A fachada da primeira unidade internacional
da rede, o Bourbon Conmebol

(fotos: Thais Queiroz)
 
Há cerca de um ano e meio, a rede nacional de hotéis Bourbon deu o primeiro passo para a realização de um sonho: expandir a marca para outros mercados.
 
A concretização do projeto, idealizado pela família Vezozzo, donos e presidentes da marca Bourbon, começou com o fechamento do contrato de 25 anos com a Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol) para administrar o hotel que leva o nome da rede em Assunção, no Paraguai.
 
O empreendimento, de categoria Convention, localizado a cerca de 10 minutos do aeroporto, tem anexo o Conmebol Convention Center – que leva o título de maior centro de convenções de Assunção. Sua estrutura contempla área de exposição de 3,5 mil m² e três espaços para eventos com capacidade para atender até 3 mil pessoas simultaneamente.
 
A inauguração, ocorrida em setembro deste ano, se fez em sistema de soft open. Porém, no último sábado (3), o hotel completou e comemorou três meses de operações numa festa que contou com cerca de 200 pessoas entre colaboradores e convidados.
 
O centro de convenções e museu da
Conmebol
à esquerda e o hotel à direita
 
Na visão dos executivos da rede, a capital paraguaia, cuja economia se encontra em pleno desenvolvimento, tem muito a oferecer. Eles afirmam que a região se tornou rota de turnês de shows internacionais, assim como tem recebido importantes reuniões com autoridades mundiais. Isso teria feito com que Assunção começasse a ganhar destaque no Mercosul – até mesmo por conta de sua localização estratégica: o país fica a duas horas e meia de centros financeiros da região, como São Paulo, Buenos Aires, Lima, Santiago e Montevidéu.
 
Apesar de o foco inicial ser a capital Assunção, a Bourbon não dispensa a possibilidade de expandir a rede no país em cidades como Saltos Del Guairá, Encarnacion e Pedro Juan Caballero.
 
O Hôtelier News viajou a Assunção e entrevistou Francisco Calvo, diretor Regional, e Luiz Fernando Macedo, gerente geral da unidade, que fizeram uma reflexão sobre o novo empreendimento, o mercado local e as oportunidades que o Paraguai tem a oferecer.
 
Por Thais Queiroz*

 
 
O diretor Regional da Bourbon fala sobre
a pesquisa de mercado feita pela rede

 
Francisco Calvo: A rede está num programa de expansão já há alguns anos. Temos adotado a estratégia de não só construir mas também administrar hotéis. Dentro disso, nós entendemos que a internacionalização não é só uma questão de fronteiras, mas que geograficamente nós estamos, neste caso, trabalhando um destino que está a 340 km de Foz do Iguaçu. Além disso, ele está dentro da nossa área natural de influência – voltada ao turismo corporativo e ao turismo de eventos e convenções. Neste caso, também podemos divulgar o destino para o turismo de lazer para os paranaenses, paulistas e cariocas, pois são as três cidades que têm voos diretos para Assunção e a Bourbon conta com empreendimentos voltados para negócios nelas: o Bourbon Residence Rio de Janeiro, os três hotéis em São Paulo [Alphaville, Atibaia e Ibirapuera], e o Bourbon Curitiba.
 
Nossa ida ao exterior mantém um raio de influência que está mais perto de Curitiba – cerca de 1,1 mil km – do que poderia estar a abertura de um hotel em São Luiz (MA). Então, posso dizer que estamos numa área que nos permite supervisar, implantar e comercializar dentro do nosso entorno de influência.
 
Isso é uma confirmação da história da rede. Nós fomos o primeiro Resort no destino Cataratas do Iguaçu, há 38 anos. Naquele momento, quando só havia hotéis na cidade, muitos nos perguntaram o porquê de um resort em Foz do Iguaçu. Há seis ou sete anos abrimos o Bourbon Atibaia, um projeto que a rede começou há 20 anos. À época pensamos: estamos a 60 minutos de São Paulo, Campinas, do Vale do Paraíba e do Sul de Minas. Quando construímos um hotel de 572 apartamentos e o maior centro de convenções do Brasil, nos fizeram a mesma pergunta. E esta é a mesma lógica que nos traz a Assunção com um centro de convenções.
 
 O lobby recebe iluminação natural em dias ensolarados. A decoração deixa o ambiente aconchegante e intimista
 

O diretor Regional revela que a empresa vem conduzindo essa negociação há cerca de cinco anos. Dentro das atividades iniciais, foram feitos estudos de mercado da capital Assunção, da economia paraguaia e do perfil de pessoas que poderiam se hospedar no hotel.
 
“O que estava faltando era um hotel com o jeito brasileiro de hospedar”

Francisco Calvo: A realidade atual nos mostrou que a demanda por leitos em Assunção supera a oferta e que havia espaço para um empreendimento como este. Identificamos também oportunidades de negócios: em cada 10 brasileiros que vão ao Paraguai, apenas dois vêm a Assunção. Existe todo um crescimento em potencial do ingresso de brasileiros neste país, considerando que o Brasil é hoje a segunda nacionalidade que mais visita o Paraguai. A Argentina, com um quinto da nossa população, tem hoje o dobro de entradas. É visível que Assunção é uma capital em pleno crescimento econômico.
 
Para nós, o Paraguai é hoje sinônimo de oportunidade. Temos mais de 50 empresas brasileiras estabelecidas neste país em diversos ramos de produção e tecnologia. O que estava faltando nesta vertente era um hotel com o jeito brasileiro de hospedar.
 
Hoje, o Brasil se transformou num exportador de turistas e de executivos que saem do País a negócios. E nós entendemos que para estas pessoas falta uma referência em que elas se sintam tão bem recebidas como em seu país. É fato que o brasileiro viaja mais do que antes e que ele sente falta do nosso jeito de hospedar.
 
A Bourbon, enquanto empresa brasileira, vê a oportunidade de trazer um aumento de demanda por visitas a esta cidade, localizada no centro do Mercosul. Ela está há duas horas e meia das principais capitais: Montevidéu, Buenos Aires, São Paulo – vamos considerar a capital econômica do Brasil -, Santiago, Lima e La Paz. Automaticamente, há espaço para eventos do Mercosul, associados a encontros da economia sul-americana. Não é necessário um deslocamento tão grande: nem para as pessoas no Pacífico, nem para a área do Atlântico.
 
Nós estamos acostumados a ver o Paraguai como uma cidade de fronteira, a região de Cidade do Leste. E a Bourbon se sente muito confortável, neste aspecto, porque somos parte do destino Cidade do Leste. Nós temos uma unidade em Foz do Iguaçu. Mas o Paraguai é muito mais, é um país que está completando 200 anos de independência, é o quarto maior produtor de soja do mundo – depois de Brasil, Argentina e Estados Unidos -, e é o nono produtor de carne. Este é um país que desde o fim do regime militar passa por processos de estabilização política e econômica que passaram outros países do continente.
 
 
Luiz Fernando Macedo e Francisco Calvo
 
A escolha da Bourbon
Há quatro anos, a Conmebol abriu licitação em que várias empresas hoteleiras participaram e que terminou há cerca de um ano e meio. Segundo Calvo, alguns fatores foram determinantes para a escolha da Bourbon: o know-how com convenções, a implantação de conceitos da rede e a presença constante de diretores e gerentes que acompanham de perto os resultados do hotel.
 
Francisco Calvo: Nós devemos recordar sempre que este hotel, com 168 apartamentos, está diretamente relacionado ao maior centro de convenções do país e que nós operamos estas duas faces do empreendimento. Esta expertise foi um dos elementos fundamentais. Outro fator importante é que a empresa tem um rosto visível e presente em todas as decisões: que é a família Vezozzo.
 
Sobre a implementação do hotel, nós abrimos outra empresa que se chama Bourbon Hospitalidade. Esta é uma empresa aberta no exterior que respeita as políticas deste país e padrões da economia local, sem deixar de seguir os conceitos da rede. Desde o primeiro momento trouxemos uma equipe para cá. Temos equipe de gerência para parte de Cozinha, para o Comercial e para a Hospedagem. Queremos que os funcionários sejam todos paraguaios, porém treinados por nós e que conheçam o jeito de trabalhar com treinamentos feitos em nossas unidades no Brasil. Nós trouxemos o gerente geral Fernando Macedo, que vem trabalhando na Bourbon há três anos e meio.
 
É um privilégio ter a Conmebol, uma empresa ligada ao mercado do futebol, como parceira. É um momento histórico ver uma associação de futebol destinar parte de seus fundos a um empreendimento como este – que marcará o antes e o depois no país na captação de eventos. Por outro lado, a Bourbon também é muito ligada ao futebol. Temos orgulho de ter recebido a Seleção Brasileira por 45 dias no Bourbon Cataratas, em 1999, durante a Copa América do Paraguai. Já o Bourbon Atibaia é disputado por diversas equipes para fazer a pré-temporada. Lá temos uma estrutura de campo e alimentação adequados, preservamos a intimidade e o conforto dos atletas. É um privilégio tê-los – a Conmebol – como parceiros. Nós gostamos de futebol.
 
O gerente geral da unidade Conmebol se diz orgulhoso
dos resultados atingidos em tão pouco tempo
 
Bourbon Conmebol a todo vapor
O gerente geral afirma que o balanço do hotel é muito bom nestes três primeiros meses. Aparentemente, a relação é tranquila entre gerentes brasileiros e colaboradores operacionais paraguaios. No portfólio de eventos, estão celebridades que passaram pelo país, como os integrantes do Black Eyed Peas e Aerosmith, chefes de Estado e autoridades da Conmebol.
Luiz Fernando Macedo: O departamento de Vendas começou a divulgar o destino Paraguai há mais de um ano. Também já somos membros do Convention Bureau de Assunção. A Bourbon marcou presença em feiras e eventos relevantes nos principais destinos da América do Sul – levando o nome desta unidade. Com os eventos que recebemos nestes três meses, já conseguimos perceber o retorno dos esforços feitos pelas equipes envolvidas.
 
O hotel recebeu recentemente um grupo com 15 chefes de Estado do Uruguai, México, Argentina e Espanha. Depois disto, muitas empresas passaram a nos procurar para realizar encontros. Este é o tipo de negócio que hotéis com décadas de funcionamento ainda não conseguem receber. Nos próximos meses, teremos confraternizações, um congresso de produtores de leite da América do Sul e uma convenção universitária. A tendência é que estes eventos ligados ao Mercosul aumentem e que passem por Assunção.
 
Tenho também que agradecer à minha equipe. Os colaboradores paraguaios são pessoas muito simples, que admiram o Brasil, e por isso possuem grande vontade de aprender. Na época de recrutamento recebemos, de forma espontânea, mais de mil currículos. Todos os aprovados na seleção passaram por treinamentos em unidades da Bourbon no Brasil. Além disso, é constante a ida de gerentes e chefs à unidade de Assunção para avaliar e orientar, ou até mesmo treinar, as equipes. Nós investimos muito em Recursos Humanos. Investir em móveis e acabamento é mais fácil do que em pessoas. Isso significa estar ao lado delas, conhecer as necessidades, trabalhar junto, formar e capacitar. Estes são nossos principais objetivos.
 
Serviço
 
* A repórter do Hôtelier News viajou a Assunção a convite da rede Bourbon.