*Matéria atualizada em 29/08/2024, às 12h51

A Collective Hospitality, empresa sediada em Singapura, adquiriu a maior parte dos contratos do Selina, rede voltada para jovens viajantes. O anúncio do acordo marca uma nova fase para a companhia que, no mês passado, declarou insolvência e foi retirada da bolsa Nasdaq, aponta o Skift.

“Nosso plano para os próximos quatro a cinco anos com o Selina é reverter a situação, gerar mais receita incremental e lucratividade, e agregar valor ao negócio”, afirma Gary Murray, CEO do Destination Group, em entrevista exclusiva ao Skift. “No futuro, poderemos monetizar esse valor.”

O valor da transação não foi divulgado e nenhum dos contratos adquiridos estão no Brasil, confirmou o Hotelier News com fontes a par da transação. O negócio, já concluído, inclui hotéis sob contratos de longo prazo e gerenciados pelo Selina localizados em países como Estados Unidos, Reino Unido e Portugal.

“A Collective Hospitality pegou o portfólio de hotéis mais rentável do Selina”, disse uma das fontes ouvidas pela reportagem do Hotelier News. Além disso, o acordo abrange a Remote Year, empresa que permite aos funcionários trabalharem em uma cidade diferente a cada mês e que foi adquirida, em 2020, pela rede fundada por Rafael Museri e Daniel Rudasesvki.

O Selina Brasil entrou em contato com a reportagem do Hotelier News contradizendo as informações acima. Segundo a rede, os hotéis em solo brasileiro estão inclusos na transação. Em nota, Fábio Werneck, diretor geral da empresa por aqui, comenta o novo momento.

” Definitivamente, este é um importante passo para a companhia no Brasil e globalmente.Estamos comprometidos em oferecer uma experiência de hospedagem única e seguimos firmes nesse propósito perante compromisso todos os hóspedes, parceiros e colaboradores. O Selina Brasil permanece focado em sua missão de promover conexões autênticas em nossos espaços”, diz o executivo.

Expansão estratégica

A Collective Hospitality, que opera aproximadamente 15 propriedades voltadas para a Geração Z, com marcas como Bodega Hostels, Slumber Party e Socialtel Resorts na Tailândia e Sudeste Asiático, encontrou no Selina uma oportunidade complementar. Isso porque os hostels da companhia estão localizados em 22 países da América Latina e Europa, oferecendo uma ampliação geográfica significativa para o portfólio da empresa.

Desta forma, o Destination Group utilizou capital interno para adquirir os contratos do Selina, beneficiando-se de um fluxo de caixa robusto, avaliado em mais de US$ 500 milhões, segundo Murray. A marca Selina e seu programa de fidelidade serão mantidos. Nos próximos seis meses, o grupo avaliará as propriedades e considerará a possibilidade de rebranding de algumas delas para a marca Socialtel.

Murray vê no Remote Year um “negócio fabuloso” e planeja expandi-lo. A estratégia inclui a criação de pacotes de “aventuras”, como acampamentos de surfe, certificações de mergulho PADI e oficinas de idiomas estrangeiros.

Desafios e oportunidades

A crise do Selina começou após sua entrada no mercado público em outubro de 2022, por meio de uma empresa de aquisição com propósito específico. Desde então, a companhia enfrentou dificuldades, culminando na queda do valor das ações e na incapacidade de honrar um pagamento de juros de aproximadamente US$ 500 mil ao Banco Interamericano de Desenvolvimento.

No entanto, Murray acredita que o Selina tem uma oportunidade única de capturar o público da Geração Z, um dos segmentos mais difíceis de alcançar na indústria hoteleira. “Atingir um cliente na casa dos 20 anos durante suas primeiras experiências de viagem é empolgante porque, a partir daí, você pode conquistá-lo para a vida toda”, destaca o executivo.

O Grupo Newmark, especializado em mercados de capital hoteleiro, assessorou a Collective na aquisição, enquanto os administradores conjuntos da FTI Consulting gerenciaram o processo de venda.

Ao longo dos anos, o Selina atraiu vários investidores de destaque, incluindo Adam Neumann, fundador do WeWork. A empresa era frequentemente comparada ao empreendimento de coworking do executivo, que também enfrentou dificuldades devido a um modelo de negócios complexo. Em Israel, o grupo imobiliário Hagag, que firmou uma parceria com a rede para projetos de hospedagem em 2021, já reconheceu a desvalorização desse acordo, revela o Calcalistech.

Desde sua fundação em 2014, a empresa registrou perdas consecutivas, incluindo US$ 198 milhões em 2022, US$ 186 milhões em 2021 e US$ 139 milhões em 2020. No primeiro semestre de 2023, a companhia relatou perda de US$ 46 milhões, redução de cerca de 50% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Nos últimos 12 meses, o Selina fechou hotéis, interrompeu novas inaugurações e demitiu mais de 350 funcionários em todo o mundo.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Selina