Hotelaria: segmento de mercado fortemente aliado ao turismo, não importa se de lazer ou de negócios. O que inspira a todas as pessoas que entram neste caminho? Paixão. Impossível conversar com profissionais do ramo hoteleiro e não ouvir dos mesmos o quanto trabalhar com hotelaria “vicia”. Diante de tantos apaixonados e de milhares de hotéis que se multiplicam em todo o mundo, nos fizemos a pergunta: de onde vem a hotelaria e como ela começou no Brasil?


O início do Copacabana Palace,
no Rio de Janeiro
(foto: copacabanapalace.com.br)

Por Karina Miotto

O termo hostellum começou a ser utilizado para designar palacetes onde reis e nobres se hospedavam na época do Império Romano. Porém, os primeiros registros de hospedagens no mundo vêm do século VI a.C., com comerciantes que ficavam em casas ou quartos de outras pessoas quando viajavam entre a Europa e o Oriente. Em um único espaço poderiam dormir várias pessoas – será que isso nos lembra os famosos albergues da juventude de hoje?

A partir de 1407, a França passou a exigir mais segurança e registro dos hóspedes. Em 1561, a cobrança de tarifas foi regulamentada. De 1750 a 1820, na Inglaterra, serviços como limpeza e alimentação passaram a ser vistos como atrativos para novas hospedagens. Em 1870, César Ritz investiu no banheiro privativo, na uniformização dos colaboradores e construiu um empreendimento em Paris. O velho continente viu surgir as primeiras instalações que, no futuro, seriam aprimoradas e chamadas de hotéis.

No Brasil, a hotelaria nasceu da mesma forma que na Europa, por iniciativa dos portugueses. Ainda que em solo brasileiro, pessoas passaram a receber viajantes em suas próprias casas. Por sua vez, colégios e mosteiros como o Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, recebiam viajantes ilustres no período colonial.


Mosteiro visto de dentro: riqueza
(foto: rio.rj.gov.br)

De acordo com estudos realizados pela jornalista Eny Amazonas, editora do estudo Raio-X da hotelaria brasileira – as redes hoteleiras do Brasil, São Paulo é “parte do marco histórico do desenvolvimento hoteleiro no Brasil”, pois as primeiras hospedagens ocorreram na cidade por volta do século XVII. A classificação dos empreendimentos em cinco categorias nasceu depois, no início do século XVIII. Já era possível escolher onde ficar. Detalhe interessante: hospedarias mais requintadas da capital paulista só recebiam pessoas importantes e com carta de apresentação.

No Rio, o primeiro hotel de classe internacional foi inaugurado em 1816 pelo francês Louis Pharoux – sob fortes influências européias, é claro. E nem é preciso dizer que o grande marco da hotelaria carioca veio com a inauguração de dois hotéis famosos e com prestígio que perdura até hoje: Hotel Glória, em 1922, e, no ano seguinte, o Copacabana Palace, construído pela família Guinle e desenhado pelo arquiteto Joseph Gire. Falando em família, durante muitos anos as administrações hoteleiras eram majoritariamente familiares.


Hotel Glória por volta da década de 30 e…
(foto: flickr.com.br)


…hoje
(foto: unigranrio.com.br)

Se continuarmos nosso passeio pela história, notamos que a hotelaria já passou por alguns altos e baixos. Para a alegria dos apaixonados pelo setor, foram mais momentos de crescimento do que de crise. Vejamos: na década de 40, incentivos de governo fizeram a hotelaria crescer. Em 1970, a criação da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) aliada a incentivos fiscais alavancou ainda mais o mercado – nessa época surgiram os primeiros flats, em São Paulo. Momento importante, também, para o fortalecimento das redes Othon e Luxor no país. Época promissora para cadeias internacionais. “A entrada de redes estrangeiras de hotéis no Brasil na década de 70 foi estimulada pelo acirramento da concorrência entre essas companhias e pela transformação do país em um importante pólo de viagens de negócios, com o crescimento da economia e a entrada das empresas multinacionais”, explica Alessandra Damas Frozino no estudo Aspectos do Desenvolvimento da Indústria Hoteleira no Brasil, da Universidade de Taubaté (SP).


Copacabana Palace: ícone do Rio de Janeiro até hoje
(foto: Vinicius Medeiros)

A primeira forte crise começou na década seguinte, devido ao fim dos financiamentos em longo prazo e dos incentivos fiscais. O Plano Collor, em 1990, também foi prejudicial ao segmento hoteleiro. A situação melhorou após a implantação do Plano Real, em 1994. Vários hotéis de luxo foram inaugurados no país. Por volta de 1998, gigantes internacionais do setor como os grupos Hyatt e Posadas passam a investir na indústria hoteleira brasileira. E a crise voltou no final dos anos 90. A hotelaria se expandiu muito, mas a demanda não acompanhou o surgimento de novos hotéis, o que obrigou muitos a abaixarem drasticamente o valor de suas diárias médias. Atualmente o mercado está em plena recuperação. A ocupação está em 65% e o aumento de cerca de 12% na diária média geral assinalam, novamente, o crescimento do setor.

Desde as primeiras hospedarias até os hotéis mais sofisticados, um ponto em comum, que vai além das razões econômicas, permeou o desenvolvimento e a consolidação do mercado hoteleiro no Brasil: a primazia pelo serviço de qualidade. “O bom hospedeiro é aquele que se coloca no lugar do hóspede”, explicam William George Lopes Saab e Ilka Gonçalves Daemon, no estudo Gerência Setorial de Turismo, publicado no site do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Quem não prima pela qualidade, não sobrevive no mercado.


O tradicional Grande Hotel São Pedro, unidade
do Senac no interior de São Paulo e…
(foto: signaturedobrasil.com.br)


…o Centro Europeu, também no
estado: hotéis-escola
(foto: centroeuropeu.com.br)

Atualmente, o mercado encontra-se em momento de expansão. “Formar-se em Hotelaria e Turismo não constitui modismo de ocasião. Milhares de jovens já se deram conta de que as chances profissionais nesse campo crescem na mesma velocidade em que brotam projetos hoteleiros em território nacional”, explica Alessandra.

Quem quiser estudar hotelaria tem muitas opções de cursos espalhados em todo o país. Emprego não vai faltar. “O parque hoteleiro nacional possui hoje aproximadamente 25 mil meios de hospedagem e, deste universo, 20 mil são hotéis e pousadas. No geral, 70% são empreendimentos de pequeno porte, o que representa mais de 1 milhão de empregos e oferta de aproximadamente 1 milhão de apartamentos em todo o pais”, conta Eny.

De acordo com o site da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), o faturamento da hotelaria nacional pode chegar a US$ 2 bilhões ao ano. E pensar que tudo começou com uma casa…

Serviço
www.abih.com.br
www.copacabanapalace.com.br
www.hoteisothon.com.br
www.hotelgloriario.com.br
www.hyatt.com
www.luxor-hotels.com
www.posadas.com
www.raioxhotelaria.com.br