Não entendeu bem o título? As linhas seguintes vão esclarecer. Recentemente, Barcelona anunciou a proibição total dos short-term rentals. Na última sexta-feira (21), o prefeito da cidade espanhola declarou que, a partir de 2029, todas as ofertas neste sentido serão banidas, revela o Skift. Então, já imaginou se essa moda pega e começa a ser adotada em outros mercados, como o Brasil?

Em Barcelona, o plano prevê a cessação da renovação das licenças existentes de short-term rentals e a suspensão da emissão de novas, de modo que nenhum empreendimento desse tipo seja permitido a partir de 2029. A política de tolerância zero do prefeito Jaume Collboni vai muito além da Lei Local 18 de Nova York, que exige que os anfitriões estejam registrados, mas apenas para estadas em suas próprias casas quando estão presentes. O número máximo de hóspedes é dois, e a permanência pode durar menos de 30 dias.

Atualmente, Barcelona conta com cerca de 10 mil aluguéis legais. O prefeito reclamou dos aluguéis crescentes e da escassez de habitação na cidade, afirmando que a situação é tão grave que muitos trabalhadores da classe média não conseguem mais viver na região. “É necessária mais oferta de habitação, e as medidas que estamos apresentando visam atuar para que a classe média trabalhadora não precise deixar a cidade por não poder arcar com os custos de moradia”, disse Collboni em uma coletiva de imprensa. “Esta medida não mudará a situação de um dia para o outro. Esses problemas levam tempo. Mas com esta medida estamos marcando um ponto de virada”, completou.

Henrik Kjellberg, CEO do grupo de gestão de propriedades Awaze Group, com sede no Reino Unido, disse que o anúncio o surpreendeu. “Concordo que é importante focar no turismo sustentável. Mas isso é provavelmente uma reação exagerada. No entanto, acredito que todas as empresas de aluguel de férias precisam trabalhar não apenas com os legisladores, mas também com os constituintes locais para explicar como agregamos valor. Na Awaze, percebemos há muito tempo que uma maneira de agregar valor é levar as pessoas a lugares menos frequentados. É por isso que focamos em destinos rurais, e não urbanos”, disse.

O Airbnb, por sua vez, ainda não se manifestou sobre a proibição em Barcelona. Short-term rentals, incluindo imóveis cadastrados na plataforma, têm sido um ponto de conflito na cidade, que tem visto muitos protestos contra esse modelo de acomodação e o turismo desenfreado. O número de propriedades atuando neste modelo no destino espanhol pode ser muito maior do que os 10 mil registrados mencionados pela Bloomberg. Em março, apenas o Airbnb possuía 15,6 mil imóveis, com 54 mil quartos, de acordo com a firma de análise de dados de turismo Mabrian.

Possíveis impactos no Brasil

A força da indústria de short-term rentals é inegável. Plataformas como o Airbnb, por exemplo, movimentam bilhões no mercado global e brasileiro. Hoje, o país responde por 8% das reservas da companhia no mundo, sendo o quinto principal mercado da companhia fundada por Brian Chesky. Em 2022, a plataforma teve gerou US$ 63 bilhões em reservas, sendo que só no Brasil foram US$ 5,2 bilhões (mais de R$ 33 bilhões na cotação de hoje).

Só pelo recorte do Airbnb, já conseguimos ter um panorama do impacto dos short-term rentals no mercado brasileiro. Se adicionarmos à equação companhias como Booking.com, Expedia e Decolar, que também atuam no segmento, fica ainda mais clara a magnitude desse mercado no país. Definitivamente, é uma fonte de receita que o turismo nacional não pode abrir mão.

De acordo com a última edição do Hotel Trends Stats, estudo produzido pelo Hotelier News em parceria com a Lighthouse, o setor de short-term rentals no Brasil vem performando positivamente nas principais praças. Em São Paulo, por exemplo, a oferta de quartos segue em expansão e, em paralelo, o mercado apresenta picos de ocupação ao longo do ano, além de aumento nas diárias médias.

No Rio de Janeiro, apesar de certa estabilidade na quantidade de unidades disponíveis, as tarifas têm se mantido acima de R$ 500, com ocupação próxima a 40%. Mercados como Curitiba, Brasília, Fortaleza e Porto Alegre também apresentaram desempenho positivo quanto à oferta. Isso nos faz chegar a uma conclusão preocupante: se a moda pega e essas proibições começarem a se replicar em outros países, o Brasil pode ter sérios problemas.

(*) Crédito da foto: tierramallorca/Pixabay