Excelência hoteleira tende a ficar em segundo plano caso
o País não consiga suprir a demanda dos mundiais esportivos
(foto: 111northridge.com)

 
Quando um setor se baliza em especulações e “achismos” voláteis comuns aos brasileiros, inclusive quando a indústria em questão é a hoteleira, é comum que se acabe tropeçando em incertezas ou na ausência de competência para tratar determinados temas com precisão. É o que aconteceu por esses dias, quando do anúncio da Pesquisa de Serviços de Hospedagem 2011, mensurada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) a pedido do MTur (Ministério do Turismo).
 
Com novos dados à mão, ficou tangível a debilidade do País quanto ao mercado de hospitalidade em alguns quesitos. Não que outros estudos não fossem feitos no setor, pelo contrário, eles existem, porém são produzidos comumente por consultorias privadas que, vez ou outra, especula-se, têm algum interesse econômico em metamorfosear ou manter no obscurantismo os números e, dessa forma, angariar novos clientes e influenciar empresas a tomar determinadas medidas. A conta não poderia ser outra: resultados díspares.
 
A resolução, neste sentido, foi um estudo que segue na contramão do que está posto e, à primeira estância, atemoriza quanto à capacidade hoteleira do País. Todas as 27 capitais brasileiras têm estrutura para hospedar, juntas, 554.427 pessoas, segundo o IBGE, levando em consideração, sublinhe-se, todos os leitos duplos e individuais existentes no País – inclusive de motéis. A expectativa é que as terras tupiniquins abriguem, durante a Copa do Mundo, de 500 a 600 mil turistas – o que, em parte, parece ser páreo para o montante hoteleiro.
 
O que fica como interrogação são os meios de se viabilizar isso, uma vez que se fala em 12 cidades-sede – e não em 27 capitais. O ponto, por mais que seja, não é só esse, uma vez que os mundiais esportivos representam coisa de um mês de evento e, de fato, não há sentido para que a rede hoteleira se rearticule completamente embasada somente neste quesito, há de se frisar o paradoxo.
 
E aí mais uma enxurrada de perguntas desagua quando se perscruta algumas minúcias. Ponderou-se, por exemplo, que quatro capitais brasileiras concentram 40% dos leitos de hotéis – o que pode vir a ser um problema quando se pensa novamente no mundial; balizando que os 12 municípios que receberão o evento, pretensamente, deverão atender em partes iguais os turistas, o que não vai ocorrer nem no melhor dos mundos.
 
O encalço de problemas, com latência manifesta, figura nas duas cidades de maior relevância econômica do País: as capitais fluminense e paulista. De um lado, São Paulo, que vai receber a abertura do mundial de futebol, tem um número de leitos que corresponde a 19,3% da capacidade total da rede hoteleira. Já o Rio de Janeiro, que vai receber a final da Copa e sediar sozinha os Jogos Olímpicos de 2016, a tragédia tem maior forma, uma vez que o município congrega 67.536 camas disponíveis – em contraste com as 200 mil pessoas cadastradas entre imprensa, atletas, voluntários e organizadores das Olimpíadas. Claro, as mais de 17 mil camas da Vila Olímpica vão minguar estes dividendos hospedando parte dos envolvidos, mas ainda assim não será suficiente.
 
A extravagância dos números se eleva mais quando se menciona que os apontamentos do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos não consideram os turistas que devem vir à capital que tem insígnia de maravilhosa – mas que tende a simbolizar, com estes números, um antônimo do adjetivo que a apelida.
 
O posicionamento de algumas associações privadas do setor, a exemplo do argumento da ABIH-RJ (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro), é que nenhuma das cidades têm seu parque hoteleiro dimensionado e, para tanto, cidades vizinhas tendem a suprir o gap. A FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação) também defende que somente há déficit de leitos em Cuiabá e Manaus, contrariando o material do copiosamente chamado de acendrado IBGE.
 
Fato é que o imbróglio fez soar o alarme também para a hotelaria quanto aos mundiais esportivos, deixando escancarado o simulacro dos números que vinham sendo apresentados. Comumente, o setor, por meio de seus representantes, sinalizava que não havia riscos quanto ao número de leitos e que o percalço residia somente na mobilidade aérea e rodoviária.
 
Some-se a isto o fato de que, após os eventos, caso o setor se rearticule e consiga atender à demanda dos mundiais expandindo seus leitos, o mercado hoteleiro pode sofrer com uma superoferta – o que vem sendo monitorado e pontuado periodicamente pelo Fohb (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil) em parceria com o Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), por meio do Placar da Hotelaria 2015, para prevenir tal lapso.
 
O paradoxo está posto e, frente à situação agora desnudada com os números do IBGE, vai ser preciso, à sorrelfa, fazer muito uso do jeitinho brasileiro para não perder a visibilidade internacional que, nos últimos anos, se alavancou em relação ao Brasil. De pouco adianta ser o dono da bola se você não dispõe de campo e astúcia para jogar com ela.