Daniela Pereira (foto: divulgação)
Daniela Pereira
(foto: divulgação)

Tendo passado por importantes cargos corporativos e nos diferentes hotéis do InterContinental Hotels Group em São Paulo, Daniela Pereira soma 21 anos de experiências da hotelaria, sempre na mesma rede. Uma pergunta quase naturalmente vem à cabeça: “você acredita que está no auge da sua carreira?”. Quem vê seu currículo e a observa comandando do único Staybridge de São Paulo, instalado no Itaim Bibi – o metro quadrado mais caro da cidade -, pode imaginar que a resposta seja “sim”. Mas não é.

“O aprendizado é um processo contínuo. Não existe ‘eu já sei tudo’. Muito pelo contrário. No meu caso, diria que eu ainda estou engatinhando”, define ela. Explica-se: ao longo dos anos, Daniela atuou em departamentos de Vendas e Grupos & Eventos, tanto no escritório corporativo do IHG quanto no InterContinental São Paulo, Holiday Inn Express, o antigo Crowne Plaza São Paulo e o próprio Staybridge. Desde fevereiro de 2011, ela trabalha como gerente geral da unidade – sua primeira experiência no cargo.

“Eu acho que a gente tem um monte para aprender, principalmente nesta área operacional. Sei muito mais do que ano passado, muito mais do que ontem, mas muito menos do que eu tenho que saber para os próximos anos”, opina. Em entrevista ao Hôtelier News, Daniela fala sobre carreira – a sua e a dos futuros hoteleiros – e sobre equilíbrio – entre vida pessoal e profissional; entre a gerente e a executiva do corporativo.

Por Juliana Bellegard

Daniela Pereira e Marcos Melo (foto: arquivo HN)
A executiva com Marcos Melo, diretor do IHG
(foto: arquivo HN)

“Tem alguma coisa de sangue nessa história”
É parte da explicação sobre a vocação de Daniela para a hotelaria. Seu bisavô, segundo ela conta, tinha uma hospedaria. Mas a jovem prestou, primeiro, vestibular para Marketing e para Administração de empresas – sem sucesso. Por meio de um amigo, soube da existência de um curso de hotelaria e fez sua opção de carreira, mesmo que ainda com uma visão idealista da profissão. “A gente confunde hospedar-se em hotel com trabalhar em hotel”, diz.

“Fiz um ano de hotelaria, tranquei e fui morar na Inglaterra e na Espanha”, relembra. Ao voltar, ela conheceu Marcos Melo, diretor regional de Vendas do IHG, e topou o desafio de trabalhar no escritório de Vendas, que ficava no centro de São Paulo. Ela tinha só uma dúvida: “’O que eu vou vender exatamente?’, perguntei. Eu era tão crua, só tinha feito um ano de faculdade naquela época”, conta.

Com pouco mais de dois anos no escritório do IHG, Daniela teve a primeira oportunidade de mudança: o projeto do InterContinental São Paulo estava sendo desenvolvido e a equipe pode optar entre permanecer no corporativo ou integrar a equipe de implantação do empreendimento. Ela foi pela segunda opção: “falei ‘quero ter um produto para chamar de meu, quero vender um hotel'”. Ali, além da área de Vendas, ela trabalhou também com Grupos e Eventos. Depois, pode passar pelas diferentes bandeiras da rede na capital paulista: fez a abertura do Staybridge; trabalhou com as Vendas do Holiday Inn Parque Anhembi – “uma grande escola” -, no Crowne Plaza São Paulo, onde ela ficou até o fechamento, e de volta ao InterContinental São Paulo.

Daniela Pereira e Paco Garcia (foto: arquivo HN)
Daniela e Paco Garcia, que a aconselhou sobre a função de gerente geral
(foto: arquivo HN)

“É um caminho sem volta?”
Foi a pergunta que Daniela fez ao colega de profissão, Paco Garcia, ao receber o convite para voltar para o Staybridge. Ela, então, acumulava os cargos de diretora de Vendas e Marketing do hotel e do corporativo. Garcia, gerente geral do InterContinental, disse a ela: “olha, não sei. Depende de você. Mas, te conhecendo, talvez seja”. Com ou sem volta, o caminho de mais uma mudança escolhido por ela vem sendo positivo. “É uma outra forma de ver e responder pela operação, o que é bem diferente. Mas é muito legal e é um aprendizado diário”, afirma. E assim já são 21 anos de carreira no IHG.

É o auge da carreira? Ela diz que não, e refaço a pergunta: existe um auge? “O que eu acho que acontece é que chega uma hora que você se sente mais cansado, vê que está na hora de diminuir o ritmo, porque não consegue mais contribuir como contribuía antes. Isso com 70, 80 anos, sei lá”, diverte-se. Então, para onde vai Daniela Pereira no futuro? Voltar para o corporativo é uma opção, assim como ousar mais na operação: “um hotel maior, mais complexo, uma bandeira diferente, porque não uma cidade ou um país diferente. Acho que tudo tem que ser considerado, então estou aí”.

A versatilidade profissional, as passagens pelo corporativo e por diferentes unidades hoteleiras de uma mesma rede, foram um trunfo na carreira da executiva. “Em vários momentos, as coisas [entre o corporativo e o hotel] casam porque, como parte de uma grande cadeia, a gente acaba pensando e agindo corporativamente. Tudo o que você fizer aqui no seu hotel vai impactar lá. Por outro lado, tem alguns momentos que você responde pelo resultado da sua propriedade. Nessa hora, você pensa e age como localmente”, reflete.

Daniela Pereira 2011 (foto: arquivo HN)
À frente do Staybridge desde 2011
(foto: arquivo HN)

A vantagem de conhecer os dois lados é saber usar as ferramentas corporativas para estas ações locais. “Foi muito importante ter trazido essa bagagem corporativa, para entender a importância de todas essa ferramentas e de como isso tudo te ajudar a ter uma performance melhor no seu hotel”, diz.

“Tem muita gente na profissão, mas poucos sobrevivem”
Daniela avalia que a hotelaria é uma área em que é necessário “muita dedicação, muito coração”. O mercado, opina ela, hoje está se profissionalizando. “Tem os dois lados: ao mesmo tempo que você tem muitas faculdades de hotelaria, de administração hoteleira, de turismo, você acaba profissionalizando e capacitando as pessoas, mas ao mesmo tempo também despejando no mercado uma quantidade de gente que nem é tão qualificada assim”, aponta.

A profissionalização teve uma consequência: parou-se de “importar” gerentes e outros executivos hoteleiros. “Antigamente, a gente importava muita gente, venezuelano, colombiano, eles contribuíram muito para a hotelaria no Brasil. Hoje já temos boas cabeças, todas brasileiras”, coloca. Em muitas ocasiões, os brasileiros estão é sendo exportados.

“Tem gente de hospital procurando gente de hotelaria, de administração de shopping – todo mundo que quer trabalhar um pouco com serviço, com público, gosta muito do perfil hoteleiro. É a grande contribuição do mercado da hotelaria – mostrar que pode ir além de cama e chuveiro”, diz Daniela.

Daniela Pereira (foto: divulgação)
Na hotelaria, é preciso muito coração, ela explica
(foto: divulgação)

Parte dessa formação passa pelas instituições de ensino brasileiras, e a gerente relembra a experiência recente desenvolvida pelo Centro Universitário Senac com seus bacharéis em Turismo: o evento Alunos no comando, realizado em dezembro último. “Eu achei fantástico. A teoria é importante, mas a grande experiência vem no dia a dia, então na hora que você põe os alunos no comado, é uma outra história. E dali nasce a paixão”, relembra.

“A gente cria a vida”
“Eu já tive períodos que eu abri mais mão da minha vida pessoal. Você vai mudando, e muitas vezes o cargo te permite ter horários mais flexíveis. Hoje, a carga horária de trabalho e responsabilidade são maiores, mas é mais balanceada”, revela. O fato dela morar no hotel onde trabalha – situação que pode ser vista como desagradável por muitos – tem suas vantagens: não ser escrava do trânsito, por exemplo. “É um tempo que eu consigo dedicar a uma ginástica, filho, lição, ou mesmo no próprio hotel. É um período que a gente ganha”, conta.

Quando muito se fala na questão feminina e da crescente presença das mulheres em cargos de chefia, Daniela conta não ter passado por situações onde sua condição de mulher foi um empecilho. “Acho que de modo geral há cada vez mais cargos em grandes empresas sendo ocupados por mulheres”, diz. “Eu não gosto muito desse estigma. Talvez sim nós, mulheres, tenhamos que ter uma logística maior, porque a sociedade acaba te empurrando que a mulher cuida da casa, filhos, mas isso não é culpa da empresa que você trabalha”, opina.

Staybridge São Paulo (foto: divulgação)
Staybridge São Paulo, literalmente a casa de Daniela desde 2011
(foto: divulgação)

“Toda regra tem sua exceção, mas eu acho que apesar de existir essa coisa de ‘ah, mas a mulher tem filho’, ela acaba compensando. Eu sempre brinco que eu tenho filho, mas você tem cachorro, ou a mãe que você ajuda a cuidar, um pai. Todo mundo tem alguma coisa do lado pessoal e cada um dedica tempo e dá a importância que tem que dar. Eu acho que isso não pode ser fator limitador de nada. Mas é de pessoa, eu não discriminaria pelo sexo masculino ou feminino”, coloca.

Pergunto, finalmente, onde há espaço para a vida pessoal? “A gente cria a vida”, sentencia Daniela.

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