Recentemente, um juiz distrital dos EUA determinou que o Google usou ilegalmente seu poder de mercado para estabelecer um monopólio nas pesquisas online. As consequências dessa sanção impactam diversos setores, incluindo o turismo, já que as quatro maiores OTAs do mercado gastaram um total combinado de US$ 16,8 bilhões em vendas e marketing no último ano, grande parte direcionada ao metabuscador, que tem ganhado cada vez mais espaço nas estratégias de viagens, aponta o Phocuswire.

Não é novidade que as empresas de viagens reclamam do domínio da pesquisa digital e da publicidade do Google. Durante o julgamento antitruste no ano passado em Washington, surgiu uma carta de 2019 de Barry Diller, ex-presidente do Expedia Group, destinada ao buscador, na qual ele expressava sua frustração com os resultados de pesquisa.

“Devo dizer que estou à beira da revolta agora que as ações do Google são tão punitivas, não apenas para a Expedia, mas também para todos os participantes que dependem de condições de concorrência equitativas”, escreveu o executivo na época.

Pelo visto, as palavras de Diller tiveram um tom profético, visto que o juiz distrital Amit Mehta, na sua decisão de 27 páginas, afirmou que “o Google é um monopolista e tem agido como tal para manter seu monopólio”, concluindo que a companhia violou a Seção 2 da Lei Antitruste Sherman, garantindo ilegalmente seu domínio no mercado de busca ao pagar bilhões de dólares a operadoras de smartphones como Apple e Samsung para tornar o Google o mecanismo de busca padrão para seus telefones.

O trâmite

O Google declarou que recorrerá da decisão. “Esta decisão reconhece que o Google oferece o melhor mecanismo de busca, mas conclui que não deveríamos ter permissão para torná-lo facilmente disponível”, destacou Kent Walker, presidente da empresa para Assuntos Globais, em comunicado.

O juiz decidirá quais medidas devem ser tomadas para resolver o monopólio do Google em um processo separado. Elas podem variar desde ordens específicas relacionadas às práticas comerciais da empresa até mesmo uma diretriz para venda de partes de seus negócios.

Um julgamento federal separado está agendado para setembro sobre as alegações do Departamento de Justiça dos EUA de que a tecnologia de publicidade do Google representa um monopólio ilegal. “Embora o impacto total sobre as empresas de viagens ainda não esteja claro, isso pode levar a uma redução nos custos de publicidade”, afirma Brennan Bliss, CEO da agência de Marketing Digital de Viagens Propellic.

Max Starkov, consultor de Hospitalidade e Tecnologia, acredita que não haverá impacto a curto prazo. “A decisão atual e os recursos previstos pelo Google levarão anos para serem resolvidos. A médio prazo, os contratos exclusivos do Google com várias plataformas serão revisados (Apple, etc.) para tornarem-se não exclusivos. Mas onde encontrar uma alternativa melhor de motor de busca?”, questiona.

A longo prazo, motores de busca com Inteligência Artificial generativa, como OpenAI Search e Claude, se desenvolverão no espaço de busca, oferecendo aos consumidores diversas opções, acrescenta o consultor. Christian Watts, CEO da Magpie, por sua vez, diz que o Google não fez nada de errado em seu acordo com a Apple, mas acrescentou que “monopólios são claramente ruins, e a empresa teve sucesso demais”.

“Então o governo intervém. Suspeito que exércitos de advogados discutirão pelos próximos anos, e o Google pagará um acordo de alguns bilhões de dólares e os usuários da Apple ficarão encantados com ícones padrão para Bing, Yahoo e Alta Vista. É um pouco irônico que a Booking esteja recebendo o mesmo tratamento na Europa, e uma das melhores ferramentas para desintermediar as OTAs”, pontua.

O Departamento de Justiça dos EUA apresentou a ação antitruste pela primeira vez em 2020. O governo argumentou que, ao pagar bilhões de dólares para ser o motor de busca automático, o Google negou aos concorrentes a chance de competir com seu mecanismo de busca. Com os dados que a empresa coletou dos consumidores, melhorou ainda mais seu motor de busca.

Em maio de 2020, Peter Kern, então CEO do Expedia Group, pontuou que a empresa estava excessivamente dependente do Google. Também naquele ano, o Tripadvisor reclamou que os lucros foram afetados pelas práticas do metabuscador.

(*) Crédito da foto: Divulgação/Google