A entrevista desta semana traz ao Hôtelier News o empresário alagoano Felipe Cavalcante, atual presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste Brasileiro (Adit NE). A entidade foi fundada por um grupo de empresários preocupados em organizar a captação de investimentos para a região.

A Adit NE promove, de 28 a 30 de maio, em Recife (PE), a terceira edição do Nordeste Invest, evento que reunirá investidores nacionais e estrangeiros dos setores imobiliários e turísticos. Segundo o Ministério do Turismo, cerca de R$ 4 bilhões estão sendo investidos no mercado imobiliário brasileiro, sendo 20% do total provenientes de investidores internacionais. São cerca de 150 novos meios de hospedagem que devem entrar em operação até 2009, grande parte na região que será tema do encontro.

Formado em Administração de empresas e Marketing, Cavalcante é pós-graduado em Gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Além disso, foi membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico do Estado de Alagoas e do Conselho de Proteção ao Meio-Ambiente de Maceió.
Por Chris Kokubo

 
Felipe Cavalcante em passagem por São Paulo
(fotos: Chris Kokubo)

Hôtelier News: Como surgiu a idéia de fundar a Adit Nordeste?
Felipe Cavalcante: Há cerca de seis anos, o Nordeste começou a ver um bom movimento do turismo por causa dos vôos fretados. Foi então que os empresários do setor resolveram se reunir e identificar as empresas sérias do ramo.
HN: Quais os principais objetivos da associação?
Cavalcante: Nossa idéia é dar segurança jurídica aos investidores e colocar as empresas sérias em contatos entre si. Além disso, temos trabalhado para definir de quem é a competência para licenciar cada etapa dos grandes projetos turísticos. Queremos trazer para o Nordeste brasileiro o investidor sério, que faça um trabalho de qualidade e ajude a alavancar o turismo da região.
 
Um dos principais objetivos da associação é definir melhor as regras da licença ambiental para construção. Temos trabalhado pesado para mudar essa legislação brasileira. Fora a Costa do Sauípe e outros dois ou três grandes empreendimentos imobiliários que conseguiram sair do papel, os projetos ficam todos empacados por causa das restrições ambientais.
HN: Quais são os principais mercados investidores que a Adit quer levar para o Nordeste?
Cavalcante: Portugal, Espanha, Irlanda e Inglaterra já conhecem o mercado brasileiro e já começaram a investir. Nos próximos dois anos queremos atrair investidores dos Estados Unidos e dos Emirados Árabes Unidos, principalmente de Dubai.
 
Temos dois projetos que vão nessa direção e nos quais devemos investir cerca de R$ 2,4 milhões até 2010. No Comprador nós convidamos investidores, e no Imagem quem vêm são os jornalistas estrangeiros. Metade do valor gasto para trazer esse pessoal é da Adit NE e outra metade é da Agência de Promoção do Governo. Queremos colocar o Nordeste no mapa dos grandes investidores turísticos, mas muitos deles nem sabem que a região existe.
 
 
Fornecemos serviços de consultoria financeira, imobiliária e turística. Se precisar, vamos até o país que se mostrar interessado em investir no Nordeste brasileiro.

HN:
Qual é o maior obstáculo para atrair os investidores?
Cavalcante: O maior problema ainda é a malha aérea, muito deficiente. Ainda não há vôos regulares entre as principais cidades nordestinas e isso atrapalha muito.
 
HN: O que o Nordeste tem de diferencial para atrair o olhar do estrangeiro?
Cavalcante: No mundo todo, os resorts de praia têm um apelo de atração muito forte. Além disso, é importante estar atento também aos empreendimentos que ofereçam mais do que a hotelaria tradicional e conhecer melhor os tipos de propriedade fracionada, que não são somente o time share e os condo-hotéis. O Nordeste tem grande potencial para isso. Geralmente o setor imobiliário é o responsável pelo investimento financeiro e os hoteleiros entram com o know-how administrativo.
 
Houve uma mudança do perfil dos investidores ao longo do tempo. Antes, muito turista que tinha gostado das férias no Nordeste resolvia comprar terras para especular. Hoje a Adit procura trazer empresas sérias ligadas ao mercado imobiliário-turístico fora do Brasil que possam contribuir para o desenvolvimento planejado da região.
 
HN: Qual é o estado nordestino que mais recebe investimentos atualmente?
Cavalcante: Cada local está em uma etapa diferente. A Bahia é o que está mais adiantado, com um planejamento que já começou há 30 anos por parte do governo. O estado vê dois perfis diferentes de empreendimentos: no litoral norte desenvolveram-se principalmente grandes hotéis para o turismo de massa, enquanto ao sul são projetos mais elitizados, de alto padrão.
 
Atualmente a sede administrativa da Adit NE está localizada em Maceió, capital do Alagoas, onde há o projeto de um empreendimento seis estrelas. O sul de Pernambuco, por sua vez, tem um grande potencial e lá há alguns projetos em execução. Em breve a região terá boa oferta turística, não muito grande.
 
Praia da Pipa, no Rio Grande do Norte, visada por europeus
(foto: trilhaseaventuras.files.wordpress.com)
 
Na Europa hoje se fala muito de Natal, principalmente das praias de Pipa e Ponta Negra. No Ceará, há três grandes investimentos previstos ainda para este ano. Tanto o Rio Grande do Norte quanto o Ceará ainda não oferecem resorts com a infra-estrutura de Sauípe e é importante desenvolver algo desse porte.
 
Sergipe e Paraíba começam agora a chamar mais atenção. É necessário melhorar os aeroportos para atrair o investidor.
Precisamos pensar, além do desenvolvimento hoteleiro e da malha aérea, em investimentos de divulgação no exterior. E esses grandes grupos investidores sabem como trabalhar com o marketing do destino.
 
HN: A burocracia brasileira ainda é um grande obstáculo para atrair investimentos?
Cavalcante: No Brasil ainda é um grande desafio conseguir licenciar um investimento. Depois de dois anos tentando, aparece um órgão diferente dizendo que era ele o responsável pela autorização do projeto. Quando tudo parece estar regularizado, vem o Ministério Público e embarga a obra. Muitos investidores estão desiludidos e todo mundo sai perdendo: os empresários, a comunidade local, os governos estaduais.
Um grande problema é a briga dos órgãos públicos pelas taxas de licenciamento. Uma lei complementar está sendo feita agora sobre o assunto e deve ir em breve para o Plenário. Regularizar a questão ambiental e definir o papel de cada órgão é uma das nossas prioridades atualmente.
 
Vista aérea da Costa do Sauípe, “exemplo de
investimento sério no Nordeste”, segundo Cavalcante

(foto: responsabilidadesocial.com)
 
HN: Quais os benefícios para as comunidades locais nordestinas com a chegada de grandes investimentos?
Cavalcante: Os grandes projetos são catalisadores de investimentos. Os benefícios vão desde o saneamento básico das comunidades até a qualificação da mão-de-obra, que começa a ser treinada assim que as obras do empreendimento têm início. Os investidores colocam muito dinheiro em infra-estrutura e manutenção, o que é vantajoso para o governo local.
Além disso, no mercado de alto padrão, todo investidor quer saber quem será o seu vizinho, por isso o estímulo é o desenvolvimento de obras sérias. Há uma data limite para entregar o projeto, o que, de um jeito ou de outro, obriga a empresa que está investindo a melhorar a infra-estrutura da região. O timing do governo é, geralmente, muito mais longo.
 
HN: E o que é o Nordeste Invest?
Cavalcante: O Nordeste Invest é o grande ponto de encontro entre empresários brasileiros e grupos internacionais. A conferência que organizamos é de alto nível e o salão de negócios tem crescido muito de uma edição para outra do evento. Para se ter uma idéia, em 2007 um hotel de R$ 200 milhões foi negociado na rodada de negócios. Este ano devem vir cerca de 60 empresários do exterior.
A diferença do Nordeste Invest é que a Adit NE é que traz os investidores. Temos assessoria de comunicação no exterior e em algumas das maiores cidades brasileiras, o que garante que durante o evento você encontrará efetivamente profissionais estrangeiros sérios.
A meta da Adit é dar acesso do mercado brasileiro ao capital estrangeiro. Realizamos o encontro para qualificar o investidor que chega e para atrair empresas sérias. Atualmente duas companhias têm capital na bolsa de Londres para atrair investimentos para o Nordeste. Quem pensaria nisso há alguns anos?
 
 
HN: Como você vê a oferta turística no Nordeste futuramente?
Cavalcante: Nos próximos dois ou três anos não haverá grandes mudanças. Os grandes empreendimentos devem começar agora. A médio prazo vamos ver como estará o equilíbrio entre a oferta e a demanda e direcionar melhor os investimentos. Com todos os nossos esforços não tenho dúvida de que o mercado nordestino estará muito bem desenvolvido em cerca de dez anos.
 
É importante observar que não queremos trazer um impacto mercadológico negativo. Empreendimentos muito grandes mal planejados prejudicam a imagem e os grupos sérios ficam receosos de vir. E não é necessariamente o tamanho do hotel que determina a sua qualidade. Há projetos de resorts com 4 mil UHs que são muito bons. Por outro lado, alguns com 500 são horrorosos, prejudiciais ao meio ambiente e à imagem do Nordeste. Quando um projeto apresenta mais de 10 mil UHs é preciso ficar atento.
Turismo de massa dificilmente vai trazer algo de bom a longo prazo, visto que desqualifica o destino. Temos que pensar sempre no desenvolvimento sustentável.
O México e a República Dominicana têm bons exemplos de como atrair investimentos e garantir uma imagem positiva, além de combater o turismo sexual.
Nós, da Adit NE, acordamos pensando no investidor, em como atrair os empreendimentos mais sérios e garantir, a longo prazo, o mais saudável turismo para o Nordeste do Brasil.
 
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