é diretor da ARTEO Estúdio de Design Iconográfico, com sede em São Paulo. Reconhecido por sua abordagem autoral e colaborativa, o estúdio atua em projetos de hospitalidade, lifestyle e arquitetura comercial, traduzindo identidade em forma, narrativa e ambientação. Com mais de 15 anos de experiência e uma visão empreendedora consolidada, Christophe lidera uma equipe multidisciplinar, articulando parcerias estratégicas com arquitetos, marcas e criadores visuais. Com mais de uma década de existência, a ARTEO construiu uma reputação sólida por desenvolver soluções que conectam propósito e espaço, consolidando-se como referência em design emocional e estratégico no setor hoteleiro.
(*) Crédito das fotos: Arquivo Pessoal
