Imagine a situação: um hóspede faz o check-in e pede especificamente um quarto. Não abre mão dele, discute com a equipe de Recepção e exige determinado cômodo sem dar maiores explicações. Sua bagagem é pesada e numerosa. Ao se hospedar, passa todos os dias sem praticamente sair do quarto. Além disso, ao longo da estadia, mantém o cartão de “Não Perturbe” 100% do tempo pendurado na porta do apartamento. No mínimo estranho, não?

Essa situação existiu e, infelizmente, teve um fim trágico. Todas as situações relatadas acima ocorreram no Mandalay Bay, tradicional hotel de Las Vegas, no ano passado. Seu personagem principal foi Stephen Paddock, um aposentado americano que, da janela do quarto do hotel, usou armas de alto calibre para matar 59 pessoas e ferir outras 525 que assistiam a um festival de música country anexo ao Mandalay Bay.

Irad Gale - atirador Las VegasPoliciais se escondem dos disparos do atirador

A partir deste preâmbulo nada agradável fica o questionamento: se a situação era bastante estranha, por que colaboradores do hotel não agiram preventivamente? “Se você ver algo esquisito, deve relatar imediatamente. Isso vale para toda equipe do hotel. A responsabilidade é de todos, não só do departamento de segurança”, avalia Irad Gale, CEO da HSMT, empresa israelense especializada em segurança para hotéis.

Com mais de 80 hotéis clientes nos Estados Unidos, Reino Unido, Turquia e Israel, Gale é um dos maiores experts globais em segurança no mercado de hospitalidade. Oficial da reserva do exército israelense, ele fundou a HSMT em 1993 e, hoje, a empresa oferece diferentes serviços. Entre eles, variados treinamentos para equipes dos hotéis e terceirização da área de segurança, além de investigações.

“A hotelaria precisa entender que um evento como esse do atirador em Las Vegas não afeta só o Mandalay Bay. O estrago se estende para toda indústria hoteleira e de turismo no destino”, avalia. “O Egito é um exemplo claro disso. O número de visitantes internacionais por lá despencou com os atentados que aconteceram a partir de 2007”, completa. Ele destacou também que a importância é tão grande que o TripAdvisor vai incluir recomendações de segurança de lugares que indica

Irad Gale: padrões e processos

Gale alerta que sua fala não se refere apenas a terrorismo. Para ele, segurança deve ser encarada como um serviço como outro qualquer ofertado pelo hotel. “Os clientes esperam uma cama boa, lençóis limpos, bom café da manhã, ar condicionado funcionando e, claro, segurança para ir e vir dentro da unidade”, avalia o CEO da HSMT. 

Neste sentido, Gale não vê diferença entre segurança voltada para evitar atentados ou pequenos furtos no lobby. Ele destaca ainda que hotéis são alvos fáceis. “São locais abertos ao público. Qualquer pessoa, portanto, pode ser um hóspede ou um criminoso”, explica. “Estabelecer protocolos de segurança e criar processos internos ajudam a desenvolver uma cultura efetiva de segurança. Com isso, é possível prezar pela segurança de todos sem ser deseducado e invasivo”, avalia. 

Recentemente, Gale participou da ISC West (International Security Conference & Exposition), maior feira global do setor de segurança. Realizada em Las Vegas, nos Estados Unidos, o evento deixou clara o entendimento que a hotelaria americana ganhou sobre a relevância da segurança.

“Embora sejam situações muito tristes, acontecimentos como o do atirador de Las Vegas deixam importantes ensinamentos”, conta Gale. “Foi o que pude notar no evento. A indústria hoteleira local percebeu que precisava lidar com o problema, que pode ocorrer a qualquer hora, em qualquer lugar. O negócio fica em jogo quando a segurança é colocada em cheque”, finaliza.  

(*) Crédito da capa: pixelcreatures/Pixabay

(*) Crédito da foto: David Becker/Getty Images/AFP