Skyline fascinante de Cingapura 

Diz a lenda que Cingapura foi assim nomeada por um príncipe indonésio que, no século XIV, caçava na ilha e afirmou ter avistado um leão – as palavras simha e pura, em sânscrito, significam respectivamente, leão e cidade. Embora não seja provável que estes animais habitavam a região, a história permanece e se perpetua por conta do símbolo desta cidade-Estado: o Merilon, uma animal com cabeça de leão e corpo de peixe.

Tal qual a figura mítica que a representa, também Cingapura é uma miscigenação, explicada por sua história. O território, ilha que está instalada ao Sul da Malásia, já era conhecida dos habitantes da região desde o século XI. Sua localização estratégica fez com que, apesar de governada por reis locais, fosse ponto de encontro e comércio entre os exploradores do globo àquela época, como os chineses, portugueses e árabes.

A cidade entra, no entanto, na história ocidental quando, no século XIX, é fundada oficialmente por Sir Thomas Stamford Raffles. O britânico era tenente-governador na Ásia e atentou-se para a necessidade de estabelecer um porto na região – as políticas de free trade dali logo atraíram mercantes da Ásia, Oriente Médio e até dos Estados Unidos. A abertura do Canal de Suez, ligando o mar Mediterrâneo ao mar Vemelho, em 1869, contribuiu para o desenvolvimento do porto e da cidade.

Uma pausa em sua prosperidade foi feita em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, quando Cingapura caiu sob o domínio japonês, permanecendo assim até o fim da guerra. No ano seguinte, 1946, tornou-se Colônia da Coroa Britânica, mas a Inglaterra abriu mão deste seu território em 1959. Na década seguinte, o primeiro ministro eleito de Cingapura buscou uma união com a Malásia, mas a tentativda foi frustrada e gerou greves e prostestos por parte da população local. Em 9 de agosto de 1965, a cidade-Estado torna-se, finalmente, independente.

Quase 50 anos depois, foi em um destino moderno, desenvolvido e um dos ícones financeiros do Oriente que a reportagem do Hôtelier News desembarcou para uma visita. Limpa, arborizada e organizada – esta foi a primeira e duradoura impressão. Cingapura é uma cidade que encanta, principalmente pela miscegenação das culturas asiáticas no destino, provendo ao turista diversas opções culturais e gastronômicas, e hotéis com serviço e infraestrutura de alta qualidade. Mesmo sendo apontada como uma das cidades mais caras do mundo, é possível que o brasileiro, acostumado com o alto custo de vida de São Paulo e Rio de Janeiro, não perceba esta distinção econômica. Para quem busca um destino para compras principalmente de produtos de marcas internacionais, a localidade não é a mais atrativa, perdendo para os outlets da América do Norte. Mas, em se tratando de produtos asiáticos, como roupas de seda e itens fabricados na região, o negócio pode ser mais interessante.

Vale a pena lembrar que Cingapura é um hub interessante para conhecer outros destinos próximos como Kuala Lumpur, Bali, Hong Kong e Bancoc.

Por Juliana Bellegard e Peter Kutuchian*

O Merilon, meio leão e meio peixe, é o símbolo da cidade

A cidade
Atualmente, Cingapura é casa de 5 milhões de pessoas das mais diferentes origens – a principal comunidade é a chinesa, mas há também malasianos, indianos e europeus. O mesmo acontece com a religião – embora haja uma maioria hindu, há muçulmanos, budistas e católicos convivendo na cidade. A confluência destas culturas faz de Cingapura um destino único e plural, e a influência de cada uma delas pode ser percebida nos diferentes bairros que preservam sua origem e alguns costumes dos imigrantes.

Por fim, o destino tem quatro línguas oficiais e os estrageiros podem ficar tranquilos porque o inglês é uma delas. Quem busca uma cidade cosmopolita vai sentir-se à vontade ali, onde tradição e modernidade convivem lado a lado. Às margens da baía Marina, está o distrito financeiro de Cingapura, onde estão sedes asiáticas de grandes bancos e empresas multinacionais. Lojas e modernos restaurantes estão instalados em vias conhecidas como a Orchard Road e às margens do rio Cingapura, na área de Clarke Quay.

Projetos grandiosos e com design de ponta compõe a skyline da cidade. Grande exemplo disso é o complexo Marina Bay Sands, que inclui um hotel de três torres, um centro de convenções que acomoda até 45 mil pessoas e um salão para 6.600 convidados em formato de banquete; shopping com 300 lojas, incluindo marcas como Bvlgari, Gucci, Versace e outros ícones de luxo; mais de 60 restaurantes, incluindo seis “celebrity chefs”; o museu ArtScience e dois teatros que somam 4 mil lugares. A própria Orchard Road destaca-se pelo visual moderno de suas lojas, e o entorno da baía é recortado por altos prédios iluminados das mais diferentes maneiras possíveis. Mas o primeiro contato do turista com a modernidade de Cingapura dá-se já no Aeroporto Internacional de Changi – reformado recentemente e hoje o sexto aeroporto mais movimentado do mundo.

O turismo é uma fatia importante do PIB local, uma vez que o país não produz qualquer matéria prima e vive essencialmente de comércio e serviços. Entre os principais mercados emissores estão os quase vizinhos Indonésia, China e Austrália, além da Inglaterra. A temporada de cruzeiros, com início em setembro, também é um período profícuo para o destino, que recebe quase 500 navios por temporada. O projeto do terminal marítimo atualmente em desenvolvimento é um investimento conjunto entre Cingapura e Barcelona (Espanha) neste nicho de turismo. 

Gardens by the Bay
Além do Marina Bay Sands, outro projeto ambicioso e que hoje faz parte dos cartões-postais de Cingapura é o Gardens by the Bay. Também instalado na região da baía, o parque tem mais de 100 hectares e abriga as Super Árvores artificiais que têm em média 22 metros, são feitas em concreto e metal e interligadas por passarelas altas. Além disso, o complexo acomoda duas grandes estufas – o Flowers Dome e a Cloud Forest -, espaços abertos ao público que exibem plantas de diferentes partes do planeta, criando microclimas próprios.

O local onde o parque está instalado integra uma extensa área que costumava ser mar e foi convertida em terra para a "ampliação" da cidade. O projeto do Gardens by the Bay começou a ser desenvolvido em 2006 e a construção, no ano seguinte, demandando um investimento de US$ 1 bilhão. O espaço foi aberto ao público em 2011 e, hoje, demanda US$ 58 milhões para sua manutenção.

O complexo todo conta com os dois domos ecológicos; as árvores; o Heritage Garden, que explica a influência das plantas nas diferentes culturas locais; o World of Plants e o Dragonfly Lake; uma área infantil; restaurantes, incluindo uma praça de alimentação beirando a água; e espaços para eventos. 

Gastronomia
Parte intrínseca de qualquer cultura, a gastronomia é uma atração à parte em Cingapura. A miscigenação de sua população também está traduzida no que se põe à mesa, com influências chinesa, indiana, malaia, muçulmana e a tradicional cozinha Pernakan – referente aos imigrantes chineses que se instalaram na ilha, assim como da Indonésia. Estas especiarias estão disponíveis tanto nas tradicionais praças de alimentação da cidade quanto em restaurantes de médio porte e os de alta gastronomia, e é possível escolher a opção que mais cabe no seu estômago e no seu bolso.

Sendo uma cidade cosmopolita, Cingapura também atende quem prefere a opção "segura" de uma gastronomia internacional – além dos restaurantes de influência europeia, muitos dos estabelecimentos que ficam dentro dos hotéis oferece uma vasta gama de opções para agradar todos os turistas. Os shoppings também são ótimas opções para quem busca variedade gastronômica.

Há, no entanto, alguns pratos típicos de Cingapura que vale a pena experimentar: o Chili Crab, um grande caranguejo servido com molho a base de tomate e chili, feitos com alho e vinagre; e os satays, espetinhos de carne ou frango feitos com molho agridoce de amendoim. Para sobremesa, há os mooncakes – se for a temporada do Festival Chinês da Lua, que tem início em setembro – ou o Cendol, feito de raspas de gelo, leite de coco, geleia de pandan, e pode ser complementado com sorvete e até feijões vermelhos. 

Passeios
Quem vai à Cingapura a lazer o a negócios pode aproveitar muito mais do que o centro da cidade: a ilha conta com alguns passeios "externos". Em visita ao destino, a reportagem do Hôtelier News fez dois destes passeios: pelo zoológico local e o South East Asia Aquarium, instalado no Resorts World Sentosa, na ilha de Sentosa.

O Singapore Zoo está instalado em uma área de 28 hectares que integra o complexo Wildlife Reserves Singapore – onde estão outras atrações dedicadas à natureza e os animais. Ambientado em uma área de floresta tropical, o zoológico conta com mais de 2.500 animais de mais de 300 espécies diferentes – do urso polar aos famigerados leões, passando por morcegos e lêmures que ficam em um espaço aberto para interação com o público.

A reserva está na porção central da ilha e o acesso pode ser feito de carro ou por meio dos transportes oferecidos na cidade – o Singapore Attractions Express, que passa em alguns hotéis e pontos centrais; e o Safari Gate, que sai do shopping Suntec e da Singapore Flyer, a famosa roda gigante. Já o South East Asia Aquarium é uma das inúmeras atrações do complexo da ilha de Sentosa – que também conta com o Universal Studios Singapore, a Sentosa 4D Adventureland, entre muitas outras atrações; além de bares, restaurantes e shoppings. O aquário remonta ambientes como o mar Vemelho, as águas quentes do Golfo Pérsico e o mar do Sul da China. Ali estão mais de 800 espécies de animais marinhos, incluindo tubarões, moréias, arraias, entre outros gigantes.

A Ilha de Sentosa fica a aproximadamente dez minutos do centro de Cingapura, e o acesso mais fácil é feito por automóvel – você vai precisar deslocar-se lá dentro. Ainda sim, é possível chegar de trem, pelo Sentosa Express, e circular pelo complexo com as três linhas de ônibus disponíveis e um trem. 

National Museum of Singapore
Quem se interessar por conhecer mais sobre a complexa história de Cingapura, de suas origens orientais à colonização britânica e à independência, já no século XX, pode visitar o National Museum of Singapore. Instalado em um casarão colonial, foi inicialmente aberto em 1887 como museu e biblioteca nacional. Para acomodar o crescente acervo, além de uma área para exposições itinerantes, o espaço foi fechado para reformas em 2003 e, em 2006, ganhou uma nova ala, de construção moderna feita em vidro.

Ali estão itens que buscam as origens mais antigas do destino – como o fragmento de uma pedra com inscrições pré-históricas -; passando por artefatos em ouro em estilo javanês, que datam do século XVI; os primeiros daguerrótipos da cidade. Há também salas que recontam os tempos coloniais, suas glórias e seus pontos baixos, com a disseminação dos bordéis e das casas de ópio. O período de domínio japonês e as vítimas da repressão dos anos finais da Segunda Guerra Mundiais são lembrados; assim como as seguidas lutas, greves e manifestações pela independência.

Uma das seções interessantes do edifício, no entanto, celebra partes da cultura que normalmente não se vê em museus de história: há uma sala dedicada à alimentação e gastronomia, outra à constituição familiar, outra ao vestuário, e ainda uma ao cinema. Assim, o visitante tem uma visão completa do passado e presente desta sociedade tão múltipla. 

Onde ficar 
Do luxo ao design moderno, os meios de hospedagem de Cingapura são tão variados quanto seus atrativos culturais, atendendo grupos, viajantes de negócios, fanáticos por Fórmula 1 – que acontece na cidade desde 2008 -, famílias e demais turistas de lazer. Em nossa viagem, conhecemos algumas destas opções.

Entre os empreendimentos instalados na cidade, visitamos o hotel design New Majestic, em Chinatown; o Park Royal On Pickering, entre Chinatown e Clarke Quay; o Traders Hotel e o Shangri-La Singapore, ambos próximos à Orchard Road ; e o histórico Raffles Singapore, na Beach Road.

Se a ideia é hospedar-se próximo à baía, a opção mais óbvia é o Marina Bay Sands. Mas vale a pena conhecer outros empreendimentos tão bem localizados e com uma personalidade própria, como o Pan Pacific Singapore, e os "irmãos" Fullerton Hotel e Fullerton Bay.

Em Sentosa, conhecemos o gigante Shangri-La’s Rasa Sentosa Resort & Spa e o charmoso Capella Singapore

Serviço
yoursingapore.com

* A reportagem do Hôtelier News viajou a convite do Singapore Travel Bureau

** Fotos by Juliana Belegard e Peter Kutuchian