Climaco Nardi
(foto: arquivo pessoal)

Caro leitor no artigo anterior falei sobre escolhas e como estas são influenciadas por crenças. E foi a partir de uma crença que escolhi o tema para este novo artigo. 

Minha crença: “Juntos temos o potencial para criarmos uma realidade que represente novos modos de vida, novas formas de expressão e valores. Há em cada ser humano muitas maneiras de nos ligarmos uns aos outros. Valorizar o que sentimos e o que necessitamos é uma maneira para nos sensibilizarmos e reconhecermos os sentimentos e as necessidades dos outros, sendo também, uma maneira efetiva de promover proximidade e  vínculo”.

Acredito que todos nós compreendemos o que é uma necessidade, pois a experimentamos todos os dias e a todo o momento. Abraham Maslow, psicólogo americano, formatou uma teoria sobre necessidades, a classificou em hierarquias, iniciando por fisiológicas, segurança, relacionamento, autoestima e realização. Para a nossa reflexão vamos entender necessidade como algo que é essencial, importante, específico e de grande impacto em nossas vidas. Maslow que me desculpe pela simplificação.

Antes seguir com as necessidades quero diferenciá-la de desejo. Necessidade é imprescindível. Desejo é impulsivo. Necessidade é fundamentada. Desejo é inspirado. 

Desejos podem ser saciados de diferentes maneiras, por exemplo, o desejo de comer algo doce pode ser saciado com uma geleia, um bolo ou chocolate. Desejos podem ser adiados, às vezes isso até aumenta o prazer ao realizá-lo. Desejos podem ser ignorados, quando por consciência nos damos conta de sua futilidade, ou ainda, quando não temos os meios para atendê-lo. Necessidade é diferente, pois é específica, importante e essencial. Tomamos por exemplo nossa respiração: necessitamos ar e não há nada que o substitua, especificamente necessitamos de ar. Tomar ar é imprescindível para nossas vidas. Sem ar, poucos minutos separaram a vida e a morte, é essencial para a continuidade da existência .

Temos outros tipos de necessidades que estão vinculadas aos valores, que se relacionam intimamente com os sentimentos e as emoções, determinando nosso comportamento. Por exemplo a necessidade de ser reconhecido, se não atendida podemos experimentar os sentimentos de raiva e inveja, desenvolvendo emoções como a intransigência e a inescrupulosidade, atuando competitivamente e a agindo de maneira a desrespeitar  valores comuns para conseguir impor o reconhecimento. Outra possibilidade por não ser reconhecido é a autodesmotivação, que nos levaria a experimentar os sentimentos de medo e tristeza, que gerariam emoções de impotência e descrença, assim, a baixa autoestima nos levaria a um comportamento de resignação.

Como o ar, a necessidade de ser reconhecido é essencial, o que nos faz buscá-la em cada uma de nossas experiências diárias. Quando a realizamos é porque fomos ouvidos, incluídos e aceitos, nossas ideias e sentimentos foram valorizados, então, a autoestima aumenta experimentamos os sentimentos de amor e felicidade, manifestamos emoções de potência e vontade, passando a agir de maneira colaborativa e participativa, surgindo daí clareza em nossas mentes, ricas em pensamentos positivos, passamos a ter fé nas realizações humanas superiores.  

A vida que compartilhamos com nossas famílias, com os colegas de trabalho e com a comunidade é cocriada por todos nós. Das interações humanas, dos humanos com os demais seres e o meio ambiente, como resultado, manifesta-se o que chamamos realidade, que é influenciada por nossas necessidades, seja quando as atendemos ou não. Eu acredito que se compartilharmos o que necessitamos e o que sentimos iremos construir pontos de conexão e criar vínculos, pois com o entendimento que temos necessidades comuns passaríamos a atuar com propósitos alinhados, com uma comunicação franca e sentimentos mais claros. No lugar de disputas haveria colaboração. 

Para sermos melhores cocriadores sugiro o desenvolvimento da sensibilidade às nossas necessidades e sentimentos. Escolhendo um momento do dia para reflexão, nos perguntarmos qual necessidade está mais evidente hoje? Se ela foi atendida, sim ou não? O que de significativo ocorreu? Qual foi o sentimento que se apresentou? Quais foram os comportamentos que pratiquei desde minhas emoções? Se foi atendida, o que representou para você? Se não foi atendida, o que de diferente poderia ter sido feito para um resultado melhor?

Importante para este treino é ter a postura de um cientista, que investiga através dos fatos, busca entender sem julgar. Tem a idéia base do ocorrido como um fato surgido da pouca experiência ou da falta de conhecimento de como lidar com as próprias necessidades, sentimentos e emoções. Que o comportamento observado é um resultado de um equilíbrio ou de uma carência e não porque somos bons ou maus. O objetivo é a melhoria, o desenvolvimento e a realização – necessidades atendidas de maneira edificante geram impacto positivo em nós e nas pessoas envolvidas.

Algo que ocorre com o desenvolvimento de nossa sensibilidade é a inclusão das pessoas com as quais nos relacionamos, ficamos mais atentos e acolhedores. O nosso comportamento se transforma, passamos a observar através de fatos, a investigar emoções para entender comportamentos e ainda a perguntar sobre sentimentos e necessidades para realmente saber o que é importante para o outro. Seremos reconhecidos por uma legítima proximidade revelada pela presença e pela abertura, manifestando a empatia naturalmente.

Sermos empáticos é uma importante contribuição para cocriarmos uma vida de realização mútua.

Agradeço por sua leitura e até breve!

Profissional da área de desenvolvimento humano e organizacional, Climaco Nardi, atua na educação de adultos com foco em: desenvolvimento de habilidades interpessoais, construção de equipes, processos de feeedback, executive coach e life coaching. Graduado em Gestão de Recursos Humanos pela Anhembi Morumbi. Pós Graduado em Dinâmica dos Grupos pela SBDG. Pratica meditação há mais de 20 anos. Atualmente é instrutor em aulas regulares e workshops. Dedica-se ao estudo de psicologia como: Gestalt Terapia, Análise Transacional e Psicossintese. Nos últimos seis anos participa do Programa SAT (Seekers After Truth), desenvolvido pelo Dr. Claudio Naranjo como um processo para a transformação e o desenvolvimento humano.

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