Origami, sashimi, tempurá, sayonará, arigatô, judô, kamikaze, sushi, hashi, futon. Essas palavras, muita gente já conhece. Outras, como Kasato Maru – o navio que trouxe os primeiros japoneses para terras brasileiras -, começam a fazer sentido e a soar menos estranhas aos ouvidos brasileiros em 2008.

 

Em homenagem ao centenário da imigração japonesa no Brasil, celebrado nesta quarta (18), o Hôtelier News vai publicar uma série de reportagens especiais que abordam o lado oriental na hotelaria nacional.

 

De números de turistas japoneses no Brasil a serviços em meios de hospedagem voltados para este público, passando por colaboradores nipo-descendentes ou que falem japonês nos hotéis brasileiros, in loco num hotel voltado para executivos japoneses, entrevistas e uma volta pela Liberdade, bairro tradicionalmente marcado pela colônia japonesa, vamos dar um panorama geral da hotelaria nipo-brasileira. Para começar a série, trazemos números ligados ao turismo deste povo no nosso país.

 

Por Chris Kokubo
 
No dia 18 de junho de 1908 o Kasato Maru aportou em Santos trazendo os 781 primeiros imigrantes para a lavoura cafeeira

(foto: Museu Histórico da Imigração Japonesa – 40anos.nikkeybrasil.com.br)
 

São Paulo tem hoje a maior comunidade de descendentes de japoneses fora do Japão. Segundo o Centro de Estudos Nipo-Brasileiros há no destino aproximadamente 1,5 milhão de japoneses e descendentes, sendo que 75% deles estão no estado de São Paulo – 40% na Grande São Paulo – e 15% no Paraná.

 

Por outro lado, de acordo com dados do Ministério da Justiça do Japão, em 2006 havia 313 mil nipo-brasileiros trabalhando no país asiático – os dekasseguis -, principalmente em atividades do setor industrial. A ida de brasileiros descendentes de japoneses ao país de seus antepassados em busca de melhores condições de trabalho intensificou-se na década de 90. Não é difícil encontrar algum descendente no Brasil que não tenha algum parente ou amigo dando duro em fábricas no outro lado do mundo.

 

As atividades comemorativas do centenário começaram a ser organizadas em setembro de 2003, com a criação da Associação para Comemoração do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil (ACCIJB). Afinal, japonês que se preze não deixa nada para a última hora. A entidade vem preparando, nesses cinco anos, uma série de ações para festejar os 100 anos da imigração.
 

 
 
A programação da Semana da Cultura Japonesa vai até
às 21h de domingo (22) no Anhembi. Vale a pena conferir
(fotos: Chris Kokubo)

Desde o início de 2008 temos visto manifestações que vão ao encontro destes 100 anos. De exposições a desfiles de moda e concurso de Miss Centenário, de capa de revistas das mais variadas a festivais gastronômicos e programas na TV, a agenda está ainda mais rica durante a Semana da Cultura Japonesa, que teve início sexta passada (13) e segue até domingo (22) no Anhembi, em São Paulo.


Investimento 
O Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) vem investindo pesado no mercado japonês. Em setembro do ano passado, Jeanine Pires, presidente do órgão, esteve em Tóquio com a então Ministra do Turismo, Marta Suplicy, para promover o turismo brasileiro no mercado asiático. Os objetivos eram prospectar novos investidores e parceiros e estreitar relações com o trade do país.
 
Cataratas do Iguaçu, um dos pontos mais visitados
pelos turistas japoneses no Brasil
(foto: ecodestino.com.br)

 

Além dos US$ 800 mil investidos para promoção brasileira no Japão somente durante o ano de 2007, a Embratur iniciou em outubro o treinamento online Agente de Viagem Especialista em Brasil no mercado japonês, a fim de reforçar destinos tradicionalmente visitados pelos orientais, como Foz do Iguaçu, Manaus e São Paulo, consolidar novos, como Lençóis Maranhenses, e estabelecer um canal de comunicação permanente e direto com os agentes do turismo da nação asiática.

 

Em 2005, os quatro países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) deram início ao Projeto de Promoção Turística do Mercosul no Japão em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica, da sigla em inglês). Antes da atuação do escritório, o Mercosul recebia 81,1 mil turistas japoneses por ano e o objetivo era atrair ao menos 100 mil. Já em 2006 a meta foi superada com a chegada de 100.108 turistas.

A primeira fase do projeto, de 2005 a 2007, foi financiada pela Jica, responsável pela implantação do Escritório de Promoção Turística do Mercosul no Japão (JPMO), em Tóquio. A segunda etapa, bancada pelos ministérios do turismo de cada país, e com início em janeiro de 2008, prevê o fortalecimento da colaboração regional entre os países do Mercosul e a continuidade dos projetos de promoção.

 
Edição de setembro de 2007 do Brazi Day
em Tóquio
, no Parque Yoyogi
(foto: ipcdigital.com)

 

O Brasil é apresentado ao público japonês em eventos direcionados a turistas, agentes de viagens e operadores japoneses. Os destinos voltados para a cultura e o ecoturismo são os mais divulgados, por serem a principal atração para o mercado local. Outra ação que teve presença do Ministério do Turismo foi o Brazil Day em Tóquio, que recebeu 15 mil pessoas, 70% delas japonesas.

 

A cada ano o Brasil recebe um número maior de visitantes do país. Segundo a Embratur, em 2003, foram 51.387. No ano seguinte, 60.806. Em 2005, 68.066, e em 2006, 74.638 turistas – os números de 2007 ainda não foram divulgados – o que remete a um crescimento médio anual de 14% nos últimos quatro anos.

 
Em São Paulo
Pensando nas comemorações do centenário, a ABIH-SP distribuiu para as operadoras e agências de turismo do Japão informativos com dados sobre hotéis que oferecem serviços voltados a esse público em São Paulo, bem como publicações com atrativos que possam lhes interessar, incluindo karaokês, restaurantes, clubes de baseball e gateball. Além disso, a associação apóia os jogos esportivos em comemoração à imigração, cuja etapa de atletismo teve abertura oficial no sábado (14) no Conjunto Desportivo do Ibirapuera.
 
Prática de gateball – uma espécie de críquete
japonês – no Nippon Country Club, em Arujá (SP)
(foto: nipponclub.com.br)
 
“São Paulo recebe regularmente um vôo do Japão por dia, que geralmente traz dekasseguis. Com as atividades do centenário, do dia 15 ao dia 22 teremos quatro vôos diários que trarão principalmente japoneses. Assim como fizemos com o trade no Japão, distribuímos para a Secretaria de Turismo de São Paulo, para as agências de receptivo e para os nossos hotéis associados, uma relação com possíveis pontos de interesse desse público”, afirma Bruno Omori, diretor executivo da ABIH-SP.

 

Atualmente o turista japonês é o que mais gera lucratividade para o país visitado. Ele tem gasto médio em torno de US$ 200 por dia (os norte-americanos, segundo maior mercado emissor para o Brasil, para se ter uma idéia, gastam US$ 138) e permanece cerca de 13 dias viajando. Os visitantes japoneses foram responsáveis, em 2005, pela entrada de US$ 234 milhões nos países do Mercosul e em 2007, a estimativa é que 20 milhões destes turistas tenham viajado ao exterior.


Homenagem 
Recentemente o MTur e o Instituto Rosa Okubo assinaram uma parceria para entregar, a partir de setembro, de 100 a 200 medalhas de honra ao mérito a pessoas que se destacaram na contribuição para o relacionamento entre Brasil e Japão durante os últimos 100 anos. Outra ação do Ministério, dessa vez em parceria com a Associação para a Comemoração do Centenário do Intercâmbio Cultural Brasil-Japão, é a capacitação de guias que falem japonês no Brasil. O projeto está em viabilização.
 
Marta Suplicy, então ministra do Turismo, com Etsuo Kuwabara e Mário Kuwabara, filha e neto de Rosa Okubo, na assinatura da parceria para a entrega de medalhas de honra ao mérito
(foto: Chris Kokubo)

 

Turista
Quem viaja ao Japão precisa de visto de turista e o mesmo vale para os japoneses que vêm ao Brasil. Se um japonês quisesse voar hoje (18) de Tóquio a São Paulo, pagaria por volta de US$ 1.949 (passagem mais barata, com uma escala). Já um brasileiro, para fazer o trajeto contrário, desembolsaria cerca de US$ 2.190. Ambos os valores apenas para o trecho de ida.
 
“O turismo representa somente 6% do Pib japonês. É muito pouco. Na Austrália, um terço das universidades oferecem cursos de Turismo e Hospitalidade. No Japão, esse índice não chega a um quinto. Observamos que, de 50 em 50 anos o setor sofre um boom. O último foi há cerca de 48 anos, no início da década de 60, quando a criação do avião Jumbo possibilitou que mais pessoas viajassem. Em 2010, o Japão vai chegar ao pico de aposentados e é importante preparar bem o terreno para opções voltadas à terceira idade. É preciso incorporar o turismo e a hospitalidade como disciplinas nas universidades japonesas e aumentar o intercâmbio com o Brasil. Muito japonês ainda fica surpreso ao saber que a maior comunidade nipônica do mundo fica em terras brasileiras”, afirmou Hizo Takenaka, ex-ministro de Política Econômica do Japão, no sábado (14) de manhã durante a abertura do Simpósio Brasil-Japão, no Anhembi sobre a importância do turismo na economia do país.
 
Para os amantes, admiradores ou curiosos sobre a cultura japonesa, ainda dá tempo de prestigiar alguns desses inúmeros eventos programados até o final de semana e conhecer um pouco mais desta nação que já está tão presente no nosso dia-a-dia brasileiro. Na cidade de São Paulo, por exemplo, há mais restaurantes japoneses do que churrascarias. Isso porque brasileiro se diz um amante de carne. Precisa dizer algo mais?

 

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