Gramado - retomada dos hotéis_internaData que costuma lotar Gramado, a Páscoa de 2020 foi bem diferente

Olhe para qualquer direção e será difícil encontrar cidade que melhor aproveita o potencial do turismo no país. Gramado (RS) tem três quartos do PIB (Produto Interno Bruto) ligado aos setores de comércio e serviços e, em função disso, sentiu fortemente os efeitos econômicos do coronavírus. Quase dois meses após o decreto que parou a economia local, chegou a hora da retomada, que é feita com planejamento, conteúdo e tecnologia. Os hotéis do município, por exemplo, estão liberados para voltar às atividades já na sexta-feira (8). 

Em conversa com o Hotelier News, Rafael Carniel, secretário municipal de Turismo de Gramado, relata que o impacto econômico foi grande. “A queda na arrecadação de ISS (Imposto sobre serviço) superou 90% desde o decreto, ocorrido em 20 de março”, destaca. Carniel acrescenta que pesquisa da pasta aponta que, em abril, 56% das empresas ficaram sem atividades. “Além disso, 61% deram férias aos funcionários. Do total de respondentes, 37% eram hotéis e todos ficaram fechados”, completa.

Embora o estrago tenha sido grande, não só para as finanças municipais, mas para empresas, não é a pressão econômica que move a decisão da prefeitura. Antes de dar a palavra ao secretário, é importante fazer outra contextualização: Gramado teve apenas dois casos confirmados de Covid-19, ambos “importados” de São Paulo (dois turistas que foram diagnosticados enquanto visitavam a cidade). No Rio Grande do Sul há também um número reduzido de ocorrências (1.815, com 81 óbitos), principalmente se comparado aos estados mais afetados – mais à frente no texto você entenderá porque essa informação é relevante. 

“A situação dos números no município tem se mostrado sob controle após mais de um mês de paralisação do turismo, o que nos permitiu trabalhar na nossa infraestrutura em saúde e liberarmos paulatinamente o retorno de outros setores de menor risco”, explica Carniel. Hoje, por exemplo, restaurantes e as tradicionais lojas de chocolate estão funcionando, assim como outros nichos do comércio. “Naturalmente, voltar à atividade é preciso, pois a saúde da população também depende de fatores sociais, econômicos e psíquicos. Estamos fazendo isso de forma cuidadosa, exigindo uma série de cuidados por parte das empresas”, acrescenta.

Gramado: preparando a volta

Para retomar as atividades, a cidade gaúcha aparentemente faz bem o dever de casa – e só o futuro confirmará isso. Tudo começou com um plano de crise, que resultou, entre outras coisas, no decreto para suspensão da operação do comércio e de empresas de serviço, incluindo a hotelaria. Na sequência, a prefeitura se debruçou no planejamento e execução de medidas para já pensar na retomada. “Como sou do mercado financeiro, sabia que a paralisação das atividades demandaria financiamento às empresas, que teriam problemas de caixa. Procuramos bancos e cooperativas de crédito para tentar viabilizar linhas de crédito competitivas para os negócios locais, com bom período de carência”, revela.

Em paralelo, a prefeitura prorrogou para o final do ano o pagamento de impostos, como ISS e IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), previstos para os meses de março, abril e maio. “Depois, passamos a pensar em medidas necessárias para preparar a retomada, e daí saíram várias iniciativas”, comenta Carniel. Na lista estão consultoria de negócios digital gratuita em parceria com o Sebrae; estudos de mercado para balizar a tomada de decisão; conteúdos gratuitos sobre temas como gestão de crise, inovação e customer success; e a criação de um selo de segurança sanitário, como vem fazendo destinos e redes hoteleiras.

Gramado - retomada dos hotéis_capaA Av. Borges de Medeiros é o eixo principal do comércio de Gramado

“Há ainda outras ações, que estão em diferentes estágios de execução, e que constam do Movimento Gramado 2030: Turismo, Tecnologia e Design. Entre eles, está a parceria com startpus vários projetos, entre eles a utilização da tecnologia de QR Code para o rastreamento de casos, similar ao modelo usado com sucesso na China e com livre adesão”, conta. “Em relação ao selo, procuramos um hospital referência no estado, o Moinho dos Ventos, para auxiliar na criação de uma certificação”, completa o secretário.

A retomada

Na avaliação de Carniel, o elevado índice de adesão da população e das empresas às medidas de isolamento foi vital para que a cidade se preparasse para a retomada. “A cidade não tem semáforos e os carros param para que as pessoas possam atravessa a rua. Então, esse senso de comunidade facilitou muito para a sociedade local abraçasse as medidas restritivas”, comenta. “A adesão da hotelaria também foi ampla. Houve poucos e naturais questionamentos. Os hoteleiros entenderam a importância das medidas como forma de proteger a todos”, acrescenta.

Gramado tem um dos maiores parques hoteleiros do Rio Grande do Sul. Ao todo, são 193 empreendimentos, somando 18,2 mil leitos. “Nossa hotelaria é bem posiciona nos sites de avaliação. Sem todos esses cuidados, haveria o risco de cair e não entregar a segurança que será exigida pelo consumidor. Por isso toda essa movimentação”, diz Carniel. 

“Acreditamos que a retomada do turismo será regional. Ela vai até aonde o carro consegue chegar”, avalia o secretário, dando a entender que o baixo do número de casos de Covid-19 no estado dá mais segurança para a decisão de reabertura do turismo. “Nossa tendência natural é buscarmos voltar ao normal. Enquanto isso, nos preparamos para esse ‘novo normal’ que nos espera”, finaliza. 

(*) Crédito da capa: Lucas Amorelli/Agencia RBS

(**) Crédito da foto: Vinicius Medeiros/Hotelier News