Sem eventos esportivos, o colapso já é
fato no dia-a-dia dos aeroportos brasileiros
(foto: avantis.edu.br)
Temeroso de que as obras de expansão e melhoria dos aeroportos brasileiros não sejam concluídas a tempo para os eventos esportivos dos próximos anos, o governo federal finalmente resolveu dividir a responsabilidade da infraestrutura entregando, sob regime de concessão, a construção e gestão de alguns terminais aeroviários à iniciativa privada. A princípio as licitações serão para Guarulhos, Brasília, Campinas, Confins e Galeão. Ainda não há pormenores de como serão feitos os contratos, e por isso é cedo para dizer se o modelo será ou não atrativo às empresas.
 
É triste, mas ameaça de vexame já estava dada desde a escolha do Brasil para sediar os mundiais esportivos. Nas últimas semanas, o estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) fez cair por terra o discurso de que com os investimentos da ordem de R$ 5,6 bilhões o problema seria sanado. A questão não é mais financeira.
 
Não é de hoje que toda a sociedade vem alarmando que a lentidão, a burocracia e o jogo de interesse político já colocaram em risco os megaeventos – e, por conseguinte, o turismo brasileiro e a qualidade de vida dos milhões passageiros que necessitam dos aeroportos. Cancelamentos de voos, filas catastróficas, funcionários que não sabem lidar com o público e estão despreparados, sinalização confusa nos terminais, passageiros mal acomodados, tumulto nos guichês de atendimento, falta de informações e uma repetição de problemas de toda ordem põem a nu as deficiências da gestão aeroportuária no País. Ingredientes de um bolo que, juntos, dão constipação até mesmo nos turistas de estômago mais forte – principalmente nos que tem por referência a qualidade da infraestrutura de outras nações.
 
O colapso está aí – e são sombrias as perspectivas de salvação. Há um mínimo holofote de luz para a imagem do turismo brasileiro no que tange à hotelaria, haja vista os muitos estudos já publicados por associações que têm um trabalho fidedigno – e que demonstram que o parque hoteleiro até tem capacidade para atender, sem muitos atropelos, o número a mais de visitantes que as cidades vão receber.
 
O presidente da ABIH-SP (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo) afirmou na última semana que se a Copa fosse hoje não haveria problemas na capital paulista por conta dos 42 mil apartamentos e 105 leitos que o município dispõe. A conclusão não é mero discurso, diferente do que se vê com a Infraero, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e as empresas aéreas, que repetidamente ocupam o noticiário com explicações evasivas e anúncios de providências que quase nunca ocorrem. No entanto, é necessário dizer que a hotelaria precisa sim de ajustes em algumas cidades, nada irrealizável. A própria São Paulo tem condições de abrigar os turistas no mês futebolístico, contudo sem que haja qualquer outro evento que usufrua da hotelaria – já que a capital paulista vive quase um apagão por falta de quartos no meio da semana devido ao grande número de hóspedes de negócios.
 
Olhando o cenário e o posicionamento da presidente Dilma Rousseff ao assumir a necessidade de se gerir os aeroportos num sistema misto com a iniciativa privada, fica um fio de esperança que pode ser confirmado assim que as licitações mostrarem se é ou não viável tal modelo. Já é sinal de amadurecimento – e até de ironia – ver o Partido dos Trabalhadores deixar de lado o ranço ideológico ao privatizar parte do único setor da economia ainda sob controle estatal.
 
A privatização, ainda que rechaçada, assegurou o crescimento de inúmeros setores. Quem sabe esta não é a fórmula? Uma fórmula que pode dar certo, mas para a Copa de 2018. Recorde-se, para citar baixo, que a demanda doméstica aumenta à razão de 10% ao ano – o que já anuncia o caos sem falar dos megaeventos. A burocracia também é entrave, sugando qualquer coisa que precise ser feita às pressas – leia-se, por exemplo, o cálculo feito pelo Ipea apontando que apenas a licença de instalação, uma das três exigidas pelo Ibama para que uma obra possa ser iniciada, demora 38 meses em média para ser concedida. Antes tarde do que nunca para os aeroportos, todavia, mesmo que tudo corra como se espera, a questão foi por muito tempo postergada. Já não há mais tempo.