Julio Gavinho

 

Alexandre Magno (O Grande) viveu por luminosos 20 anos entre 356 a.c. e 336 a.c., período no qual conquistou de Guarulhos a Interlagos, de Caxias a Barra da Tijuca, do Pinheirinho ao Mossunguê, de Milionários a Santa Luzia. Ah, incluindo ai toda a Pérsia, o que na época já não era pouca titica não.

Sua maior estratégia era de dividir para reinar, que foi estudada e ˜manualizada” com sucesso pelo Nicolau Maquiavel, em 1547 (quase dois milênios depois). Há vasta literatura que estuda o comportamento do Alex, sua maravilhosa educação e sua coragem como líder, mas foi o Nicolau que explicou e deu orientações sobre como rachar a resistência no meio e fazer de todos, Alexandrinos – dividindo e conquistando.

Mas então porque as populações conquistadas reagiam desta forma, aceitando o conquistador? Porque aderiram ao mandos e desmandos de Alexandre e seus generais? Por habito, por admiração e porque o conquistador sabia usar as dificuldades das pequenas lideranças para lhes conceder privilégios e parcelas locais de poder. Assim nos ensina o Étienne de La Boetié, contemporâneo mas não conhecido do Maquiavel, no seu ensaio divertido chamado “Discurso da Servidão Voluntária”, disponível em PDF por ai ou na Cultura, por encomenda. Ele escorre tinta pelo papel branco e inocente deixando meio claro que a quebra de vontades e de interesses sociais só beneficia aquele que tira (o tirano) seu poder da servidão voluntária da turba. Meio assim: como não há ninguém quem represente o grupo social como um todo (falamos de uma era pré-George Sorel), é muito fácil para o líder determinar as regras de governo a seu bel prazer. 

Agora pense por aí na indústria automobilística. Imagine a associação de fabricantes de pneus, a de vidros e pára-brisas, a de motores, a de ligas e parte-se aço, etc. Considere que cada um destes lideres setoriais defende a agenda do seu grupo, tipo exigindo tarifa zero para importação de pneus recauchutados do Mexico, alíquota zero para componentes eletroeletrônicos da China, alíquota zero para componentes e peças de aço e alíquotas zero para importação de churrasqueiros argentinos (afinal, usamos muito nossos carros para ir a churrascos). Caberá ao governo, cioso da Lei Complementar 101 e de suas penalidades, negociar com o setor e: (1) pneu recauchutado, nem pensar; (2) ok para componentes chineses; (3) já importamos peças de aço da China (sempre a China…) e (4) vetado, não disposto no acordo do Mercosul. Estas são questões colocadas para provocar e divertir você com meus exageros e absurdos (ninguém daria suas melhores picanhas na mão de um argentino…) mas servem também para ilustrar o nosso atoleiro. 

O fato é que a ANFAVEA unificas todas as relações da indústria automobilística com o governo e seus agentes, sendo pacífico que a entidade responde por todos – não sendo imaginável uma associação de fabricantes de veículos populares, outra de luxo, outra de utilitários, outra de conversíveis, outra nacional e uma de importados. Está comigo aí,  lendo ainda?
Temos uma associação de operadores de receptivo, temos uma de resorts, temos uma geral de hotéis, temos um fórum de operadores hoteleiros, temos associação de agencias de viagens, temos associação de agencias de viagens corporativas, de pousadas, de desenvolvimento turístico imobiliário, de empresas aéreas, temos o nosso sindicato patronal de hotéis e etc. No fim do dia, é muito difícil definir quem de fato representa o setor de viagens e turismo perante os nossos generais Alexandrino/Bolsonarianos.

Não me cabe, não me interessa, nem ninguém me deu mandato para representar quem quer que seja mas, sou executivo do setor há mais de 3 décadas com projetos relevantes no Brasil e, todo esse esfacelamento histórico do setor de viagens turismo no Brasil, atinge-me diretamente como profissional mas também como pessoa. Sim; embora existam relatos em contrário, eu sou uma pessoa.

Precisamos eleger hoje ainda, uma única liderança que se sente na frente do ministro Paulo Guedes, abra seu caderno e cerre fileiras contra a crise: empréstimos facilitados e subsidiados ao setor, interrupção dos encargos de folha por quanto tempo dure a quarentena – incluindo depósitos de FGTS (ninguém pode ser demitido, mas apenas os salários seriam honrados), suspensão dos impostos de propriedade (IPTU) e sobre combustível (ICMS), etc e etc. Esta liderança deve ser municiada (opa!) de informações e perspectivas pelos diferentes grupos setoriais acima MAS deve lembrar que fala em nome do setor de Viagens & Turismo do Brasil. Do Brasil. União, números, prognósticos, necessidades e aspectos legais entre outras demandas devem ser a plataforma de mudança de toda uma atividade econômica. Podemos viver nestes dias de dificuldades e incertezas, uma oportunidade única para o nosso setor.

Vamos! Ainda dá tempo.

—-

Julio Gavinho é diretor na Lyon Capital Investimentos Imobiliários; professor do curso de MBA em Hotelaria de Luxo e do curso de MBA em arquitetura de luxo da Faculdade Roberto Miranda.