Por Claudio Schapochnik

O paulistano Ricardo Alcoba Machado, de 26 anos, trocou São Paulo por Miami em busca de melhores oportunidades de trabalho. Tecnólogo em hotelaria pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo da Universidade de Caxias do Sul (RS), Machado iniciou a carreira no hotel Sol Bienal, da rede Sol Meliá, onde trabalhou por três anos como recepcionista noturno, auditor noturno e supervisor de recepção. Durante esse período, fez estágio nos setores de reservas e contas a receber.
Em 2000, foi transferido para o hotel Meliá Confort Itaim, recém inaugurado, onde ficou um pouco mais de um ano como chefe de recepção. Em meados de 2001, ele mudou-se com a esposa para os Estados Unidos. Machado trabalha no Albion South Beach e Wyndham Miami Beach Resort. Nesta entrevista, feita via e-mail, o profissional fala sobre a hotelaria no país e dá uma dica para quem quer trabalhar no Exterior: ?esteja preparado para se adaptar as leis e costumes locais ? não queira que eles se adaptem a você?.

Ricardo Machado

Hôtelier News: Por que você quis mudar para os Estados Unidos?

Ricardo Alcoba Machado: Pensava em mudar para os Estados Unidos desde que me formei na faculdade, mas estava esperando o meu visto ficar pronto. A decisão final foi feita em conjunto com minha esposa. Estávamos buscando melhores oportunidades e uma vida mais tranqüila fora de São Paulo.

Wyndham Miami Beach Resort

HN: Em quais hotéis você trabalha e quais são os cargos?

Machado: Atualmente trabalho em dois hotéis. O Wyndham Miami Beach Resort, um hotel tradicional localizado na praia. Possui 424 apartamentos e amplo espaço para convenções. Este hotel tem como público-alvo os turistas que fogem do frio do norte do país durante o inverno (alta temporada) e festas, casamentos e convenções no verão (baixa temporada).
Comecei neste hotel em abril como recepcionista e em junho já estava como supervisor de turno. Hoje trabalho à noite com a equipe de auditoria noturna.

O outro hotel, bem menor, é o Albion South Beach localizado em South Beach ? uma região que foi revitalizada nos últimos anos e que hoje concentra a maioria dos restaurantes, casas noturnas e galerias de arte. É um hotel com 96 apartamentos e de administração familiar.

Este hotel tem como público-alvo as agências de modelos que atuam na cidade fotografando catálogos de moda. No verão, o movimento também é menor e baseia-se no turismo interno. Trabalho à noite como auditor, mas apenas duas vezes por semana.


Apartamento do Wyndham Miami Beach

HN: Como é a hotelaria norte-americana?

Machado: Cheguei em Miami em agosto de 2001 e em setembro ocorreram os atentados terroristas. Nessa época ainda não estava trabalhando em hotéis, mas posso dizer que hoje a ocupação já se recuperou.
No Wyndham, uma rede grande com uma equipe de vendas forte, a ocupação média se mantém acima dos 60%, mesmo na baixa temporada; e acima dos 80% na alta temporada.
A diária média não é mais tão alta quanto era a dois ou três anos atrás, mas o hotel esta sempre cheio, o que garante empregos e movimenta a economia como um todo. Na parte de serviços e qualidade de atendimento, no Brasil estamos melhores. O atendimento aqui não é dos 100%, e em geral o público latino reclama da frieza com que é atendido, mas isto parece ser um aspecto cultural que não vai ser mudado da noite para o dia.

 

Piscina do Wyndham Miami Beach Resort

HN: Comparando a hotelaria norte-americana com a brasileira, qual a análise que você faz?

Machado: Estou trabalhando em um segmento completamente diferente. Em São Paulo, os hotéis em que trabalhei eram voltados para o público executivo, com ocupação de segunda a sexta-feira. Aqui trabalho em hotéis de lazer, com alta ocupação nos finais de semana.

O que me chamou a atenção mesmo é o tratamento dos funcionários, embora não existam leis que garantem os benefícios de seguro saúde, vale transporte ou férias. Os funcionários da recepção e reservas ganham incentivos cada vez que o hotel fecha a 100%, comissões por walk-ins e upgrades, o que com certeza aumenta a produtividade, a ocupação e a diária média. Os funcionários da governança também têm seus incentivos, além disso, vendas são comissionadas.

Outro aspecto é o incentivo do turismo local. Não é raro recebermos nos finais de semana hóspedes que residem na cidade, além de vários funcionários, pois é bem menos burocrático e barato para os funcionários se hospedarem.
Como um exemplo, no Wyndham, a tarifa para funcionários é de US$ 25 por dia e tem 50% de desconto em A&B e no estacionamento, o que faz grande o numero de funcionários que passa as férias nos hotéis da rede.

Albion South Beach

HN: Há muitos brasileiros trabalhando na hotelaria de Miami?

Machado: Não conheço muitos. No meu hotel somos três, a gerente de Vendas que é nascida no Brasil, mas criada nos Estados Unidos, um manobrista também nascido no Brasil, mas que já se naturalizou norte-americano, e eu.

Apartamento do Albion South Beach

HN: Que conselho que você dá para quem é hoteleiro e quer trabalhar no Exterior?Machado: Primeiro pratique bem o inglês, o idioma é fundamental quando se quer sair dos cargos iniciais para outros gerenciais. Esteja preparado para começar de novo, trabalhar duro; e principalmente, esteja preparado para se adaptar as leis e costumes locais ? não queira que eles se adaptem a você.


Lobby do Albion South Beach