(imagem: envolverde.com.br) 

O queixo coletivo do mercado hoteleiro caiu por esta última semana em decorrência de uma medida que há muito estava anunciada. Não é original o debate de que as tarifas de hotéis no Rio de Janeiro têm suscitado comentários pejorativos e, na última quinta-feira (17), o assunto voltou à baila quando da resolução do governo federal pressionando os meios de hospedagem a reduzirem os preços para a Rio+20 (Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável), evento que corre entre os dias 20 e 22 de junho.
A miopia galopante que vinha alentando a postura da vista grossa teve de se ausentar. Todos sabiam que os preços estavam num tom elevado, mas o discurso uníssono era o de que havia demanda para tanto. E aí o resumo é simples: os hotéis terão que reduzir as diárias entre 25 a 60% em relação ao que vinha sendo praticado; os valores já pagos terão de ser ressarcidos aos visitantes; será proibida a venda de pacotes com mínimo de dias, como vinha sendo feito; e a Terramar, agência operadora do evento selecionada em licitação, abriu mão da comissão cobrada de delegações estrangeiras, o que representava coisa de 25% dos preços.
Ora, não seria digno e profissional que o setor se articulasse e cobrasse, quando do início desta história, uma tarifa média que trouxesse lucro maior às empresas, tendo como base até mesmo o Revenue Management, mas que não soasse como uma afronta aos visitantes? Isso, pondera-se, devia estar posto até mesmo nos contratos iniciais traçados entre o Estado e a agência que comercializa os pacotes.
Ressalte-se que o Rio de Janeiro, apesar de ter preços equiparados às mais importantes capitais do mundo, não oferece infraestrutura urbana, segurança e outras contrapartidas comuns a essas outras metrópoles. Mais pelejas.
Especula-se que a ação veio em meios contrários e, após o cancelamento da vinda de algumas delegações estrangeiras e os holofotes da imprensa, o Estado pôs a mão na consciência e percebeu que precisava usar o freio de mão. Um pouco tarde, diga-se de passagem.
Quanto aos hoteleiros, por essas linhas mesmo já se discutiu que dar o troco com altas tarifas, no sentido de retomar os lucros que o mercado hoteleiro do País perdeu em épocas de crises passadas, seria infantilidade e oportunismo que, unidos, acentuariam problemas como o estigma de um País pra lá de caro. É por isso que tais políticas do setor, de alvo em aparência certeiro, precisam se reformular e mirar além do curto prazo.
No balanço final, a hotelaria carioca, imagina-se, vai lucrar algo perto do que faria se mantivesse as tarifas exorbitantes e, em contrapartida, não ocupasse todos os seus leitos. Isso, por assim dizer, seria melhor mesmo para os hotéis – que não teriam suas operações comprometidas com o excesso de turistas. Agora, com a pressão feita pelo governo federal e a subtração dos preços, provavelmente a conta será a mesma, porém muitos colaboradores terão de ser envolvidos para que o excesso de hóspedes não venha a atrapalhar o funcionamento dos meios de hospedagem.
Se se pensar um mínimo que seja, a presença de mais visitantes internacionais tende a alavancar ainda mais a imagem do País e fazer girar o mercado local. Isto é bom para a indústria hoteleira ou qualquer outro segmento. O que soa dúbio aí é que a postura da indústria da hospitalidade, quando do início deste empasse, já deixava claro para o estrangeiro a ação oportunista e pouco madura cujo intento único e exclusivo era o de fazer cifras.
Tal posicionamento, vale lembrar, soa como uma farpa que não se pode tirar com uma pinça e está incrustada na parte mais grossa da sola do pé. Evitar isso seria passo importante para um segmento que há anos tricota seu profissionalismo. Mas agora já foi.