Equipotel: quais as expectativas da hotelaria para o ano que vem?

No segundo dia da Equipotel, o Hotel Trends 2024, espaço de conteúdo do Hotelier News na feira, foram apresentados diversos painéis sobre os insights da hotelaria para o ano que vem. O primeiro, intitulado Pesquisa Orçamentos Hoteleiros: insights para 2025, recebeu Pedro Cypriano, fundador e managing partner da Noctua Advisory, e foi mediado por Vinicius Medeiros, editor-chefe do portal de notícias.

Já no início do bate-papo, Cypriano avaliou variáveis que irão influenciar o setor no ano que vem. “Quando há um PIB (Produto Interno Bruto) crescendo, temos investimentos, e isso reflete direto no nosso setor. Por outro lado, a perspectiva é de uma desaceleração do crescimento econômico. Isso não é exatamente um alerta, mas o fato é: a economia não irá acelerar no ano que vem”, explicou.

“As praças corporativas, de modo geral, nos últimos 12 meses, vêm perdendo espaço de crescimento. Outro fator que movimenta a hotelaria como um todo é a taxa de juros. Se a Selic cai, o investidor visualiza, neste movimento, uma boa oportunidade”, continuou o executivo, elencando os fatores que irão refletir no desenvolvimento hoteleiro no ano que vem.

Durante o debate, Medeiros acrescentou que, no próximo ano, os hotéis terão que trabalhar a diária média e buscar receitas adicionais para manter os números crescendo. “Trata-se de fazer o cliente gastar mais no seu hotel”, disse o editor-chefe do Hotelier News.

“No somatório dos mercados, temos ocupações positivas, mesmo que ainda abaixo em comparação com épocas de pico histórico. O volume, hoje, é saudável, e aprendemos a precificar com um volume mais baixo. E isso não é uma característica só do Brasil, mas global, resultado de uma gestão de receitas mais eficiente”, completou Cypriano.

Principais insights

No bate-papo na Equipotel, Cypriano pontuou que a Pesquisa Orçamentos Hoteleiros analisou diversos itens para traçar um panorama da hotelaria para 2025, como investimentos, gestão de receita, estratégias de marketing, entre outros.

“Um ponto importante é ter uma equipe que busca resultados além da curva. Eficiência é fundamental. Além disso, as tarifas públicas contribuíram muito para o crescimento da hotelaria até agora. Mas, cabe lembrar que, ao mesmo tempo em que subimos a régua em termos de tarifa, investimos pouco na melhoria dos ativos e na experiência”, explicou o executivo da Noctua.

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Painel elencou tendências para o ano que vem

“Foi um movimento necessário, obviamente, principalmente para recuperar as perdas impostas pela pandemia, mas agora vemos isso desacelerando, porque o cliente está cada vez mais interessado em empreendimentos atualizados e em experiência”, complementou, ressaltando que o setor não pode discutir desenvolvimento e expansão de uma maneira simplista.

“O nosso negócio é complexo. Outro fator importante que pode ser colocado nessa conta das perspectivas é o fim do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos). E isso com certeza vai afetar nossa expectativa de geração de caixa, fazendo com que os hotéis apostem mais em eficiência”, analisou, trazendo um insight importante: muitos hotéis recentemente reformados registraram crescimentos de 30% em diária média em relação a empreendimentos que operam há mais de 20 anos, evidenciando o impacto das reformas e atualizações de ativos no faturamento das propriedades.

Hoje, São Paulo aparece liderando a recuperação da hotelaria, com diárias acima do pico histórico registrado em 2013. “Na contramão deste processo, as demais praças ainda estão atrasadas nessa recuperação. Não podemos nos contentar somente com a performance dos últimos dois anos. Há espaço para crescer, e estratégias comerciais assertivas precisam ser trabalhadas. Colocar a régua para cima é fundamental. Não é simples, mas é algo que temos incentivado bastante”, endossou Cypriano.

Para 2025, prevê-se que o movimento, em relação a eventos, continue aquecido. “Quando olhamos para o ano que vem, vemos uma agenda de eventos que já está bookada o primeiro semestre inteiro. No lazer, por sua vez, fala-se sobre um certo receio daqui para a frente. Pode não crescer, mas é muito difícil que diminua. As praças de lazer continuam crescendo um pouco mais, e isso deve continuar no ano que vem, visto que o dólar alto seguirá contribuindo para o aquecimento do turismo doméstico”, finalizou, fechando o primeiro bate-papo do segundo dia da Equipotel.


Como garantir uma gestão de custos mais eficiente?

Dando continuidade à grade de palestras do espaço Hotel Trends 2024 na Equipotel, foi realizado o painel Custos: como ser eficiente para garantir melhores margens?, que contou com as presenças de de Victor Duarte, CFO do Grupo Wish; Rodrigo Teixeira, CEO da Asksuite; e Victor Lemos, coordenador de Gestão de Clientes da Clarke Energia.

O bate-papo foi iniciado com Teixeira pontuando que, no pós-pandemia, uma alternativa que a hotelaria encontrou para ser mais eficiente foi a gestão remota. “Estamos vendo muitos hotéis buscando uma mão de obra remota em destinos onde ela é mais barata, para a parte de reservas. Obviamente, é preciso muito cuidado, porque o nível de serviço impacta diretamente na receita, positiva ou negativamente”, destacou.

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Bate-papo abordou gestão de custos em hotéis

Em seguida, Lemos falou a respeito do Mercado Livre de Energia como solução para ajudar os hotéis a reduzirem os custos, visto que a energia é um dos fatores que mais pesam nas despesas dos empreendimentos. “Com este ecossistema, a economia na fatura pode chegar até a 38%, ajudando bastante o setor a liberar recursos para realizar investimentos em outros departamentos”, disse o executivo da Clarke Energia.

Já no Grupo Wish, Duarte afirmou que o básico bem feito contribui significativamente para a redução de custos. “Na hotelaria, sempre achamos que o trabalho está feito, mas revisitar e principalmente revisar as iniciativas e estratégias é uma excelente solução, porque sempre irão surgir alternativas para abaixar as despesas”, reforçou.

“São várias as opções: Mercado Livre de Energia, estratégias de Revenue Management, campanhas de marketing, entre outras. Olhem todas as linhas. Da receita aos custos, sempre há oportunidade. Em 2025, devemos buscar 11% de crescimento na receita, operando em uma linha de reduzir custos”, complementou.

Otimizando custos

Durante o bate-papo na Equipotel, Teixeira endossou que a comunicação é um dos principais diferenciais para elevar a receita dos hotéis. “Em muitos casos, os hotéis deixam na mão do recepcionista a tarefa de oferecer um upgrade na estada. E, no fim das contas, é dinheiro deixado na mesa”, explicou.

“Na Asksuite, sempre estamos analisando quais processos podem ser automatizados e terceirizados, e isso influencia diretamente nos nossos custos. Com a IA (Inteligência Artificial), por exemplo, temos um ganho de produtividade considerável, e a tendência é seguir evoluindo neste sentido”, afirmou.

Complementando o raciocínio, Duarte salientou que a IA estará cada vez mais presente nas estratégias de RM dos hotéis. “Há muitas variáveis para analisar, e automatizar tudo isso irá otimizar diversos processos”, analisou.

Para reduzir os custos, segundo Teixeira, é preciso utilizar ferramentas para medir a eficiência em todos os departamentos do hotel. “Em muitos casos, boas oportunidades de gerar receita são desperdiçadas por falhas nos processos e canais de distribuição. Então, mensurar a qualidade desse serviço é imprescindível”, acrescentou.


Perspectivas da mão de obra para 2025

Finalizando o segundo dia de conteúdo do espaço Hotel Trends 2024 na Equipotel, foi apresentado o painel Mão de obra em 2025: como é que fica?, abordando um dos principais gargalos da hotelaria nos últimos anos, principalmente após a pandemia: a dificuldade de encontrar profissionais qualificados para o setor.

O bate-papo contou com as presenças de Lucila Quintino, CEO da HotelConsult; e Márcio Moraes, CEO da QI Profissional. Vinicius Medeiros, editor-chefe do Hotelier News e mediador dos painéis, iniciou a conversa questionando os participantes sobre os principais problemas relacionados à mão de obra.

“O que mais percebemos de dor dos nossos clientes é a dificuldade de atrair os candidatos. A hotelaria não parece mais um setor atraente para os profissionais. Além disso, o turnover do nosso segmento é bastante alto, o que dificulta a retenção de profissionais”, disse Lucila.

Moraes, logo depois, pontuou que existe a necessidade de repensar as empresas no contexto do funcionário, avaliar o que é entregue para ele em termos de boas condições de trabalho. “Muitos profissionais deixaram a hotelaria para buscar novas oportunidades de emprego e estabilidade, e não retornaram”, afirmou o executivo da QI Profissional.

Ele ressaltou, também, que assim como o empregador busca um lucro cada vez maior, o colaborador busca o crescimento salarial para investir na carreira. “Ele precisa de um salário não mais para a sobrevivência, mas também aplicar esse valor em conhecimento e técnicas para elevar a formação dele. Caso contrário, teremos profissionais muito pouco qualificados”, disse.

Atitude como diferencial

Durante o bate-papo na Equipotel, Lucila fez pontuações sobre empreendimentos que contratam profissionais apenas pelas capacidades técnicas, sem avaliar outros critérios. “Hoje, não é só técnica, também tem a ver com caráter, valores, comportamento. Capacidades técnicas podem, inclusive, ser construídas”, explicou.

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Painel discutiu estratégias para retenção de profissionais

Ainda neste sentido, Moraes expôs o “outro lado da moeda”: empreendimentos que investem em capacitação dos colaboradores e, em seguida, os perdem. “Quando isso acontece, é hora de reavaliar a abordagem, porque algo não está alinhado”, analisou.

Na conversa, os participantes abordaram outros fatores que dificultam a retenção de profissionais na hotelaria. “A escala 6×1, por exemplo, é um destes fatores”, disse Lucila.

“Não há atrativos. Os profissionais gostam de coisas mais dinâmicas, de tecnologia e, principalmente, de sentir que há oportunidades de crescimento profissional dentro do setor”, avaliou Moraes.

Sobre boas práticas para garantir a retenção de profissionais, os participantes recomendaram, principalmente, trabalhar a comunicação entre líderes e colaboradores, a fim de motivar os novos liderados, para não enfrentar as consequências de uma má contratação, como feedbacks negativos de clientes, entre outros pontos.

O cenário na prática

O “segundo tempo” do painel contou com as participações de Johannes Bayer, gerente geral do InterContinental São Paulo; e Cláudia Marino, diretora de Operações do Grupo Fasano. Dando início à segunda parte da conversa, Cláudia reforçou que a hotelaria deixou de ser atrativa devido à jornada intensa. “Além disso, há uma forte falta de estudantes de Hotelaria. Portanto, é necessário que toda a estrutura, da formação à atuação profissional, seja revista”, disse.

“Excluir um candidato por ele não ter uma grande experiência é um grande erro. Porque é possível moldá-lo de acordo com os valores da empresa que está contratando”, completou.

Logo em seguida, Bayer destacou que o gerente geral tem um papel importante de fazer conexões com os novos colaboradores para garantir maior retenção de profissionais. “Há dificuldades tanto na base, quanto na liderança. É preciso investir em formação e em escolhas assertivas, e o que ajuda são as pesquisas de engajamento”, comentou.

“Se você quer que o colaborador evolua, é preciso adotar novas abordagens. Se você quer dialogar, conversar com estudantes do curso em faculdades de hospitalidade. Se seu empreendimento quer os melhores profissionais, é preciso buscá-los”, complementou o gerente do InterContinental São Paulo, fechando o segundo dia de conteúdo na Equipotel.

(*) Crédito das fotos: Peter Kutuchian e Lucas Barbosa/Hotelier News