Entrando na segunda parte do evento, o Hotel Trends ESG, iniciado hoje (8), mergulhou no debate sobre governança corporativa. Comandada por Ana Paula Arbache, CEO da Arbache Consulting, a Dimensão Governança começou com um bate-papo com Lizete Ribeiro, CEO do Grupo Tauá de Hotéis, que ministrou a palestra Intramuros x extramuros: os desafios da governança ESG.

Como uma rede familiar, o Tauá começou em um sítio que, mais tarde, se tornou o primeiro hotel da empresa em Minas Gerais. Após alguns tropeços, a companhia expandiu sua presença no interior paulista com a abertura da unidade de Atibaia. Mais tarde, o empreendimento de Alexânia (GO) entrou para o portfólio e, em breve, a marca chega a João Pessoa (PB), com um resort de 1,2 mil UHs.

“Só com governança para fazer isso, ainda mais tratando-se de uma empresa familiar. Hoje, temos 1,8 mil quartos e 2,1 mil emocionadores. Nosso propósito é fazer as pessoas felizes. Pode parecer piegas, mas é nossa razão de existir”, disse a CEO.

Lizete destacou os pilares do Tauá, baseados em detalhes, memórias, paixão por servir, metas, honestidade e sustentabilidade. “Sempre fomos vidrados em investir tudo que ganhamos para expandir. O ESG bateu à nossa porta antes da pandemia e passamos a fazer estudos para implementar as práticas até entender que já fazíamos muita coisa no âmbito social”.

A rede mineira se organizou pensando na perenidade do negócio, feito para a sociedade e não mais para a família fundadora. Segundo Lizete, a expectativa do Tauá é empregar cada vez mais pessoas a partir de uma governança bem estabelecida.

“Uma hora ou outra é necessário colocar a mão no bolso, mas precisa ser um investimento sustentável e é preciso cuidado. Implementamos uma área dedicada ao ESG na companhia que foi crescendo. É preciso ter um defensor dessa causa do lado de dentro, caso contrário, a rotina te engole. Investimos o que podemos para fazer melhor”, complementou a executiva.

Lizete Ribeiro

Lizete compartilhou as iniciativas do Tauá no Hotel Trends ESG

Materialidade

Lizete afirmou que o incômodo com processos que não estão alinhados à agenda ESG é o ponto de partida para a mudança. Ao mesmo tempo, as práticas precisam atender as expectativas também dos stakeholders.

O Tauá ouviu 1,7 mil pessoas, entre clientes, sócios, fornecedores e colaboradores para entender sua materialidade e traçar prioridades. O resultado: treinamento, impacto nas comunidades, saúde e segurança apareceram entre os principais pontos.

“Desenvolvemos destinos e queremos que a comunidade local trabalhe no hotel. Também iniciamos nosso programa de descarbonização e, desde 2023, somos uma rede carbono neutro. O que o cliente não compensa, nós pagamos. É preciso entender que a economia não é mais a mesma ou teremos um problema grave lá na frente”, salientou Lizete, que destacou que um dos principais desafios da governança é incluir a agenda ESG dentro da cultura empresarial.

Por fim, a CEO apresentou algumas iniciativas do Instituto Tauá com foco social. “Organizamos nossas ações sociais e hoje contamos com programas educacionais, treinamentos de professores, entre outros. Acredito que o maior problema hoje é a falta de inspiração. É preciso inspirar pessoas para que elas queiram vencer na vida”.

Gestão de crise, riscos e comunicação

Dando continuidade à Dimensão de Governança do Hotel Trends ESG, Ana Paula mediou o painel Gestão de crise, riscos e comunicação sob a perspectiva ESG. No palco, marcaram presença Ana Biselli, presidente executiva da Resorts Brasil; Flávia Lorenzetti, CEO da B&B Hotels; e Gustavo Correa, diretor de Operações ESG da NAI IT.

“Nossa proposta era trazer essa representatividade para o debate com diferentes olhares. Governança não é um tema palatável, pede conformidade, rigor, gestão, monitoramento, controle, normas, legislações, compliance”, iniciou Ana Paula.

Em sua fala, a presidente executiva da Resorts Brasil contou como a entidade iniciou seu processo de governança voltado para o ESG. “Tudo começou em 2021, com a comemoração de 20 anos da associação. Olhamos para o futuro e não para trás para entender o que transformará o setor. Então, questionamos os nossos associados sobre suas ações ESG”.

As respostas dos resorts iniciaram o processo de organização da entidade sobre o tema. Com empreendimentos com diferentes níveis de maturidade, a associação acompanhou a evolução do setor nos últimos dois anos e meio.

“Não dá para construir uma agenda ESG de portas fechadas. Ouvimos os clientes corporativos, nos unimos com a Alagev e construímos nossa história juntos a partir de muitos requisitos”, explicou Ana.

Por ser uma rede global, a B&B Hotels já se beneficia das iniciativas desenvolvidas no mercado europeu, com emissões de certificações e boas práticas. Já Correa enalteceu o aumento do interesse pelo tema no setor. “Só de olhar para esse palco e para esta sala, começamos a ver que existe uma evolução na intenção de fazer ESG. Estamos falando de algo que é humano, que é se sustentar, ser sustentável”.

O papel da liderança e a força de coalizão

Para a CEO da B&B Hotels, uma das grandes dificuldades da agenda ESG é educar pessoas. “Você coloca o lixo reciclável, mas ignoram que ele está lá. É difícil criar essa conscientização para que as pessoas façam parte disso e levem para a vida”.

Segundo Ana, uma das forças de resistência dentro da Resorts Brasil vem das próprias lideranças. A executiva afirmou que a entidade vem investindo na formação de líderes como uma forma de avançar no tema. “Sentimos que ainda há lideranças que não estão comprometidas. Agora, estamos colocando esses gestores para estudar. Afinal, eles também precisam voltar para a sala de aula”.

Correa vê a necessidade dos líderes atuarem como os verdadeiros impulsionadores das causas ESG. “Liderar pelo exemplo, reforçar a importância para o negócio, mas acredito que talvez estejamos pecando na base, trazendo termos muito técnicos antes de sensibilizar a fazer o certo pelos motivos certos”.

A Resorts Brasil atua em coalizão com outras entidades, como é o caso de sua parceria com a Alagev. Ana adiantou que a ideia é trazer outras associações para o debate. “Em nosso primeiro Fórum ESG, abrimos espaço para as entidades do G20, que já atuaram conosco na política. Vamos entender onde temos sinergia e quais bandeiras vamos levantar juntos”.

“Coalizão é essencial para aprimorar. Atuamos ao lado de muitos hotéis de diferentes portes, perfil e culturas, o que nos dá uma bagagem e aprendizado. Você consegue conectar experiências e fortalecer o ecossistema, pois ESG não se faz sozinho”, concluiu Correa no Hotel Trends ESG.

(*) Crédito das fotos: Bruno Churuska/Hotelier News