Acredito que muitos de nós, homens com mais de 40 (oi?) um dia olharam ao mar e viram os surfistas a surfar (ora! É isso que fazem os surfistas, pois não?) e pensaram: “um dia eu vou tentar esse negócio aí que parece muito gira!”.

Eis que passaram as ondas, passaram os surfistas e passou-se o tempo, mas o desejo, a vontade e coragem não passam. Sempre que vemos em nossas belas praias uma onda maior ou menor, vem no peito a sensação de estar na crista e a voz gritando que agora “eu vou!”. Parece que precisamos mesmo é de um empurrão, um outro grito “Vai, se não te afogas!” e se calhar, de uma massagem cardíaca no final do tubo.

Não há que se falar de esporte de miúdos e que nós, na alvorada da velhice não o podemos praticar. O que se percebe é que eram sempre os mais velhos que precisavam de socorro nas nossas paradisíacas beira-mar e, agora, não se olha mais a idade no B.I. (entrego a idade mesmo!) pois todos acabam nas clínicas, em leitos por vezes vizinhos.

Percebeste a analogia até agora? Veja bem que surfamos quando jovens ou aprendemos a surfar quando velhos, quando temos uma segunda realidade. Desta feita, velhos aprendendo na realidade dura de Nazaré (cidade de Portugal), precisam de mais quantidade e qualidade de resgate.

A realidade do nível necessário de resgate – com mais velhos do que jovens resgatados na praia, inverteu-se completamente. Os velhos hoje são mais conservadores e não se arriscam a uma grandabalda – expressão portuguesa: levar um grande caldo – que lhe rasgue os fundilhos, muito menos querem passar de massarro – gíria portuguesa de Nazaré: Howlie, o outsider, o cara de fora –  com seu fato bonito de marca e sua tábua a combinar com o chóp.

A mocidade, entretanto, é mais de vanguarda e por isso, topa a passar por mais riscos. São de tomar mais impulso a saltar no vazio, a abraçar o voo sobre as águas. São os mais jovens que, depois de um caldo (como dizemos cá no Brasil), respiram fundo, tiram as areias dos fundilhos e voltam ao mar como os grandes navegadores portugueses: “se desta vez não me fui a morte, não será nesta segunda (ou terceira) que irei-me a ela!”. Precisa ser jovem para passar desapercebido pela senhora morte, ou precisa aprender a surfar depois dos 40 anos.

Eis que este final de 2020 despertou a maldita e esta percebeu que há uma horda de pequenos e pequenas que andam a brincar consigo – e aqui termina minha analogia e faço-me direto nas letras.

São Paulo apresentou em outubro uma queda real & imediata nos casos em geral, mas principalmente nos casos de óbito. Éramos nós, os surfistas de primeira onda já entrados em anos que estávamos morrendo. Com os cuidados indicados, desaceleramos a epidemia e passamos a morrer menos, chegando então neste outubro.

O aumento significativo dos casos em pacientes mais jovens notado em SP no mês passado, não tem relevância estatística, mas é um poderoso alerta. Não é um alerta de mutação (a gripe muda 4 vezes mais rápido que o SARS-COV-2) nem de segunda onda que precisa de um longo período de calmaria nas ondas de infecção, como ensina o Dr. Sergio Cimerman do Emilio Ribas. O seu colega, Renato Grinbaum da Rede d’Or, ensinou-me que não há se falar de segunda onda – o que temos é a primeira ainda, mudando o perfil do cliente (agora mais jovem) e nos dando aquela grandabalda em assuntos de estatística e saúde pública.

O aumento da onda da doença se dá porque ficamos isolados e somos seres sociais – qual seja, a primeira oportunidade que tivermos de socializarmos, o faremos. Os jovens o fazem nos outdoors por mais vezes do que nós, surfistas de 40, que aproveitamos a frouxidão das regras para comprar um regalo, ir ao supermercado e voltar às academias! No baile funk de 30.000 pessoas não vamos pois, afinal, tanto quanto correr as grandes ondas de Nazaré, estamos velhos demais para balançar o popozão. Bom seria o verão na Europa se não estivessem livres a praias, presentes tantos surfistas e claro, tão lotados os voos.

Nós, aqui nos trópicos, devemos olhar para os happy hours, festas da firma, encontros de motociclistas, peladas comemorativas, saídas de surf etc. O vírus está ali, assando a carne, abastecendo as motos, servindo caipirinhas, enchendo a bola e preparando açaí.

Dr. Sérgio Cimerman e seus colegas pesquisadores estão de olho — e bem preocupados com dezembro. Afinal, é mês que promete, com amigos-secretos, ceias de Natal com trinta convidados e brindes de adeus ano velho da pandemia.

Só que, confraternizando assim, teremos um 2021 ano velho, com tudo de novo. Essa será uma onda difícil de pular…

Julio Gavinho é executivo da área de hotelaria com 30 anos de experiência, sócio e diretor da MTD Hospitality, diretor executivo”da Dee Participações e professor do curso de MBA em Hotelaria de Luxo e do curso de MBA em Arquitetura de Luxo da Faculdade Roberto Miranda.

(*) Crédito das fotos: divulgação/Julio Gavinho

(**) Artigo exclusivo para o Hotelier News