A ICF (Intenção de Consumo das Famílias) apresentou uma redução de 0,3% em setembro, sgeundo dados da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), marcando a terceira queda mensal consecutiva. Esse recuo é resultado de uma avaliação negativa sobre as perspectivas profissionais, que caíram 0,4%, e uma diminuição de 1,3% no acesso ao crédito.

O impacto foi mais notável entre as famílias de maior renda e entre os homens, cujas expectativas em relação ao mercado de trabalho e ao consumo futuro se deterioraram. Apesar dessa retração, o índice ainda se posiciona em 103,1 pontos, acima do nível de satisfação, e alcança seu maior valor desde março de 2024, quando atingiu 104,1 pontos.

A desaceleração na geração de empregos e a incerteza econômica contribuíram para a queda de 0,4% na perspectiva profissional. Entretanto, o emprego atual apresentou um sinal de melhoria, com um aumento de 0,4% na intenção de consumo das famílias. “O saldo positivo do mercado de trabalho anima os consumidores no curto prazo, mas a cautela quanto ao futuro permanece”, diz José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac.

O Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) de julho evidenciou um aumento no número de assalariados, com um crescimento acumulado de 3,9% nos últimos 12 meses.

Por outro lado, a pressão inflacionária e as incertezas fiscais tornaram o mercado de crédito mais restritivo, levando a uma queda de 1,3% no subindicador de satisfação com o acesso a crédito. A Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), também realizada pela CNC, revelou um aumento no número de famílias com dificuldades para quitar suas dívidas em agosto, impactando negativamente a disposição para a compra de bens duráveis, que recuou 1%.

“Com o cenário mais desafiador para o crédito e o aumento da inadimplência, o mercado se tornou menos acessível, especialmente para famílias de renda mais alta, que mostram maior retração na intenção de consumo”, afirma Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.

Comportamento diferenciado por faixa de renda

A análise da intenção de consumo conforme as faixas de renda indica que as famílias com rendimento superior a 10 salários mínimos experimentaram uma queda de 0,8% em setembro. Em contraste, aquelas com renda inferior apresentaram uma diminuição de apenas 0,2%. A perspectiva de consumo sofreu uma redução mais acentuada entre as famílias de maior renda, com uma queda de 2,5%, enquanto as de menor renda observaram uma diminuição de 0,6%. No indicador de emprego atual, as famílias de maior renda registraram uma queda de 0,3%, enquanto as de menor renda mostraram um aumento de 0,8%.

“Famílias com maiores salários estão mais cautelosas em relação ao emprego e ao consumo futuro, devido à maior seletividade no crédito e à piora na confiança empresarial”, afirma Tavares. As famílias de menor renda, embora mais otimistas quanto ao emprego atual, permanecem cautelosas em relação ao futuro, com uma queda de 0,2% na perspectiva profissional.

O papel das mulheres na recuperação da intenção de consumo

Uma análise por gênero revela que as mulheres lideraram o aumento da intenção de consumo, com um crescimento anual de 1,6%, enquanto os homens apresentaram uma retração de 0,3%. No setor de trabalho, o indicador que mensura a satisfação com o emprego atual cresceu 3,3% para as mulheres, em comparação a apenas 0,3% para os homens. A perspectiva profissional também apresentou variações, com uma queda mais acentuada entre os homens, de 5,4%, enquanto as mulheres enfrentaram uma diminuição de 2,4%.

Em relação ao acesso ao crédito, as mulheres registraram uma melhora de 1,7% em comparação a setembro do ano passado, ao passo que os homens experimentaram uma queda de 0,2%. Esse fenômeno é atribuído ao aumento do número de homens enfrentando dificuldades para quitar suas dívidas, segundo a Peic, que resultou em uma diminuição de 4,2% na perspectiva de consumo entre o público masculino, em contraste com uma queda de 2,6% entre o público feminino.

“Esse cenário de maior otimismo entre as mulheres reflete um mercado de trabalho e crédito ligeiramente mais favorável para elas, enquanto os homens enfrentam maiores desafios nos próximos meses”, conclui Tavares.

(*) Crédito da foto: Pixabay