Ontem (24), a partir de dados da STR, nossa reportagem mostrou que o pico da crise para a hotelaria pode passar em cinco semanas. No período, que é vivido agora, a ocupação (e a receita) dos hotéis desce para algo próximo a zero. Naturalmente, por medidas de saúde pública ou em função da queda drástica de demanda, muitas unidades pelo país paralisaram atividades. Ainda na mesma matéria, questionamos se o setor seria capaz de suportar esse tempo todo e, propositalmente, deixamos de abordar outra questão fundamental. O que pode acontecer após o olho do furacão passar?
 
Sim, projetar o futuro próximo após o pior da crise é relevante e, claro, rende uma reportagem totalmente nova. Mais uma vez, fazer o uso de dados é extremamente importante para desenhar cenários possíveis e ajudar na tomada de decisão. Com auxílio valioso da HotelInvest, o Hotelier News tenta agora apontar um horizonte possível, e usando duas praças centrais como referencial (São Paulo e Rio de Janeiro). E, veja bem, o que você lerá na sequência nada mais são do que possibilidades e, lamentavelmente, trata-se de um panorama otimista, com início de recuperação já em junho. Variáveis como eficácia no plano de contenção ao coronavírus e medidas econômicas emergenciais por parte do governo são determinantes para o desenrolar dos fatos.

Hotelaria - estudo HotelInvest_info3

Uma questão que deve passar na cabeça de todo hoteleiro é a seguinte: consigo aguentar cinco semanas com receitas limitadíssimas? Com a palavra Pedro Cypriano, Managing Partner da HotelInvest: “Enquanto os casos estiverem crescendo exponencialmente, é natural que o setor de turismo e a hotelaria continuem paralisados”, observa. “Talvez para cinco semanas haja fôlego, e com muito esforço. Vale lembrar que muitos hotéis e redes fecharam 2018 com lucro operacional reduzido, ou até mesmo com perdas. No ano passado, o mercado se recuperou bem, mas é bem provável que o caixa da maioria ainda esteja apertado”, observa.

Cypriano pondera que há ainda o pós-olho do furacão, e esse momento também é decisivo para os hotéis. “Os problemas se concentram apenas nesse período de pico? Está longe disso, porque o processo de recuperação não vai ser do dia pro outro. Vale ressaltar que há ainda muitos riscos e incertezas na mesa”, avalia. “Por isso, acredito que o processo de reabertura dos empreendimentos pode ser mais longo do que pensamos, o que levará a uma recuperação do setor de maneira gradual”, acrescenta.

Hotelaria e os dados

Então, depois da análise, vamos aos números. Segundo dados levantados pela HotelInvest, a ocupação na capital paulista vinha em crescimento no acumulado de 2020 até 11 de março, com alta de 7% frente igual período de 2019. No dia seguinte, veio o furacão: a média na cidade, que estava próxima a 62%, caiu a 8% nos últimos dias da terceira semana do mês. O indicador recuou 69 pontos percentuais, o que representa diminuição de 91% na demanda. Especificamente na semana de 16 a 22 de março, a variação negativa média foi de 82%.

Hotelaria - estudo HotelInvest_info 2Queda na 3ª semana de março foi acentuada, acelerando fechamento de hotéis

“Levando em conta que março vinha com bom desempenho até 11 de março, nossa projeção é que o mês acaba com uma ocupação média na casa de 32%. A situação aperta em abril, quando o indicador pode ficar abaixo de 5%”, observa Cypriano. A partir daí, a pergunta que fica é a seguinte: se tudo der certo, maio e junho marcam o início da melhora, mas de quanto? 

“Se pensar que a China está hoje com uma ocupação de 20%, no cenário mais otimista possível estaríamos com esse percentual em junho. Se a partir dali a expansão for de 10 pontos percentuais mensais, São Paulo fecha o ano com uma ocupação anual de 35%. E, nesses patamares, não tem como o ano não ser um desastre” completa o executivo. 

Pensando em um horizonte mais amplo, e se nos seis meses seguintes a abril a atividade hoteleira realmente ganhar o fôlego esperado e recuperar a ocupação, pode-se pensar em uma retomada mais acelerada a partir de 2021. Já um eventual retorno aos padrões de tarifa do período pré-coronavírus pode demorar um pouco mais, caso o setor não entre em guerra tarifária. Este talvez seja o principal risco para o próximo ano.

“Não há dúvida, é um momento muito difícil para a hotelaria nacional, talvez o pior da história. Agora, crises acontecem, chegam a sitações severas e depois há uma retomada. A velocidade dessa recuperação vai depender do que ocorrerá nos próximos seis meses”, comenta Cypriano. “Mais ainda, a atuação do governo é vital, e não para o crescimento do setor, mas para a sobrevivência dos hotéis de rede e dos independentes. Muitos deles não têm acesso ao mercado de capitais e não são donos dos ativos, entre outras questões”, completa. De fato, sem auxílio governamental, muitos estão fadados à falência.

Veja as mensagens-chaves dessa reportagem abaixo. Por fim, para ter acesso ao estudo completo da HotelInvest, incluindo dados do Rio de Janeiro, acesse https://bit.ly/2xs3lCd.

(1) Queda de demanda de até 90% até a terceira semana de março: para as próximas semanas, queda se acentuará.

(2) Diária média ainda não caiu: lado positivo até o momento: sem queda de diária, o potencial de recuperação de desempenho seria mais rápido após o fim da crise.

(3) Expectativa de ocupação próxima a 35% em São Paulo e de até 45% no Rio de Janeiro na média do ano de 2020: e isso caso a recuperação se inicie em junho e cresça gradativamente (10 pontos percentuais ao mês) até dezembro.

(4) Possibilidade do desempenho voltar a patamares de 2019 no início de 2021: caso o setor inicie a recuperação nos próximos seis meses.

(5) Fechamento de diversos hotéis é inevitável em curto prazo: nos próximos dois meses a ocupação deve ficar próxima a 5%. Muitos hotéis fecharão temporariamente como estratégia de minimização de perdas.

(6) Apoio governamental ao longo de 2020 é fundamental para a solvência do parque hoteleiro nacional: sem auxílio, muitos hotéis devem ir à falência e pode colapsar o sistema de viagens em todo o país, com desdobramentos sérios a toda a economia.

(*) Crédito da capa: Vinicius Medeiros/Hotelier News

(**) Crédito das infográficos: HotelInvest