Uma pesquisa recente da Deloitte, publicada na Folha de São Paulo, revela que as mulheres ainda são minoria nos conselhos administrativos e cargos de CEO globalmente. Em 2023, elas ocupavam apenas 23,3% dos assentos nos conselhos, enquanto a situação é ainda mais crítica quando se trata de CEOs, com representação de apenas 6%. Na hotelaria, elas ocupam apenas 7% das posições de liderança.

Esses números, embora tenham mostrado leve aumento em relação a 2021, ainda indicam progresso insuficiente. As conselheiras cresceram 3,6% e as CEOs, apenas 1%. O relatório intitulado Mulheres no Conselho: uma perspectiva global traz dados alarmantes sobre a participação feminina nas altas esferas corporativas.

No Brasil, a pesquisa analisou 160 empresas, revelando aumento na presença feminina nos conselhos administrativos. Em 2023, havia 170 mulheres nesses cargos, incremento de 10% para 16% desde 2021. No entanto, o avanço em posições de CEO foi modesto, passando de 1,2% para 2,4% no mesmo período. O número de CFOs (chefes de setores financeiros) mulheres também aumentou em 30%.

Viviane Elias, conselheira e professora de ESG (Environmental, Social and Governance), atribui esse progresso a posicionamentos mais firmes das empresas e programas afirmativos. Contudo, ela ressalta que a jornada ainda é longa. “Esse avanço é significativo, mas muito abaixo da diversidade necessária”, reforça.

Desafios

Quando se considera a interseccionalidade, os dados são ainda mais desanimadores para mulheres negras. Segundo Viviane, o avanço de 3% pode ser celebrado por mulheres brancas, mas não reflete a realidade de todas. “Os conselhos precisam repensar suas estratégias de recrutamento, pois há muitas mulheres capacitadas que não são consideradas”, afirma.

A pesquisa sugere que, no ritmo atual, a paridade de gênero nos conselhos só será alcançada em 2038. Para CEOs, essa equidade é prevista apenas para 2111, evidenciando um cenário de desafios persistentes e a necessidade de uma mudança mais radical.

Países como Bélgica, Holanda, França, Noruega e Itália, que possuem legislação de cotas de gênero, apresentam maiores porcentagens de mulheres em conselhos. Viviane defende a diversidade em todos os processos seletivos para cadeiras de alta liderança. “Devemos ter uma diversidade equitativa, analisando currículos de homens, mulheres e pessoas negras de forma balanceada”, sugere.

Juliana Oliveira, CEO da Oliver Press, aponta o acesso como uma grande barreira para as mulheres alcançarem posições de liderança. Ela enfatiza que é necessário um esforço adicional para provar competência e alcançar o topo. “As mulheres geralmente enfrentam carreiras mais longas para chegarem ao topo”, diz.

Tanto Viviane, quanto Juliana, concordam que a intencionalidade nas contratações é crucial. “Ver avanços é bom, mas ainda há muito a melhorar, especialmente em termos de diversidade racial entre as mulheres”, finaliza Juliana, ressaltando que lideranças diversas são benéficas para as empresas.

(*) Crédito da foto: Pixabay