Eduardo Sardinha é o gerente geral do Meliá Angra,
primeiro resort da Sol Meliá no Brasil
(fotos: Peter Kutuchian)
 
Eduardo Sardinha nasceu na portuguesa Ilha da Madeira e estudou Hotelaria em Glion, na Suíça. Depois que o curso terminou, em dezembro de 1972, se matriculou para fazer aulas de alemão em
Stuttgart e, enquanto esperava o ínicio das classes, resolveu iniciar uma viagem de dois meses para o Brasil e aproveitar para conhecer o carnaval carioca. Foi paixão à primeira vista. “Eu não tinha intenção de trabalhar aqui, e sim voltar para a Europa e estudar na Alemanha, mas em uma manhã fui visitar o hotel São Francisco, da extinta Companhia Moderna Hotéis do Brasil, localizado na Cinelândia, na época um dos melhores na região. Por acaso, encontrei no lobby o senhor Ferenc Sjoetery-Kiss, na época gerente geral, e me apresentei. Ele me convidou para almoçar e no final do encontro me perguntou quando poderia começar a trabalhar”, conta.
 
Assim começou a trajetória de um dos mais experientes executivos da hotelaria do país. Sardinha acumula cargos como assistente de Alimentos & Bebidas, gerente noturno, de Hospedagem,
Operações e diretor geral. Os hotéis e redes não são muitos durante esses mais de 35 anos. O que demonstra que Eduardo sempre soube esperar pelas oportunidades e não ter pressa em ser promovido. Ele tem passagens de peso nas principais redes. No Rio, fez parte da equipe que implantou o Le Meridien e foi um dos executivos que coordenou a transição e reforma do
Copacabana Palace quando o empreendimento foi vendido à Orient-Express. Foi o responsável por toda a primeira grande ampliação do The Royal Palm Plaza, em Campinas. Na capital paulista, gerenciou o L’Hotel. No Algarve, comandou um dos hotéis mais exclusivos de Portugal: Quinta do Lago. Na terrinha, também foi diretor geral da Hotéis Tivoli e gerente geral do Tivoli Lisboa.
 
Desde 2000, Sardinha está na Sol Meliá, empresa na qual teve o primeiro contato com os condo-hotéis. Implantou e administrou o ex-Meliá Confort ITC, em São Paulo, e o Tryp Barra, no Rio. Depois, voltou para a capital paulista e conduziu brilhantemente o Gran Meliá WTC, que há mais de 18 meses navega com bandeira própria.
 
Desde o segundo semestre de 2006, Sardinha está envolvido diretamente com o projeto do Meliá Angra, primeiro resort da rede espanhola no Brasil, que está aberto desde 20 de janeiro deste ano em soft opening. E é sobre este novo empreendimento fluminense que o executivo fala ao Hôtelier News nesta entrevista exclusiva.
 
Por Peter Kutuchian
 
Hôtelier News: Como é a experiência de estar em um destino como Angra dos Reis e quais os principais diferenciais do Meliá Angra?
Eduardo Sardinha: Angra dos Reis é um dos destinos mais bonitos do Brasil e poder trabalhar apreciando essa exuberante natureza é um privilégio. O Meliá Angra Marina & Convention Resort é um empreendimento, como diz o nome, voltado para o lazer e à realização de convenções. Nosso principal diferencial é oferecer uma marina com 300 vagas secas e 20 molhadas. O sistema
operacional que retira e coloca os barcos na água é de última geração, portanto, somos o único resort recém-construído em toda a região que oferece esse serviço. Outro ponto positivo é a nossa
localização. Estamos situados em frente à Ilha do Pimenta, que protege naturalmente todo o resort. Temos também 120 apartamentos residenciais e seus moradores podem usufruir de
nossas instalações.
 
  
Sardinha acompanha pelo rádio a ação do
departamento de engenharia no resort
 
HN: Até quando vai a operação em soft opening e que expectativas os hóspedes podem ter nesse período?
Sardinha: Vamos operar em soft opening por cinco meses, ou seja até 20 de junho. Nesse período, nossa maior preocupação é poder atender os clientes da melhor forma. Nossos colaboradores foram treinados, nosso equipamento continua sendo testado constantemente, mas a prioridade é atender bem. Consideramos que problemas técnicos podem ser ajustados. Os hóspedes até entendem isso, mas não aceitam um mal atendimento e um dos principais diferenciais da Sol Meliá é a boa prestação de serviços.
 
HN: Quantos colaboradores trabalham atualmente e qual o número ideal para a operação normal do Meliá Angra?
Sardinha: Estamos com 107 colaboradores e a previsão é ter 160 fixos, sem contar com os temporários que trabalharão nos feriados e na alta temporada. Iremos chegar nesse número gradativamente, à medida que nossa ocupação for aumentando.
 
HN: Qual é a expectativa dos investidores e quando o empreendimento alcançará o break even?
Sardinha: Nosso relacionamento com os investidores é muito transparente. Todos entendem que um hotel, como qualquer outro negócio, possui um prazo para maturação. Temos que construir
uma base sólida, afinal queremos consolidar o Meliá Angra como o melhor empreendimento da região e isso depende de investimentos, ações e planejamento. Nossa estimativa é que em setembro deste ano nossas contas estejam equilibradas.
 
  

“Temos que construir uma base sólida, afinal queremos consolidar o Meliá Angra como o melhor
empreendimento da região”
 
HN: Quais investimentos ainda faltam ser realizados?
Sardinha: Estamos finalizando a implantação de nosso spa. Escolhemos a Shishindo pois ela está presente em um outro resort da região e isso agrega valor na operação e no atendimento
aos hóspedes. Nossas expectativas são que ela realize um bom trabalho e quem fará a avaliação serão os nosso clientes. Iremos ainda criar um novo espaço para o kid’s club. Em seu lugar vamos criar um local para entretenimento dos adultos em dias de chuva – contratamos uma consultoria especializada para pensar nos atrativos.
 
HN: Quais as maiores dificuldades na operação do resort?
Sardinha: Nossas duas maiores dificuldades são em relação à mão-de-obra e aos suprimentos. Angra dos Reis é uma cidade limitada nos dois quesitos. Para conseguirmos fazer uma seleção, fizemos anúncios nas rádios locais e nos jornais. Conseguimos cerca de 600 candidatos para as 107 vagas já preenchidas, mas, por exemplo, na falta de um padeiro não temos como repor o colaborador. Por isso estamos trabalhando na capacitação constante de todos. Em relação aos suprimentos, temos dificuldade em conseguir certas mercadorias. As entregas também são feitas dentro do prazo dos fornecedores e não do hotel. Estamos tentando reunir os hoteleiros da região para criar uma central de compras e assim poder dividir o frete das mercadorias que possivelmente sejam trazidas do Rio ou de São Paulo.
 
HN: Como os hoteleiros locais têm reagido em relação a esse idéia?
Sardinha: A concorrência demonstra uma certa preocupação com a Sol Meliá. Primeiro por sermos uma rede internacional e segundo por termos um produto diferenciado, de excelente qualidade. Temos a certeza que, com a nossa operação, toda a região da Costa Verde será beneficiada. Esperamos que os hoteleiros percebam que o Meliá Angra vem para somar e que uma concorrência saudável e profissional beneficiará principalmente nossos clientes.
 
 
HN: Qual a previsão de ocupação para o feriado da Páscoa?
Sardinha: Nossas 200 unidades habitacionais estão prontas e o interesse pelo Meliá Angra está muito bom por parte das agências e do público em geral (enquanto entrevistávamos o Eduardo, uma cliente veio cumprimentá-lo e pedir uma tarifa para o feriado), mas nossa idéia é vender no máximo 160 apartamentos, que é o volume que estamos preparados para atender com qualidade. Se conseguirmos viabilizar a vinda de colaboradores de cooperativas aí sim poderemos vender todas as habitações, mas, como disse, nossa prioridade no momento é o atendimento.
 
HN: Você vem de uma hotelaria cheia de glamour, muitos mimos e atendimento especial. O que tem feito na operação que relembre um pouco aquela época?
Sardinha: O hóspede quer ser sempre surpreendido. Muitos hoteleiros falam na superação de expectativas, mas isso não é fácil. A nova geração de profissionais sofre a pressão da
economia de custos e é aí que entra a criatividade. Temos oferecido algumas soluções que agradam muito os hóspedes. Por exemplo, para cada congressista disponibilizamos uma garrafa
de água e uma maçã na mesa. O visual fica muito agradável e o custo é insignificante. Todos têm aprovado o mimo.
 
 
 
HN: E falando em glamour, como fazer para trazê-lo de volta à hotelaria?
Sardinha: Os tempos são outros, mas tudo na vida é cíclico. O que muda é a forma de como fazer. Os hotéis-boutique revivem atualmente, de alguma forma, o glamour do passado. O
atendimento é, cada vez mais, a única forma de conquistar o cliente, que pode se hospedar em um hotel design com a melhor gastronomia e os mais avançados equipamentos, mas se o
atendimento não funcionar, com certeza ele não voltará lá.
 
HN: Quais são seus hobbies?
Sardinha: Gosto de jogar golfe e de caminhar. Sempre que estou em casa – ele mora no Alto Leblon – eu e minha esposa damos a volta pela Lagoa ou na orla de Ipanema. Aprecio também
um bom livro. Atualmente leio livros técnicos de hotelaria. Precisamos estar sempre atualizados e em busca de informações que nos ajudem a melhorar cada vez mais nossa performance e, consequentemente, a lucratividade.