Alexandre Sampaio: As incertezas do Carnaval carioca
14 de janeiro de 2019Alexandre Sampaio
Toda municipalidade no Brasil afora, por mais dificuldades que tenha no equilíbrio das contas públicas, procura comemorar suas datas marcantes. Seja o da fundação da cidade ou outros dias e períodos festivos, que, transcendendo o impacto local, repercute na economia da região. Quando falamos das capitais e em estados com vertente turística, tais eventos ganham dimensão nacional, gerando recursos, empregando pessoas, propiciando novos negócios e influenciando positivamente a economia.
Réveillon e Carnaval do Rio de Janeiro se encaixam perfeitamente nessa categoria, pois têm percepção nacional e internacional, atraem turistas de todos os cantos do país e visitantes internacionais. A virada do ano no Rio já foi estressante para o trade carioca, com shows de artistas confirmados nos últimos dias de 2018, palco único na praia, espetáculo pirotécnico reduzido, em suma, muita correria, improviso e falta de planejamento para atrair patrocinadores, dado que o governo municipal alegava não ter recursos para fazer frente aos gastos imaginados. Apesar de tudo, os hotéis lotaram, os restaurantes ficaram cheios, os atrativos turísticos ‘bombaram’, gerando muito ISS e outros tributos indiretos para os entes governamentais.
Entretanto, o prefeito do Rio se esquece – e os órgãos responsáveis, como a Riotur não conseguem fazer ver ao alcaide – que essas datas são um ativo imaterial dos cariocas e responsáveis por grande arrecadação de impostos na alta temporada local.
Estamos nos aproximando dos festejos de Momo e até agora a Prefeitura do Rio não liberou os R$ 500 mil (que já foram R$ 1,5 milhão) para cada escola de samba preparar seu desfile. Palco maior da festa, o Sambódromo está abandonado, vilipendiado, depredado, sem condições de receber os carnavalescos, apesar da Liesa, associação que reúne as agremiações carnavalescas, já estar vendendo ingressos, frisas e camarotes.
O carnaval de rua, que se tornou, como em outras cidades brasileiras, um grande atrativo para turistas, está ameaçado na sua grandiosidade por falta de coordenação e diálogo entre as partes, devido ao imobilismo da empresa municipal de turismo, que deveria intermediar as exigências do Ministério Público, Corpo de Bombeiros e autoridades de segurança, numa grande mediação, que gerasse até um Termo de Ajuste e Conduta para salvaguardar interesses díspares entre moradores dos trajetos dos blocos, trânsito e resguardo dos foliões.
Na realidade, o prefeito do Rio não gosta de carnaval. Esse é um direito dele, é claro. Mas não compreender a importância do evento para a cidade e o Brasil na geração de recursos e na consolidação de um destino mundial é incompreensível.
A alegação de outras prioridades sociais não se sustenta. Saúde, segurança, educação e transporte fazem parte do escopo de governo e não serão alguns dias de lazer que vão comprometer os cofres municipais. Faltam governança e avaliação de custo benefício. Esperamos que esses impasses se resolvam nos próximos dias, pois o imobilismo e a omissão podem comprometer de vez o pouco de bom que temos no Rio de Janeiro em matéria de festas maiores, na verdade, as únicas que são perenes no calendário carioca.
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Empresário com mais de 30 anos de atuação no mercado hoteleiro do Rio de Janeiro, Alexandre Sampaio é presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), diretor da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) e presidente do Conselho de Turismo da mesma CNC. Também é responsável pelo cb54 (Comitê Brasileiro de Normalização em Turismo da ABNT) e membro do conselho gestor do SindRio (Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro).
(*) Crédito da foto: MonicaVolpin/Pixabay