(imagem: gerenciadehoteles.com)
 
Panorama da Hotelaria Paulistana – Balanço do 1º Semestre de 2011 e Perspectivas para 2012, apresentado na última semana pela SPTuris (São Paulo Turismo), destoa do momento político no qual a indústria do turismo nacional experimenta.
 
Não é o caso de afirmar que os números – copiosamente positivos – não saltam aos olhos ou ainda que o recorte feito na cidade de São Paulo seja sinônimo do setor em toda a federação. Todavia, a maré de crescimento se fez tangível no estudo – a exemplo da ocupação média dos hotéis, condensada em 69,3% no semestre, o maior índice dos últimos seis anos; a diária média subiu 15%, atingindo a casa dos R$ 236,06; o ISS (Imposto Sobre Serviços) na atividade turística quase dobrou nos últimos seis anos: de R$ 41,2 milhões, em 2005, o número saltou para R$ 94,8 milhões em 2011.
 
Ainda que apenas uma cidade em meio às outras 26 capitais, o município mais populoso do País é também o maior no mercado hoteleiro. Daí a importância e a lamentação em se constatar que num cenário tão prolífero a gestão política federal do turismo dá passos incertos e que podem ofuscar o momento de jactância.
 
É deste desenho positivo que o MTur (Ministério do Turismo) obtém rabiscos opalescentes que mínguam as resvaladas administrativas da pasta. Citando somente este final de semana, os holofotes da imprensa se voltaram ao número um do Ministério, Pedro Novais, ainda que de forma dúbia – para o bem e para o mal – por mais de uma vez. E por ora pode-se constatar que não há bons resultados que se sustentem neste plano.
 
O nome do mandatário foi novamente levantado, desta vez por liberar no ano passado, à época no cargo de deputado federal, R$ 1 milhão para a construção de uma ponte em Barra do Corda, cidade 450 km ao sul de São Luís, Maranhão, beneficiando um município sem nenhuma vocação turística e uma empreiteira fantasma, com sede num conjunto habitacional na periferia da capital maranhense. Ele se defendeu dizendo entender que o turismo poderia ajudar a cidade a garantir melhor qualidade de vida à população local.
 
Em contrapartida, o ministro exonerou, na sexta-feira (19), quatro servidores investigados na Operação Voucher da Polícia Federal. Todos eles – Antônio dos Santos Júnior, Freda Azevedo Dias, Kátia Terezinha Patrício da Silva e Kérima Silva Carvalho – tinham cargos comissionados no ministério. Foi a sua ação de equilíbrio frente à acusação.
 
É preciso situar que Pedro Novais está sim levando uma cruz que perdura de outras gestões. Porém, independente de sua articulação neste sentido, há problemas que ora correspondem à sua gestão e ora à de seus antecessores. O propósito maior neste cenário é que o Ministério tem se enfraquecido, e, ao que tudo indica, se a desenvoltura de escândalos continuar a mesma, a atividade turística brasileira tende a perder o vigor constituído.
 
Num breve recordando, o atual ministro coleciona escândalos das mais diversas estirpes. É acusado por pagar contas num motel com dinheiro público – mesmo ele tendo devolvido o valor. No início de sua função, mostrava baixíssima desenvoltura com a atividade, chegando a definir o setor como: “Fazer um check-up no Incor, hospedar-se no Fasano e ver a Bienal é turismo”. Viabilizou para a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), uma verba de R$ 20 milhões para financiar uma das promessas da campanha da aliada – projeto este sem ligação direta com a atividade turística.
 
Some-se a isso a instabilidade recente com a PF (Polícia Federal): mais de 35 pessoas presas na Operação Voucher, entre funcionários do MTur e da empresa acusada de facilitar o desvio de R$ 4 milhões destinados à capacitação profissional. No mais, o ex-número dois da pasta, Frederico Silva da Costa, também detido na operação, pediu afastamento do cargo logo após Novais defendê-lo em depoimento à Câmara dos Deputados.
 
No limite, o ministro assinou apenas um ato oficial nos mais de sete meses à frente do MTur: a portaria de regulamentação da Classificação Hoteleira, o SBClass (Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem), projeto que engatinhava desde a gestão do antecessor de Novais, Luiz Barretto. Tocou os projetos de capacitação que vinham sendo desenvolvidos e, após as denúncias da PF, pediu a instauração de uma Comissão de PAD (Procedimento Administrativo Disciplinar) para apurar as possíveis irregularidades no convênio firmado entre o Ministério e o Ibrasi (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento de Infraestrutura Sustentável), empresa investigada na Operação Voucher.
 
É nesta diáspora que o turismo tem se desenrolado num momento tão favorável, nunca dantes visto no Brasil. Os escândalos seguem de mãos dadas à ebulição e ao desenho de uma atividade que deveria estar arraigada entre os maiores mercados do País. Não há setor que se sustente, seja com crescimento de diária média ou de percentuais de ocupação, sem que o nome primeiro deste segmento se mantenha em seu posto. Viva o jargão do “não se pode ter tudo”.