Alexandre Gehlen

A eleição de Jair Bolsonaro, ainda que festejada pelo mercado financeiro, muito por conta da credibilidade que o futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, desfruta nos círculos empresariais, não tranquilizou completamente boa parte da população. O comércio pré-Natal segue morno e investimentos ainda são contidos. Acompanha-se com certa apreensão cada passo do novo governo, que até o presente momento tem-se mantido totalmente coerente com as propostas feitas durante as eleições. As menções do novo presidente sobre o turismo animaram sobremaneira empresários do setor.

Vale lembrar, igualmente, como bem disse o economista Ricardo Amorim, durante o Fórum Nacional de Hotelaria, promovido pelo FOHB – Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, no último dia 4 de setembro, que dados históricos apontam para uma retomada sustentável e certa da economia. Longe de ser um exercício de futurologia, trata-se de um otimismo amparado em números e tendências justificados por teorias econômétricas. Só uma guinada ilógica poderia impedir tal recuperação. Algo que a nova gestão do país sinalizou que não fará.

Tal fato é facilmente observável nos estudos que nossa entidade tem feito. Houve forte recuperação nas taxas de ocupação nos últimos dois anos. Tendência que tem forte chances de continuar nos próximos trimestres. As diárias médias, no entanto, sofreram queda de aproximadamente 35% se comparada ao momento de início da crise em 2015. Tal fato é explicado pelo cenário recessivo que nossa indústria enfrentou nos últimos anos – queda significativa do PIB e aumento de oferta — forçando a redução das tarifas, sobretudo na hotelaria midscale.

Tal queda, consequentemente, comprimiu as margens de GOP, que, de acordo com o estudo “Hotelaria em Números” da JLL, no ano de 2012 a média foi em torno de 40% e em 2017 esse número caiu para patamares de 20%.

Além de sacrificar o retorno aos investidores, as tarifas baixas colocam em risco o fluxo de caixa dos empreendimentos hoteleiros e dificultam novos investimentos e novas contratações.

A promessa de destravamento do mercado por meio de políticas mais liberais na economia nacional, a maturidade do papel do yield management que completa mais de 15 anos no Brasil, a crescente distribuição via canais eletrônicos — através de sites próprios, GDS e OTAs — e a contribuição das mídias sociais na promoção de destinos e hotéis podem ajudar na recomposição tarifária.

É preciso aproveitar o crescimento na ocupação dos hotéis para resgatar as justas tarifas das diárias. Inflação, dissídios sacrificaram os resultados dos hotéis e podem colocar em risco a sobrevivência de vários empreendimentos. Já passou da hora de assegurar sua recuperação. Trata-se de justiça para um segmento que bravamente tem se mantido de pé, apesar de tantas circunstâncias adversas. É preciso recuperar o fôlego. Para o bem do hoteleiro, da indústria, e sobretudo do hóspede que não espera encontrar um produto defasado ou degradado em sua próxima viagem.

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Alexandre Gehlen é presidente do FOHB (Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil) para o triênio 2018-2020. O executivo é Diretor geral e sócio da ICH Administração de Hotéis, que opera as marcas Intercity, Yoo2 e hi!

(*) Crédito da foto: divulgação/FOHB e FreePhotos/Pixabay