Dagoberto Silva à frente do Crowne Plaza Manágua, que possui o maior
centro de convenções da América Central, para até 5.000 pessoas:
primeira entrevista depois que assumiu o cargo, há 100 dias
(fotos divulgação)

Dagoberto Alves da Silva, ex-gerente geral do Holiday Inn Parque Anhembi, em São Paulo, assumiu há 100 dias a gerência geral do Crowne Plaza Manágua, localizado na Nicarágua, o maior país da América Central.
O país ficou muito conhecido no Brasil no final dos anos 1970, quando, em 1979, o ditador Anastasio Somoza Debayle (1925-1980) foi derrubado do poder pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), movimento político de esquerda inspirado nos ideais de
Augusto Nicolás Calderón Sandino (1895-1934). Somoza foi exilado no Paraguai e morreu assassinado na capital Assunção.
Nesta entrevista exclusiva ao Hôtelier News, via e-mail, Silva fala sobre o hotel que gerencia, o mercado hoteleiro de Manágua a cidade e dá um conselho aos hoteleiros brasileiros. “
Como conselho para muitos amigos e profissionais, digo que olhem para o mundo, pois existem oportunidades muito boas para quem se prepara, fala outros idiomas e quer trabalhar…”, afirma o executivo. Acompanhe abaixo a entrevista completa. (Claudio Schapochnik)                               


Fachada do Crowne Plaza Manágua, administrado pelo InterContinental Hotels Group

Hôtelier News: Como é, de um modo geral, o Crowne Plaza Manágua?
Dagoberto Silva: O Crowne Plaza Manágua é um hotel tradicional e tem 36 anos de vida. Pertence a um grupo de investidores de Taiwan, que também possui um shopping center bem em frente ao hotel.
A administração é do IHG e até 2003 tinha a marca InterContinental. Mudou para Crowne Plaza em dezembro de 2003 por razões estratégicas de marca e mercado. O hotel tem uma história na cidade, pois foi o único edifício que não caiu durante o terremoto que destruiu Manágua em 1972. Foi construído durante a ditadura de Anastácio Somoza e durante a revolução sandinista foi o quartel general de Daniel Ortega por um ano.
Possui 140 quartos, três restaurantes ? um internacional para 100 lugares, um japonês, considerado o melhor restaurante de especialidades de Manágua, e um chinês, que também é muito concorrido, pois Manágua possui uma comunidade chinesa muito grande. Tem ainda um cassino, considerado o mais elegante de Manágua. Além disso, possui um centro de convenções, que é o maior da América Central, com capacidade para 5.000 pessoas, o que torna o hotel muito procurado para congressos, feiras e convenções.
O Crowne Plaza está localizado na área próxima ao Palácio do Governo e do Congresso, fazendo do hotel um ponto de encontro de políticos, ministros e do próprio presidente da República, que almoça aqui com freqüência. Tem atualmente 160 empregados e em 2004 ganhou o premio de melhor Crowne Plaza das Américas ? dentre mais de 120 Hotéis.


Entrada do centro de convenções do hotel

HN: Como o hotel situa-se no mercado hoteleiro da cidade? Quais são os concorrentes? Quanto está a taxa de ocupação e a diária média?
Silva: Manágua tem basicamente cinco hotéis de primeira linha: um InterContinental, que ocupa a primeira posição no mercado e é um produto novo, inaugurado em 2000. Tem o Crowne Plaza, que durante muitos anos foi o InerContinental e em razão do novo concorrente decidiu mudar de marca e ocupa a segunda posição no mercado.
Na terceira posição existe um hotel pequeno de 100 quartos, chamado Princess, que é parte de uma pequena rede de hotéis da América Central. Na quarta posição está um hotel também pequeno chamado Seminole, de 80 quartos e pertence a um grupo norte-americano que possui muitos hotéis, restaurantes e cassinos. E na última posição desse ranking tem um hotel muito antigo, o Camino Real, está mais próximo ao aeroporto.
O Crowne Plaza está com uma ocupação acumulada em 2005 de 62%, o que é excelente, e tarifa média de US$ 90, o que também é muito bom, é uma das melhores da América Central.
Manágua é uma cidade de 1,5 milhão de habitantes e a capital do país. Vem crescendo num ritmo de mais de 5% ao ano, durante os últimos seis anos, e recebe muitos investimentos estrangeiros desde o fim do governo sandinista.


Um dos apartamentos do cinco estrelas

HN: Como foi sua recepção ao hotel? Já está integrado?
Silva: Fui recebido em Manágua com muita alegria e profissionalismo. São todos muito amáveis e muito parecidos com os brasileiros. Existe uma pequena comunidade de brasileiros por aqui.
No meu coquetel de boas vindas havia cerca de 300 convidados, dentre eles embaixadores, ministros, entre outras autoridades. Aqui um gerente geral de um hotel cinco estrelas é uma celebridade da cidade.
Minha família chegou no começo de junho, após 45 dias, e também está muito feliz, adaptando-se ao idioma, à comida e à cidade, no geral.

HN: Compare o mercado de Manágua com o de São Paulo.
Silva: Comparar Manágua a São Paulo é difícil. São Paulo é uma cidade gigante, com muitos negócios e muitos problemas também. Manágua é uma cidade de porte médio, que vem se recuperando de anos de sofrimento, em função do terremoto e da guerra civil. É uma cidade muito segura, considerada a mais segura da América Central, o que me traz uma sensação muito boa, pois em São Paulo esse é um problema grave.
A cidade vive um momento muito bom de novos investimentos, tais como Telefónica de España, que acaba de chegar, do banco HSBC, que acaba de comprar o maior banco do país, além de outros investidores internacionais.
O governo norte-americano também é muito presente por aqui e investe muito. Usa o hotel Crowne Plaza como sua hospedagem. O Banco Mundial, que também é nosso cliente, também investe muito, pois a Nicarágua é um país estratégico.

HN: Quais são suas metas e seus planos até o final do ano?
Silva: Estou aqui há exatos 100 dias e me sinto muito feliz, com saudades dos amigos e da família, porém com uma sensação de tranqüilidade muito grande. Eu estava precisando de um pouco disso, pois a hotelaria brasileira vive um momento grave e não permite que um trabalho profissional e de médio e longo prazos seja realizado.
Pretendo ficar um bom tempo por aqui, alguns anos, quem sabe?, e depois disso um outro hotel também fora do Brasil. Meu projeto pessoal não é retornar tão cedo ao Brasil. A experiência que adquiri no Brasil é muito rica e tenho certeza que posso utilizar em muitos outros países.

HN: Gostaria que você enviasse uma mensagem aos seus amigos e colegas da hotelaria brasileira.
Silva: Como conselho para muitos amigos e profissionais, digo que olhem para o mundo, pois existem oportunidades muito boas para quem se prepara, fala outros idiomas e quer trabalhar…