Inbal Blanc

 

Anualmente, o turismo mexicano recebe aproximadamente sete vezes mais turistas estrangeiros que o Brasil. Sua previsão de crescimento para 2019 é de 6%. 

Embora o Brasil esteja à frente em relação a indicadores importantes, como belezas naturais e recursos culturais, os mexicanos apresentam superioridade em quesitos como profissionalismo e maturidade do segmento turístico. 

Conheça abaixo algumas valiosas lições que nossos amigos mexicanos têm a partilhar conosco.

Existem poucas soluções “mágicas” para uma crise financeira, como a que entramos em 2014. Uma delas, adotada desde 2009 por países como Grécia e Portugal, é o turismo. Além de gerar renda, o turismo tem potencial significativo na geração de empregos e desenvolvimento de comunidades locais. O turismo é exatamente um dos motores de crescimento, geração de empregos e captação de investimentos estrangeiros que o Brasil está precisando.

Porém, avaliando os indicadores do turismo estrangeiro no Brasil, principalmente considerando o enorme potencial do país e os grandes eventos esportivos realizados nos últimos anos, encontramos resultados muito baixos. O número de aproximadamente seis milhões de turistas estrangeiros visitando o Brasil anualmente, não muda há um bom tempo. Enquanto isso, o turismo mundial não para de crescer de forma significativa há mais de 10 anos. 

Devemos nos perguntar porque um país do tamanho do Brasil, que foi eleito pelo Fórum Econômico Mundial, como o país líder em termos de recursos naturais, com costa tão bonita, florestas, animais e rica cultura popular, recebe menos turistas estrangeiros que algumas cidades do mundo.

Certamente, existem diversas razões para o baixo crescimento do turismo brasileiro. Podemos enumerar algumas com influência direta na quantidade de estrangeiros visitando o Brasil:

  • Distância geográfica dos países desenvolvidos;
  • Pouco investimento em divulgação;
  • Estrutura precária;
  • Falta de profissionalismo;
  • Etc.

Entre diversos fatores, existe um fator crítico, que influencia todos os outros: a segurança e proteção ao turista. Parece um requisito básico e óbvio, mas infelizmente as questões de segurança e proteção ao turista não são tratadas como prioridade pelo poder público, nem pela iniciativa privada. Muitas vezes ignorado, quando esse assunto é tratado, normalmente é de forma superficial e amadora.

Imaginamos que se não falarmos sobre o assunto nada vai acontecer, ou no máximo o turista não irá perceber o que realmente está acontecendo por aqui. Mas, a realidade é bem diferente! As diversas ocorrências envolvendo turistas brasileiros e estrangeiros, assim como notícias sobre altas taxas de violência em destinos turísticos, e sobre crimes violentos, refletem diretamente uma imagem negativa do país. Veja por exemplo o caso recente do das balas perdidas e do “arrastão” na praia de Copacabana, onde duas pessoas foram baleadas durante o Réveillon de 2019. Um dos eventos mais importantes para a cidade do Rio de Janeiro, conhecido no mundo todo pela belíssima queima de fogos à beira mar, destaca-se na mídia por episódios de violência como esse, afastando turistas, comprometendo a vida de pessoas e os resultados do turismo em nosso país. 

Para entender o tamanho do equívoco, basta entrar nos sites oficiais de alerta de viagem da Inglaterra, Austrália, Canadá, EUA, entre outros, e você verá as recomendações que estes países emitem para seus cidadãos, em relação ao Brasil. Também não deixam dúvidas do real problema, as manifestações de turistas brasileiros e estrangeiros no TripAdvisor, destacando o risco de visitar determinadas cidades, praias e destinos específicos no Brasil. 

Exemplo do Smartraveller da Austrália  – Informações atualizadas sobre viajar para o Brasil 

Crimes

A incidência de crimes violentos, muitas vezes usando armas, é alta em todo o Brasil, especialmente nas grandes cidades. Os turistas são alvos, especialmente antes e durante festivais como o Carnaval. Crimes comuns incluem: 

  • Assalto
  • Assalto à mão armada
  • Sequestro com carro
  • Invasão de domicílio
  • Agressão sexual
  • “Sequestro relâmpago”, em que os indivíduos são sequestrados por curtos períodos para um retorno rápido da família, negócios ou cartões bancários da vítima são levados antes da liberação, que acontece muitas vezes em uma área remota.

Assaltos e outros crimes violentos são particularmente comuns em:

  • Locais turísticos
  • Setores hoteleiros
  • Transporte público
  • Estacionamentos
  • Praias públicas
  • Boates e bares
  • Mercados ao ar livre
  • Táxis não registrados
  • ATMs e facilidades de câmbio.

O México e o Brasil têm semelhanças em diversos aspectos, tanto favoráveis quanto desfavoráveis ao turismo. Por isso os mexicanos podem nos ensinar valiosas lições. Veja alguns desses aspectos:

  • Belas e famosas praias
  • Cultura gastronômica com pratos especiais
  • Riqueza cultural 
  • Altos índices de violência
  • Tráfico de drogas organizado e muito violento (problema igual ou superior ao Brasil).

A violência atingiu os principais destinos turísticos mexicanos. Isso gerou um impacto negativo e significativo no turismo, fazendo os mexicanos concluírem e partilharem conosco a primeira lição: 

Se não resolvermos os problemas de segurança, não vão adiantar as belas paisagens, a boa comida e a animação do povo. Os turistas simplesmente não virão! 

Vale a pena destacar que o Brasil vive essa mesma situação há muitos anos. Assim foram desenvolvidos programas de combate ao crime em três dos principais destinos turísticos:

Los Cabos
 
No ano passado, Los Cabos instituiu um rigoroso plano de segurança de cinco pontos em resposta à violência criminal. Esse plano resultou em redução de 90% nos casos de crimes. O resultado positivo foi mensurável.
 
"Estamos fechando 2018 com um forte crescimento turístico. O ano vai fechar com crescimento total de 7% em termos de turistas para o destino”, disse Rodrigo Esponda, diretor do Conselho de Turismo de Los Cabos. "Vamos ultrapassar 2,7 milhões de turistas por ano para Los Cabos. Nosso histórico de segurança agora é conhecido e compartilhado por consultores de viagens e consumidores. Nós temos uma base muito fiel de visitantes. Sete em dez visitantes são repetidores, e a nossa mensagem de que Los Cabos é um destino seguro, conectou-se com o mercado.” 

 

 

Os 5 Pontos de Combate à Violência Criminal em Los Cabos

  • Criação de uma “Rede de Resposta Rápida”: Los Cabos está desenvolvendo comunicações em tempo real e contínuas entre hoteleiros e empresas locais, para compartilhar informações sobre atividades suspeitas e incidentes relatados, bem como alertar as autoridades competentes e as autoridades legais.
  • Ampliação do sistema de vigilância de segurança: O destino está ampliando sua rede de câmeras de vigilância. O objetivo é instalar mais de 200 novas câmeras, especialmente em áreas turísticas de tráfego intenso, elevando o total para 250 dos atuais 40 existentes.
  • Construção de nova base da Marinha: Aumentando significativamente a presença do Corpo de Fuzileiros Navais mexicanos, para gerenciar o sistema de vigilância ampliado e garantir a aplicação da lei. A base foi aberta no segundo trimestre de 2018.
  • Organização de um comitê de segurança de hotéis: Trabalhando com a Associação de Hotéis, o novo comitê se reúne quinzenalmente para tratar de quaisquer preocupações, compartilhar as melhores práticas e atualizar protocolos de segurança.
  • Criação de novos protocolos de treinamento e segurança: Empresários e hoteleiros locais estão implementando novos programas de treinamento de segurança e protocolos, alinhados com os padrões do OSAC (Conselho de Segurança no Exterior: Overseas Security Advisory Council), melhorando o preparo das equipes

Quintana Roo

O Caribe mexicano leva as questões de segurança muito a sério, enfatizou Darío Flota Ocampo, diretor do Conselho de Turismo de Quintana Roo. "Temos segurança elevada em todo o destino para garantir a integridade e bem-estar de nossos visitantes", disse ele. "O turismo é uma parte integrante da economia de Cancun. Somente no ano passado o destino recebeu 14 milhões de visitantes, dos quais 42% foram hóspedes frequentes." 

Flota acrescentou ainda: “Os incidentes de violência são isolados em áreas distantes da zona turística e não há turistas envolvidos. É nosso compromisso continuar aumentando nossos protocolos de segurança, e oferecendo aos hóspedes as melhores experiências do  nosso lindo destino”. 

Mazatlán

O estado de Sinaloa está sob nível de alerta 4. Isso significa dizer que há uma recomendação para não viajar, emitida pelo governo americano. Ainda assim, é permitido viajar dentro do movimentado centro turístico de Mazatlán, compreendendo a Zona Dourada e o centro histórico restaurado da cidade.

Os protocolos de segurança, foram atualizados em 2012, e incluem câmeras de vigilância de alta resolução em áreas-chave e uma força policial turística bilíngue, em áreas frequentadas por visitantes.

Independentemente do conselho, os números do turismo continuam a subir, com 3 milhões de viajantes esperados para visitar Mazatlán este ano. Número superior aos 2,7 milhões de visitantes em 2017. Em 2018 registraram-se 89 ligações de navios de cruzeiro para o porto deste destino.

Finalizando é importante dizer que os projetos de segurança no turismo mexicano, envolvem o poder público, a população local e a iniciativa privada, sobretudo:

  • As agências de viagens
  • Os hotéis
  • Os restaurantes
  • As empresas de transporte entre outros 

Certamente nem todos os problemas de segurança do México serão resolvidos, e algumas questões de insegurança podem perdurar por anos. Entretanto, os mexicanos não vão permitir que questões de segurança travem o desenvolvimento de uma importante fonte de renda, de emprego e de apoio para que a população local tenha uma vida melhor. 

Portanto podemos aprender com essas lições mexicanas, e fazer o turismo brasileiro crescer de maneira segura. O primeiro passo é identificar e tratar o problema. Aliás, é exatamente isso que os Mexicanos começaram a fazer. 

Agora é a nossa vez aqui no Brasil. Vamos começar a tratar essas questões de segurança esse ano? 

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* Inbal Blanc* é sócio fundador da SEGURHOTEL, consultoria especializada em controle de perdas e segurança para hotéis. Possui 15 anos de experiência na área de segurança, tendo feito parte das tropas de elite do exército de Israel. O consultor é autor do livro Gestão de Qualidade e de Crises em Negócios de Turismo. Também é professor do primeiro curso de segurança e gestão de riscos para a hotelaria, o HRCM

Contato
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segurhotel.com.br

* Crédito das imagens: divulgação do autor/arquivo pessoal

Fonte: https://www.travelpulse.com/articles/destinations/debunking-safety-issues.html