Climaco Nardi
(foto: arquivo pessoal)

Falar sobre escolhas é desafiador, pois remete a crenças populares, como pau que nasce torto morre torto, e a crenças pessoais, como para conseguir as coisas na vida tem que sofrer. Desculpe-me pela simplicidade dos exemplos, mas as crenças são assim formulações simples, o que não significa que não tenham poder sobre as nossas escolhas. Pare a leitura por um momento e procure lembrar algo que você se diz com certa frequência, tanto em ocasiões em que há a autoexigência – aqueles momentos que nos autocobramos diante de uma situação – ou em uma conversa descontraída com os amigos sobre fatos corriqueiros como a política, a economia ou a violência. O que você se diz, o que você diz as pessoas?

Teve dificuldade em lembrar? Isso é comum, e eu também tive dificuldade em encontrar as minhas. Sim, temos várias crenças e para muitas situações. A dificuldade em reconhecer as crenças está no período de formação, pois se originam na infância e na pré-adolescência. Ouvimos em nossas interações com a família e com outros grupos sociais, e também recebemos pelos meios de comunicação. Silenciosamente se fixam em nossa mente, e de acordo a uma dada situação a repetimos, mesmo sem entender o seu sentido e seus efeitos. As crenças compõem o conjunto de pensamentos automáticos com os quais lidamos a todo momento – acredite, a nossa capacidade de eleger pensamento às vezes se confunde com os pensamentos que surgem espontaneamente, e muitas decisões, as conhecidas como impulsivas, são automáticas e podem gerar efeitos desagradáveis.

A crença atua como um filtro para as informações que nos chegam. Por exemplo, os preconceitos que sustentamos são crenças, então, quando atuam orientam nossas escolhas. Quando atravessamos a rua, pois em nossa direção há uma pessoa com vestimentas simples e ar ameaçador, são as nossas crenças atuando. Do ambiente profissional podemos trazer outra situação através da crença: a primeira impressão é a que fica. Às vezes sustentamos a impressão gerada no primeiro encontro com um colega de trabalho por um longo tempo, chegamos até a influenciar outras pessoas pelos comentários fazemos a partir desta mesma impressão, para então descobrirmos que isto é apenas um recorte, uma visão parcial nossa que tomamos pelo todo. 

As impressões, que são o resultado das crenças, podemos chamá-las de rótulos. No ambiente familiar, são facilmente encontradas: este meu filho é um geniozinho, mas aquele ali é um preguiçoso; meninas são mais espertas e dedicadas, já os meninos só querem brincar. Já ouviu isso antes? Em casa eu era o desatento e sonhador, e você, que rótulo tinha? Você ainda o tem, como ele influencia as suas escolhas? O meu rótulo me deixou com dificuldades com a execução, sonhar é mais fácil que fazer, e para equilibrar isso contei com ajuda e tive que empenhar-me, hoje o placar é de 60% a 40%, ainda trabalho sobre isso. 

Até aqui falei do agente influenciador das escolhas, mas para querer transformar as crenças é necessário ter alguma necessidade que não esteja sendo atendida. A necessidade é o propósito que norteará o trabalho sobre a crença. No meu caso, foi a necessidade de ter melhor resultado profissional que me motivou a buscar ajuda e a colocar a mão na massa. Sim, transformar as crenças dá trabalho, e é por isto que precisamos de ajuda de gente especializada como um coach ou um psicoterapeuta. Perguntas precisas geram respostas reveladoras. Então lá vai: qual é a necessidade percebida por você hoje, que se atendida, lhe traria um ganho significativo em sua qualidade de vida? O que você poderia fazer para atendê-la? Há algo que te impede? Se você contatou o impedimento, verifique se ele esta sustentado por uma crença, geralmente elas negam a possibilidade de realização. Se a resposta é um sim, já há algo para ser transformado. 

Para o trabalho sobre as crenças, é necessário considerar que estas não são boas ou ruins, são referências com as quais nos identificamos e utilizamos para nos adaptarmos a vida, mas que, enquanto evoluímos no decorrer da própria vida, perdem o sentido e necessitam ser transformadas ou ressignificadas. Devemos considerar também que, como instrumentos úteis que foram, é difícil abrir mão, são como os objetos que guardarmos por vínculos emocionais, assim necessitaremos de muita energia e esta só poderá vir de um lugar, da vontade interior.

Falarei sobre a vontade interior no próximo artigo, pois, como as escolhas este tema também está rodeada de crenças religiosas e populares. 

Para finalizar, convido você a refletir sobre as últimas escolhas que realizou, procurando perceber quais foram as influências que direcionaram sua decisão por um caminho e não pelo outro, para isso, considere as sutilezas de sua própria forma de pensar, o auto sugestionamento e a condescendência – companheiros inseparáveis das crenças.

Agradeço por sua leitura e até breve!

Climaco Nardi atua como Coach e Facilitador de grupos para o desenvolvimento humano. Além de sua formação em Coaching pelo Integrated Coaching Institute, é graduado em Gestão de Recursos Humanos, e conta com uma pós Graduação em Dinâmica dos Grupos, pela Sociedade Brasileira de Dinâmica do Grupos. Na área de psicologia cursou Análise Transacional e atualmente faz formação em Psicologia Transpessoal, pelo Centro de Psicossíntese São Paulo. A participação do Programa SAT (Seeker After Truth), criado pelo Dr. Claudio Naranjo, foi importante para o seu autoconhecimento. As experiências vividas com a Terapia Gestalt permeiam o seu trabalho como coach e consultor de empresas para o desenvolvimento humano. É praticante de meditação há mais de 20 anos.

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