A ICF (Intenção de Consumo das Famílias), medida mensalmente pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), registrou uma leve queda de 0,1% em agosto, marcando o segundo declínio consecutivo no ano. Essa retração é atribuída principalmente ao enfraquecimento das expectativas profissionais, que recuaram 0,2%. Contudo, o impacto negativo foi suavizado por uma melhora no acesso ao crédito, que subiu 0,6%. Mesmo com a queda, o indicador alcançou 102,2 pontos, mantendo-se acima do nível de satisfação e atingindo o maior valor desde maio deste ano.

“Embora as taxas de juros continuem elevadas, a melhoria nas condições de crédito reflete um esforço para tornar o mercado mais acessível, equilibrando o controle da inadimplência com o incentivo ao consumo responsável”, afirma José Roberto Tadros, presidente da CNC.

A desaceleração no crescimento contínuo da geração de empregos contribuiu para uma redução na percepção dos consumidores sobre o emprego atual e as perspectivas profissionais em julho. No entanto, o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do mês registrou aumento no número de trabalhadores formais, com saldo líquido superior ao de junho. Isso resultou em um crescimento de 0,4% no indicador que avalia a satisfação com o emprego atual. “Apesar da visão mais otimista do cenário atual, os consumidores permanecem cautelosos quanto à evolução do mercado de trabalho”, destaca Tadros.

Melhora no crédito, apesar dos desafios

Mesmo sem redução na taxa Selic nas últimas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária), as condições de crédito mostraram-se mais favoráveis do que em períodos anteriores. As dificuldades no mercado de crédito foram evidenciadas na Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) da CNC, que revelou a necessidade dos consumidores em equilibrar seu alto endividamento com o controle da inadimplência.

Porém, o resultado de julho da Peic foi mais favorável, com diminuição no percentual de famílias sem condições de quitar suas dívidas. Esse fator também influenciou positivamente o indicador que avalia o momento para a compra de bens duráveis, uma vez que a redução da inadimplência torna o crédito mais acessível. Como esses produtos têm alto valor agregado, são fortemente impactados pelas taxas de juros.

ICF cai nas famílias de maior renda

A ICF de agosto apresentou variações entre diferentes faixas de renda. Enquanto as famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos mantiveram estabilidade, as que possuem renda acima desse valor registraram uma queda de 0,2%. A expectativa de consumo para os próximos meses também reflete essa diferença, com reduções de 0,7% entre as famílias de maior renda e de 1,1% entre as de menor renda.

“Embora as famílias de renda mais alta tenham reduzido sua intenção de consumo, as de menor renda enfrentam uma diminuição ainda maior nas expectativas de consumo, o que pode ser resultado de uma maior seletividade no crédito, favorecendo aqueles com maior capacidade de pagamento”, observa Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.

A maior diferença entre as faixas de renda ocorreu no item que avalia o acesso ao crédito. As famílias com renda abaixo de 10 salários mínimos registraram avanço de 0,7% no subindicador, enquanto as de maior renda apresentaram queda de 0,4%, sugerindo uma seletividade no crédito que beneficia principalmente as famílias de menor renda.

Intenção de consumo volta a crescer no RS

A crise climática que afetou o Rio Grande do Sul impactou severamente a ICF na região nos últimos meses. Entretanto, após três quedas mensais consecutivas, houve crescimento de 2,6% em agosto. Apesar da redução de 1,6% no subindicador que avalia a satisfação com o emprego atual, a perspectiva profissional aumentou significativamente em 17,3%, revelando expectativas positivas dos consumidores quanto à recuperação econômica do Estado.

“O aumento na perspectiva profissional indica que os consumidores estão começando a perceber sinais de recuperação econômica, o que é um bom indicativo para o futuro do consumo na região”, ressalta o economista-chefe da CNC. Embora a maioria dos indicadores tenha apresentado recuperação mensal, o único destaque positivo em comparação com agosto de 2023 foi a percepção da renda atual, que subiu 1%.

(*) Crédito da foto: Pixabay