Não é só a posição em que ocupa que o credencia a ser um dos principais nomes da hotelaria brasileira. Com 40 anos de carreira, este inglês nascido em Arlington ? cidade perto de Manchester ? Philip Carruthers sabe muito bem em que pé se encontra a hotelaria brasileira. Diretor Superintendente do Copacabana Palace desde 1989, quando a Orient-Express Hotels adquiriu o hotel carioca, Carruthers é desde então o principal executivo do grupo no Brasil. Nesta entrevista exclusiva ao Hôtelier News, Carruthers fala um pouco da carreira e profissão, revela sua gratidão ao Grupo Othon, analisa o mercado brasileiro e conta alguns planos do Grupo Orient-Express para o país. Boa leitura!(Vinicius Medeiros)

Hôtelier News: Como foi o início de carreira, onde começou e de onde vem este interesse por hotelaria?
Philip Carruthers: Minha família veio para Brasil porque meu pai, hoteleiro, veio trabalhar no país. Comecei minha carreira ainda muito jovem, como managment trainee na Rede Othon. Em 1968, aos 22 anos, já era sub-gerente do hotel Trocadero Othon, em Copacabana. Apesar de ter trabalhado no Othon Palace São Paulo, no Bahia Othon Palace, em Salvador, e ainda no BH Othon Palace, praticamente construí toda minha carreira no Rio de Janeiro. Assim, agradeço muito ao Álvaro Bezerra de Mello e ao Grupo Othon. Essa experiência que carrego hoje, devo ao Othon. Sou um produto dos anos 60 da Rede Othon. 

HN: Com 40 anos de carreira bem sucedida, o senhor já sabe o caminho das pedras. Assim, o que precisa um bom gerente-geral?
Carruthers: Liderança é muito importante, como em qualquer outra função de comando. Você deve procurar ser sempre o exemplo para seus colaboradores e esta procura é um exercício de liderança diário. Hoje, por exemplo, minha equipe em si é pequena, são apenas 5 pessoas. Mas, ainda assim, procuro ser exemplo que lhe falei, sempre. Sobre minha formação, posso dizer que ela é bem generalista, mas meu início de carreira nas áreas operacionais da Rede Othon me ajudou muito.

HN: A Orient-Express está buscando novos empreendimentos no Brasil. Fala-se muito sobre a participação na licitação do hotel das Cataratas, em Foz do Iguaçu. O que tem de verdade nisso tudo?
Carruthers: Este ano, deveremos fazer duas aquisições, mas não no Brasil, provavelmente em empreendimentos na Europa e nos EUA. Aqui no Brasil, nosso enfoque será no segmento de resorts e os destinos no Nordeste chamam nossa atenção. Mas também vemos com muito bons olhos um empreendimento de menor porte em Búzios. Em relação ao Hotel das Cataratas, temos muito interesse por aquele empreendimento. Vamos participar da licitação e quando entramos, entramos para ganhar.

HN: Como a Orient-Express encara o mercado paulista? São Paulo está na lista de novos investimentos do grupo?
Carruthers: São Paulo é o maior mercado emissor do país e, portanto, prioritário para o Grupo Orient-Express. No entanto, a cidade não está nos nossos planos de abertura, até pelas razões ditas na resposta anterior. Ainda assim, por tudo que São Paulo representa para o turismo brasileiro, abriremos ainda este ano um escritório de representação na cidade. 

HN: Ainda sobre São Paulo, o que acha da cidade para a hotelaria de luxo?
Carruthers: O mercado de luxo é muito promissor no Brasil. Mas trata-se de um mercado com tarifas baratas em relação a outros locais. Não posso dizer pelos outros, mas no Grupo Orient-Express, por exemplo, o Brasil possui uma média tarifária baixa em relação aos nossos empreendimentos na Itália. Em 2005, o Copacabana Palace fechou o ano com uma diária média de US$ 340. Nossos hotéis na Itália, por exemplo, têm diária de US$ 3 mil. Creio que, no Brasil, o Rio tenha a hotelaria de luxo mais rentável. O grande problema de São Paulo é a superoferta. Assim, conseqüentemente, o desempenho e a rentabilidade da hotelaria de luxo na cidade não são ideais.

HN: Fora o Nordeste, qual o mercado o senhor crê que vai despontar no Brasil?
Carruthers: De fato, o Nordeste já é uma realidade para a hotelaria brasileira. Lá ainda vai crescer muito, mas acho que o mercado de resorts é o que mais desponta no Brasil. Acredito muito nisso e, como este país é lindo e grande, várias regiões podem despontar. Búzios e Região dos Lagos aqui no Rio, por exemplo, tem um potencial enorme.

HN: Nos últimos anos temos observado um “boom” de empreendimentos hoteleiros na Barra da Tijuca. O senhor crê numa mudança de eixo na hotelaria carioca, com a Barra superando a Zona Sul?
Carruthers: Não acredito em absoluto numa mudança de eixo. A Barra não concorre com a Zona Sul, são produtos e enfoques diferentes. Para o turista estrangeiro, a graça do Rio está na Zona Sul. Copacabana, por exemplo, é um nome conhecido no mundo inteiro. Ela é a nossa Champs Elysée, as pessoas sonham com a Zona Sul do Rio.

HN: Como anda o Copacabana Palace? O que o hotel, um ícone da hotelaria carioca e brasileiro, nos traz de novidade?
Carruthers: Ainda neste semestre teremos novidades para nossos hóspedes. O hotel está investido na construção de um spa e a previsão de entrega é para maio, com um investimento de cerca de R$ 5 milhões. Além disso, o Copacabana Palace também está reformando seus salões do antigo cassino. Os novos espaços se chamarão Palm Room e Cristal Room e terão capacidade para 400 pessoas sentadas cada um. A reforma será entregue em agosto e o investimento chegará a R$ 12 milhões. O principal disso tudo é que não vamos mais permitir que o Copacabana Palace fique defasado em relação aos outros, como já aconteceu antes. Temos que estar sempre nos renovando e a busca de qualidade aqui é permanente. Uma coisa posso te garantir: Este é o Copa de hoje, mas seguramente não será o de amanhã. 

HN: Como anda a questão da segurança no Rio de Janeiro? Está satisfeito?
Carruthers: Acho que a Prefeitura do Rio deve melhorar a questão dos moradores de rua, dos camelôs e dos flanelinhas, principalmente na avenida Atlântica, que é o cartão-postal da cidade. Temos que, como representantes do trade, pressionar a autoridade pública em busca do combate ao turismo sexual também. Mas, de uma maneira geral, estou satisfeito. Para uma cidade tão grande como o Rio, está dentro do razoável, mas é claro que pode melhorar.