Grande Hotel Campos do Jordão, desde
1998 sob administração do Senac-SP
(fotos: Chris Kokubo)
Renato acorda cedo todos os dias. Levanta-se, penteia o cabelo, veste o terno. O café ele deixa para tomar no trabalho. Impecável, dirige até o escritório, a poucas quadras de casa. Às 10h começa o expediente lendo e assinando uma pilha de papéis. Hora para sair, ele não tem. A rotina limita-se ao horário de entrada e às assinaturas. Renato Cyrino Bianchi é gerente geral do GrandeHotel CamposdoJordão, o hotel-escola do Senac na cidade serrana do Estado de São Paulo, e dia-a-dia vence de maneira diferente o desafio de ‘surpreender o hóspede a cada hospedagem’.
O Hôtelier News conheceu os serviços e instalações do empreendimento e comprovou que aquele conceito (equivocado) que as pessoas tinham de hotel-escola com serviço precário e pouco conforto definitivamente ficou para trás. O Grande Hotel ostenta requinte e uma equipe competentemente treinada, inclusive com alunos, para bem receber o hóspede.
Por Chris Kokubo*
 
O convênio entre o governo do Estado de
São Paulo e o Senac foi assinado em 1982
 
As reformas tiveram início em 1987.
Aqui, corredor que leva à recepção

Alguns antigos móveis foram mantidos
como peças decorativas
 
Esta recepcão destina-se exclusivamente
para quem se hospeda nas suítes
 
 
 
No aconchegante espaço, sala para carteado e lareira

Há também sala de vídeo
Ao lado do balcão da recepção, a joalheria Amsterdam Sauer

Inaugurado em 1944 como luxuoso hotel e cassino, o então Grande Hotel Cassino de Campos do Jordão atraía a elite endinheirada de São Paulo em busca de refúgio na serra. Mas teve vida curta. Logo em 46 veio o decreto de Eurico Gaspar Dutra proibindo os jogos, principal atrativo do hotel na época, o que aos poucos levou o meio de hospedagem à falência.
Em 1982, quando o hotel estava fechado já há mais de duas décadas, o Senac São Paulo e o governo estadual assinaram o convênio que dava origem aos dois hotéis-escola da instituição, um em Campos e outro em Águas de São Pedro. A condição era oferecer treinamento e cursos gratuitos na área de hotelaria e gastronomia. Cinco anos mais tarde tiveram início as reformas, cuja missão era reerguer o que já havia sido o mais sofisticado hotel da cidade, mantendo as características da arquitetura original.
 
Prataria do antigo Hotel Cassino e um dos cardápios da época
No livro de hóspedes, o registro da assinatura de
Getúlio Vargas, a terceira de cima para baixo

Olhando as fotos expostas do Grande Hotel antes do restauro e comparando com o hotel hoje, notamos que houve bastante respeito pelo projeto original. Não foi feito nenhum acréscimo que não fosse estritamente necessário. O corpo principal, onde estão os apartamentos, permaneceu praticamente como na década de 40. Já no nível inferior foi acrescentado, com propriedade e delicadeza, um volume leve e translúcido que abriga a piscina. O interior do Grande Hotel é que revela a modernização. Dos materiais utilizados no acabamento aos tecidos que revestem as poltronas do saguão, tudo é contemporâneo. O grande mérito, então, foi saber aliar com equilíbrio a grandiosidade vinda do passado com as cores do presente”, afirma afirma Renata Nakaharada Mendes de Sousa, arquiteta que conheceu o empreendimento junto com o Hôtelier.
O corredor de apartamentos. Atualmente são 95

Suite Diplomata, com sala de estar, jantar e ampla habitação
 
 
Máquina de café Nespresso, menu de pipocas com oito opções e de  travesseiros com cinco são algumas das facilidades da UH
Além disso, oferece vista para as araucárias e jardim do hotel
Um dos apartamentos duplos do Grande Hotel
TV LCD e aparelho para DVD em todas as UHs.
Duas são adaptadas para receber cadeirantes
 
 
Closet com cofre, roupões e amplo espelho. Na chegada e na
abertura de cama, mimos preparados por alunos do Senac
Amenities Grande Hotel e Natura em todas as habitações
Natalia Liese, gerente de A&B, e Luciani Dias, de Hospedagem: de alunas do Senac a integrantes do corpo gerencial do hotel
Foram 11 anos de investimentos e obras. Em 1998, o hotel foi inaugurado com 95 apartamentos, área verde de 400 mil m² e a missão de capacitar profissionais para o mercado turístico-hoteleiro de São Paulo. Atualmente, 80% do corpo gerencial do Grande Hotel são formados por ex-alunos do Senac, o que atesta a qualidade do ensino que alia a teoria das salas de aula à prática dos laboratórios e dos dois hotéis-escola. Todo aluno de curso tecnólogo ou bacharel na área de hotelaria, turismo e gastronomia passa pela prática profissional de um mês em um dos dois hotéis. Supervisionados por profissionais experientes, muitos têm ali a primeira experiência da realidade profissional que escolheram.
Plano arquitetônico seguido à risca, onde é possível reconhecer no hotel de hoje a estrutura física do empreendimento dos anos 40
Pé de bordo com folhas avermelhadas,
típico de lugares frios

 
O Senac tem planos de ampliação do número de UHs e
do jardim, este já está em andamento
 
Confortavéis sofás no lobby de entrada. Em 2009,
a diária média do hotel foi de R$ 713

O Grande Hotel Campos do Jordão está localizado no Capivari, bairro efervescente da cidade. Com 10 minutos de caminhada, chega-se à badalada cervejaria Baden Baden. Na entrada, a guarita dos seguranças dá acesso a dois caminhos: o da direita leva ao hotel. O da esquerda, ao centro universitário. O terreno é repleto de exemplares da Mata Atlântica de Altitude e soma cinco quilômetros de trilha.
Mapas como este encontram-se espalhados pela propriedade
70% da área verde do hotel é original
 
1.800 metros acima do nível do mar, o
hotel está a 175 Km da capital paulista

O Grande Hotel, com suas araucárias e pinhos, abriga também um dos dois únicos helipontos da cidade homologados pela Aeronáutica. Para utilizá-lo, hóspedes desembolsam R$ 150 e passantes R$ 300. Quem vem pelo céu tem vista privilegiada da Serra da Mantiqueira. Sergio Oliveira, atual coordenador de Lazer e integrante da equipe do hotel desde sua inauguração, explica que o nome da serra vem da lenda indígena. “Amantikir quer dizer ‘montanha que chora’. Diz a lenda que a Lua apaixonou-se por uma índia, o que despertou a ira do Sol. Por ciúmes, ele enterrou a índia na serra. Em noite de lua cheia, a enterrada chorava e chorava”, conta o monitor. Explica-se, assim, o motivo de tantas nascentes na Serra da Mantiqueira.
 
Heliponto do hotel e mais folha de bordo, próxima à entrada
 
Próxima à Arte da Pizza, uma das mais de 3 mil
nascentes de água de Campos do Jordão

A equipe de recreação é dividida por faixa etária e nas férias, feriados e finais de semana, quando contrata dez pessoas extras, oferece atividades o dia inteiro. A programação de lazer do dia seguinte é entregue junto com o doce de boa noite preparado pelos alunos, na abertura de camas. Extensa, vai de oficina de artesanato a passeios pela cidade, de atividade esportiva a workshops gastronômicos.
Ampla área da piscina aquecida. Próximo, o Health Club oferece sauna seca e úmida, ducha circular, cascata turbilhão e ofurô
 
De um lado, os peixes saem. Do outro, entram
Para as crianças, ampla área de lazer batizada ‘Dino’
 
Rodeada por araucárias e outros tipos de pinheiro, oferece
gangorras, escorregador, balanços, gira-gira e outros brinquedos

A programação de lazer diariamente
tem atividades para todas as idades
 
 
O hotel conta ainda com quadras, mesa de bilhar e academia,
além dos passeios monitorados pela cidade
 
No salão Jacques Janine, tratamentos de beleza e massagem.
À direita, abajures do workshop de decoração
Tio Edinho e Rafa, parte da equipe de recreação há respectivos
sete anos e um mês. Formado em Educação Física e Hotelaria, Edinho destaca a função do hotel-escola: “gosto de
ensinar os alunos que passam por aqui”

A parte de alimentos e bebidas do hotel é um de seus grandes destaques. São sete opções: Restaurante Grande Hotel, Araucária, Arte da Pizza, Restaurante Infantil, Bar da Lareira, Bar da Piscina e Adega. Com tanta variedade, muito dificilmente o hóspede terá oportunidade de começar a sentir fome. À tarde, aos sábados, é servido um saboroso chá da tarde na Sala Cristal, com vista para as araucárias e ao som de duo de cordas ao vivo.
Rodeada de verde, a Sala Cristal pode também
ser usada para eventos sociais e corporativos

 
Aos sábados à tarde, no entanto, é vez dos hóspedes
degustarem chá da tarde ao som do duo de cordas

 
 
No café da manhã, frutas, pães, doces, uma mesa para crianças
e outra com produtos diet e light. Benedito Moraes é um
dos colaboradores responsáveis pela estação de ovos
 
Tentadora mesa de sobremesas do almoço.
Envolta de verde, a estrelada Arte da Pizza

Com capacidade para até 73 pessoas, não funciona sob reserva
O Araucária, com ambiente mais sóbrio e serviço à la carte, oferece menu com alta gastronomia internacional. Não raro, recebe festivais gastronômicos e chefes renomados convidados. Aberto somente às sextas e sábados, conta com carta de vinhos que foi eleita a melhor da região pela revista Veja Vale & Montanha, que também elegeu o Bar da Lareira o melhor lugar para ir a dois na região. O Restaurante Grande Hotel serve, em formato de buffet, café da manhã, almoço e jantar. A Arte da Pizza, inaugurada em 2007, ganhou ano passado uma estrela no Guia 4 Rodas.
Com mais de 160 rótulos em sua carta de
vinhos, o Araucária tem ambiente sofisticado
 
No menu, Guacamole com King Crab como amuse bouche e
Timbale de vieiras com sauce vierge, tempurá de camarão
com flocos de batata e crocante com páprica
como entrada
 
Salmão grelhado com risone em aromas orientais e, como sobremesa, Dueto de chocolate com framboesas frescas,
sorvete de baunilha e cereja
Responsável pelo jantar acima, o
sub chefe do hotel, Alexandre Righetti

“É difícil formar um padrão de excelência. O olhar pode ficar viciado, preciso fazer o máximo para enxergar o hotel como aquele hóspede que vem pela primeira vez. Por isso, sempre converso com os clientes, observo se estão batucando com os pés ou mãos no chorinho da feijoada de sábado, no duo de cordas do chá da tarde. Todo o corpo gerencial circula muito pelo hotel, é muito próximo do hóspede, que sente esta diferença. As premiações só vieram coroar o nosso esforço constante”, declara Bianchi.
Os bons resultados provam que o gerente vai pelo caminho certo. De 2008 para 2009 a diária média teve alta de 30% e fechou o ano em R$ 713, valor bastante diferenciado frente outros resorts do Estado. “A queda no número de eventos corporativos influenciou a alta do RevPar, já que a crise acabou trazendo mais hóspedes de lazer. Tivemos ocupação de 90% em praticamente todos os feriados. Nosso verão tem sido excelente, o público está descobrindo Campos do Jordão no calor, com muitas atividades ao ar livre”, completa o executivo.
Renato Cyrino Bianchi, gerente geral do meio de
hospedagem, que conta com 230 colaboradores
Natural de Santos, criado em Rio Claro e campeão paulista de basquete, Bianchi trocou os desafios das quadras pelas exigências dos hóspedes. Fez o Tecnólogo de Hotelaria no Senac, passou pela Accor e chegou ao Grande Hotel em 2006, junto com Paulo Mélega, que comanda a unidade de Águas. Em agosto de 2008 assumiu a gerência. Aluno da casa, ele é prova de que hotéis-escola são ótima opção de aprendizagem, gestão, serviço e excelência. A ponto de ver crianças chorando por não quererem ir embora na hora do check-out ou ouvir do casal habitué que, depois de vários réveillons seguidos no Grande Hotel, ano passado optou pelo Copacabana Palace: ‘os fogos são lindos, mas o serviço de vocês não tem comparação’.
Pedra do Baú vista a partir do Museu Felicia Lerner
Nascida na Polônia, Felicia faleceu em Campos do Jordão em 1996
 
O museu a céu aberto tem cerca de 90 peças
esculpidas em granito, bronze e cimento branco
No mesmo parque, o Auditório Claudio Santoro, palco de belas
apresentações durante o Festival de Inverno de Campos do Jordão


Serviço

Grande Hotel Campos do Jordão

Hotel-Escola Senac

Av. Frei Orestes Girardi, 3549

Campos do Jordão, SP

12460-000

Tel.: 12 3668-6000

Central de Reservas: 0800 7700 790
* A equipe do Hôtelier News viajou a convite do Grande Hotel Campos do Jordão.