Para finalizar a primeira edição do Hotel Trends ESG, promovida pelo Hotelier News, Academia de Hotelaria, Koncept Life e Arbache Consulting, a Dimensão Social trouxe o debate sobre a importância do S da sigla para o setor hoteleiro e as comunidades em seu entorno.

O evento, que iniciou sua programação na manhã de hoje (8), no Pullman Ibirapuera, em São Paulo, apresentou o case hoteleiro do Clud Med, compartilhado por Patrícia Bonetti de Souza, diretora Comercial Mice da rede francesa de resorts.

Antes de detalhar as ações do Club Med School, a executiva enfatizou a importância de firmar parcerias para desenvolver uma agenda ESG. “Hotel pode se unir com hotel. Ninguém faz nada sozinho, ainda mais neste tema. Vamos nos ajudar e unir forças”, pontuou.

Em sua fala, Patrícia ressaltou que nenhum projeto sai do papel perfeito. “Somos uma rede com 74 anos de história e muito know how, além de contar com normativas de fora do país. Atuamos em algumas frentes, mas a mensagem principal que quero passar é: o importante é começar, dar o primeiro passo”.

Idealizado por Ana Allegretto, diretora de RH (Recursos Humanos) da rede para a América do Sul, o Clud Med School nasceu há quatro anos, com a missão de capacitar a mão de obra local para os resorts da marca. Lançado na unidade de Lake Paradise, em Mogi das Cruzes (SP), o programa tem como objetivo elevar a profissionalização da comunidade no entorno.

“O Clud Med School nasceu com quatro cursos: camareira, auxiliar de garçom, recepcionista e auxiliar de cozinha. Um dos pré-requisitos é ser de Mogi das Cruzes e de baixa renda. A ideia era construir algo para jovens em busca de uma primeira oportunidade profissional, mas para a nossa surpresa 59% dos inscritos tinham mais de 40 anos”, contou Patrícia em sua fala no Hotel Trends ESG.

Patrícia Bonetti Souza

Patrícia compartilhou as ações do Club Med

Erros e acertos

O interesse de pessoas mais velhas em busca de mudanças profissionais fez a rede recalcular sua rota. O Clud Med passou a olhar para a mão de obra com mais de 50 anos, abrindo ainda mais seu escopo de possibilidades de contratação.

O Clud Med School é fruto da parceria entre o grupo hoteleiro, o Senac e a prefeitura de Mogi das Cruzes. Segundo a diretora, a rede desembolsou R$ 150 mil para colocar o programa no mercado, uma vez que a empresa oferece estrutura para as aulas, estágios e alimentação dos estudantes.

“O corpo docente e parte teórica ficam por conta do Senac. Já o transporte e seleção de pessoas é responsabilidade da prefeitura. Mas logo em nosso primeiro ciclo, identificamos algumas falhas de percurso, que foi a comunicação”, revelou a diretora.

Segundo Patrícia, os cursos tiveram baixa adesão pela falta de divulgação. O erro foi corrigido, e no segundo ciclo todas as vagas foram preenchidas. “Realizamos reportagens com uma TV local e visitamos escolas do Ensino Médio para chamar os alunos”.

Mesmo com as melhorias, o índice de abandono ainda é um problema, chegando a 37%. “Agora, realizamos entrevistas para entender o nível de interesse de cada aluno. Hoje, temos 60% de taxa de conclusão e cerca de 54% são admitidos no Clud Med. Os demais, a própria região absorve”, explicou a executiva, que destacou que o programa é um exemplo da rede no exterior, replicado em propriedades da Europa.

Responsabilidade social e desafios da hotelaria

Para completar a Dimensão Social do Hotel Trends ESG, Gisele Ruiz, CEO da Academia de Hotelaria, mediou o painel Os pontos críticos da Responsabilidade Social para a agenda ESG no setor hoteleiro. O debate contou com a presença de Aline Gonçalves, diretora de ESG da GAV Resorts; Raquel Pazos, CEO do IBITI; e Flavia Buiati, VP de Finanças e Jurídico da Atlantica Hospitality International.

A executiva do GAV Resorts iniciou a conversa elencando os principais desafios de estabelecer uma agenda em ESG na rede. “Só a governança não era o suficiente, é preciso deixar um legado que vai além do lucro, empresa e prédio, mas para as comunidades. Na realidade, toda companhia tem alguma iniciativa social, mas muitas vezes desestruturada, sem medir seu real impacto”.

O grupo hoteleiro passou a olhar para fora para buscar inspiração em suas iniciativas, letramento e autogestão. “Acredito que um dos grandes desafios é explicar que são investimentos de longo prazo, difíceis de demonstrar no ROI, pois muitas vezes são retornos intangíveis”, acrescentou Aline.

CEO do IBITI, Raquel compartilhou como o projeto, que contempla uma hospedagem de alto padrão, contribuiu para o desenvolvimento da economia na região do Parque Estadual do Ibitipoca, em Minas Gerais. “Contamos com mais de 6 mil hectares de área em regeneração, onde começamos há 42 anos na parte ambiental. Percebemos que não existe ambiental sem o social, sem as pessoas”.

E foi pensando na comunidade local, que estava se deslocando para grandes centros urbanos em busca de melhores condições de vida, que o IBITI encontrou no turismo uma forma de desenvolvimento econômico. “Nosso hotel é regenerativo e atuamos com diárias de R$ 4 mil. São três conceitos de hospedagem, com 11 UHs cada e 100% de mão de obra e produtores locais”, disse Raquel.

Retorno sobre investimentos

Flavia analisou a relação entre o financeiro e o ESG, destacando que a forma de medir o retorno sobre o investimento precisa mudar. “Existe esse pensamento de que o financeiro que direciona o investimento, mas a verdade é que a área deve conscientizar que o ROI é importante, mas que algumas ações são necessárias olhando para o futuro”.

Um exemplo recente dado pela executiva da Atlantica no Hotel Trends ESG foram as enchentes que castigaram o Rio Grande do Sul em maio deste ano, o que gerou grande prejuízo para a hotelaria gaúcha. “Quanto dinheiro não se perdeu? Se não fizermos nada agora, vai piorar muito. Gestão de risco também é pauta financeira”.

A operadora multimarcas passou a olhar para a agenda ESG com mais atenção em 2020, quando estruturou o programa Aja. “Organizamos nossas frentes de atuação para entender onde investir. O social existe, queira você ou não. A Atlantica parte do princípio de cuidar de cada um que confia em nós, seja o colaborador, cliente, investidor ou a comunidade local”, disse Flávia.

A operadora também apoia a Childhood Brasil, ONG que defende os direitos das crianças e adolescentes e combate a exploração sexual de menores. “Muitos crimes acontecem dentro de hotéis. Se somos parte dessa cadeia, temos que atuar nessa frente com denúncias, conscientização e arrecadação de doações para a causa. Já arrecadamos R$ 5 milhões que foram direcionados para ações, leis criadas e comunidades protegidas”, continuou a diretora. “Investimos no que sabemos que podemos impactar. Não adianta buscar uma causa que está muito longe da sua realidade”.

(*) Crédito das fotos: Bruno Churuska/Hotelier News