Segmento Mice - importânciaSetor impulsiona o chamado turismo bleisure 

Reuniões, incentivos, conferências e exposições. Eis os quatro pilares que definem o segmento Mice, que ganhou importância estratégica na hotelaria desde o recrudescimento da crise. Mais do que uma solução para combater a sazonalidade, o setor é um dos principais impulsionadores do chamado bleisure. Afinal, pesquisas mostram que o turista de negócios e de eventos gosta de esticar sua viagem para conhecer melhor o destino visitado a lazer. 

Para qualquer destino turístico, eventos resultam em uma bela injeção econômica para aqueles que os sediam. Hoje, o setor vive um bom momento no país, beneficiando uma ampla cadeia produtiva. A Renase Eventos, por exemplo, observa um crescimento anual de 15% na demanda por montagem de estandes desde 2011.  

Há 28 anos no mercado e inicialmente focada na promoção de eventos, a empresa passou a oferecer o serviço de montagem há pouco tempo – e sem nenhum arrependimento. “Isso faz com que empresas, em especial seus departamentos de Marketing, tenham um fornecedor único e consigam focar 100% na estratégia e terceirizar 100% da produção para que cuidemos dela”, destaca Rodrigo Stocco, diretor da Renase Eventos.

“Só no primeiro semestre de 2018, estamos com expectativas de fechar com cerca de 30 estandes, e mais de 2 mil metros quadrados construídos. Nossa previsão é fechar este ano com 30% de aumento em relação a 2017", comemora.

Uma boa oportunidade para conhecer melhor o segmento acontece em junho, com a realização da feira EBS (Evento Business Show). Diretor do evento, que terá um congresso totalmente dedicado ao mercado de Mice, Marcello Baranowsky acredita que a retomada da economia brasileira dará mais protagonismo para o segmento. 

"Hoje temos as maiores promotoras e organizadoras de feiras do mundo atuando no Brasil. As maiores agências de live marketing e de congressos também”, conta. “Se analisarmos a infraestrutura existente, as principais redes hoteleiras mundiais estão aqui, assim como os grandes centros de convenções são modernos, com boa estrutura", enumera.

Em comparação com ano passado, a EBS já 80 empresas compradoras confirmadas. "A proposta é trazer para o centro das discussões um panorama geral do segmento, com dados atualizados do mercado. Também vamos discutir o papel dos profissionais, dos protagonistas responsáveis por fazer a cadeia produtiva girar", diz Baranowsky.

Mice: números

De acordo com o Rio Convention & Visitors Bureau (Rio CVB), o Rio de Janeiro possui 194 eventos confirmados até 2027. Somente em 2018, os encontros programados representam uma injeção de US$ 664 milhões na economia do estado. A entidade informa ainda que, até o momento, 300 mil pessoas visitaram o destino para eventos de negócios e a expectativa é elevar este número para 840 mil até o fim do ano.

Eric Boulanger, responsável pela área de Congressos e Eventos do Rio CVB, não titubeia ao mencionar o impacto positivo do segmento Mice. "É um agente de desenvolvimento econômico enorme. Procuramos trabalhar, por meio de eventos, o contato e relacionamento a médio e longo prazo com diversos setores que podem se beneficiar deste mercado", pontua. 

Toni Sando, presidente executivo do Visite São Paulo, ressalta como é importante o segmento Mice para divulgar e trabalhar destinos, impulsionando o número de turistas. "Isso estimula os nossos visitantes a realizarem os quatros fatores do turismo: comer, dormir, comprar e visitar. Ele incentiva um bom turismo", afirma. 

Hotelaria e Mice

Segundo dados fornecidos pelo Rio CVB, dos 268 eventos que aconteceram em 2017 na capital fluminense, 46% foram sediados em hotéis. O percentual obtido pela hotelaria foi 16 pontos percentuais superior ao alcançado pelos centros de convenções da cidade.

Aline: segmento Mice incrementa a receita do hotel

O Rio de Janeiro é apenas um exemplo disso. Hoje, as principais redes hoteleiras investem em nível nacional na construção de centros de convenções de médio e grande porte para surfar na onda do segmento Mice, que gera receita não só para o segmento de eventos dos hotéis, mas também hospedagem e A&B (Alimentos & Bebidas).  

Aline Biondillo, gerente de Vendas do Nobile Suites Congonhas, em São Paulo, destaca como o Mice se tornou um forte impulsor dos negócios do empreendimento. "Vemos os eventos como um incremento da nossa receita. Com eles ocorrendo em nosso hotel, temos um aumento de 20% em nossa receita", diz executiva. "No ano passado, investimos R$ 250 mil em um retrofit dos nossos espaços corporativos, com troca de enxoval, novo parceiro de tecnologia e aparelhos. Como vemos nos resultados, isso nos fortaleceu", completa. 

O empreendimento fica próximo ao São Paulo Expo, que sedia eventos de grande porte na capital paulista, caso do Sirha, de gastronomia. Aline pontua que essa proximidade causa significativos impactos para a diária média de seu hotel. "A minha diária média mensal gira em torno de R$ 250. Com as feiras, esse valor ultrapassa R$ 320. É um importante incremento em nosso faturamento", explica. 

Como crescer?

O que falta para o segmento crescer ainda mais? No Rio de Janeiro, Boulanger pontua três pontos que devem fortalecer o segmento Mice no estado. "Temos que ampliar e diversificar os setores da economia com eventos captados. Além disso, é importante trabalharmos na capacitação de agentes e operadores de viagens. Eles são atores relevantes na indústria, pois atuam na venda do turismo e têm o papel de apresentar o que melhor temos a oferecer", avalia.

Sando: união do Poder Público e iniciativa privada é vital

Baranowsky reconhece que, por mais que haja profissionais extremamente versáteis e criativos, características fundamentais para quem atua no segmento Mice, o empresário do setor ainda esbarra em gargalos estruturais. “A carga tributária é muito elevada e a burocracia atrapalha muito. Os empresários são obrigados a 'matar um dragão' todos os dias", brinca.

"Profissionais que atuam neste mercado devem ser mais participativos. Precisam entender que networking é fundamental. É importante que haja mais conscientização da importância de investir tempo para estar presente em outros eventos para receber e compartilhar conhecimento", aconselha Baranowsky.

Já Sando acredita que, para fortalecer ainda mais o segmento, faz-se necessário um maior alinhamento entre o Poder Público e a iniciativa privada, além de investimento no mercado. "O México, por exemplo, estimula o Mice e aposta intensamente nisso. Então, estamos tratando de uma indústria que trabalha com qualidade para melhor conhecimento, relacionamento. A indústria precisa estimular o desejo e interesse" finaliza.

(*) Crédito da foto: 12019/Pixabay

(**) Crédito da foto: Felipe Lima/ Hotelier News

(***) Crédito da foto: Arquivos Hotelier News