Alexandre Sampaio

Toda municipalidade no Brasil afora, por mais dificuldades que tenha no equilíbrio das contas públicas, procura comemorar suas datas marcantes. Seja o da fundação da cidade ou outros dias e períodos festivos, que, transcendendo o impacto local, repercute na economia da região. Quando falamos das capitais e em estados com vertente turística, tais eventos ganham dimensão nacional, gerando recursos, empregando pessoas, propiciando novos negócios e influenciando positivamente a economia.

Réveillon e Carnaval do Rio de Janeiro se encaixam perfeitamente nessa categoria, pois têm percepção nacional e internacional, atraem turistas de todos os cantos do país e visitantes internacionais. A virada do ano no Rio já foi estressante para o trade carioca, com shows de artistas confirmados nos últimos dias de 2018, palco único na praia, espetáculo pirotécnico reduzido, em suma, muita correria, improviso e falta de planejamento para atrair patrocinadores, dado que o governo municipal alegava não ter recursos para fazer frente aos gastos imaginados. Apesar de tudo, os hotéis lotaram, os restaurantes ficaram cheios, os atrativos turísticos ‘bombaram’, gerando muito ISS e outros tributos indiretos para os entes governamentais.

Entretanto, o prefeito do Rio se esquece – e os órgãos responsáveis, como a Riotur não conseguem fazer ver ao alcaide – que essas datas são um ativo imaterial dos cariocas e responsáveis por grande arrecadação de impostos na alta temporada local.

Estamos nos aproximando dos festejos de Momo e até agora a Prefeitura do Rio não liberou os R$ 500 mil (que já foram R$ 1,5 milhão) para cada escola de samba preparar seu desfile. Palco maior da festa, o Sambódromo está abandonado, vilipendiado, depredado, sem condições de receber os carnavalescos, apesar da Liesa, associação que reúne as agremiações carnavalescas, já estar vendendo ingressos, frisas e camarotes.

O carnaval de rua, que se tornou, como em outras cidades brasileiras, um grande atrativo para turistas, está ameaçado na sua grandiosidade por falta de coordenação e diálogo entre as partes, devido ao imobilismo da empresa municipal de turismo, que deveria intermediar as exigências do Ministério Público, Corpo de Bombeiros e autoridades de segurança, numa grande mediação, que gerasse até um Termo de Ajuste e Conduta para salvaguardar interesses díspares entre moradores dos trajetos dos blocos, trânsito e resguardo dos foliões.

Na realidade, o prefeito do Rio não gosta de carnaval. Esse é um direito dele, é claro. Mas não compreender a importância do evento para a cidade e o Brasil na geração de recursos e na consolidação de um destino mundial é incompreensível.

A alegação de outras prioridades sociais não se sustenta. Saúde, segurança, educação e transporte fazem parte do escopo de governo e não serão alguns dias de lazer que vão comprometer os cofres municipais. Faltam governança e avaliação de custo benefício. Esperamos que esses impasses se resolvam nos próximos dias, pois o imobilismo e a omissão podem comprometer de vez o pouco de bom que temos no Rio de Janeiro em matéria de festas maiores, na verdade, as únicas que são perenes no calendário carioca.

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Empresário com mais de 30 anos de atuação no mercado hoteleiro do Rio de Janeiro, Alexandre Sampaio é presidente da FBHA (Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação), diretor da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) e presidente do Conselho de Turismo da mesma CNC. Também é responsável pelo cb54 (Comitê Brasileiro de Normalização em Turismo da ABNT) e membro do conselho gestor do SindRio (Sindicato de Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro).

(*) Crédito da foto: MonicaVolpin/Pixabay