João Francisco Rodrigues
(fotos: Aline Costa e Peter Kutuchian)
Quem tinha viagem programada para o interior paulista naquele fim de semana deu sorte. Era meados de fevereiro, um sábado com bastante sol, quando visitamos o Mavsa Resort Spa Convention, localizado em Cesário Lange (SP). A cidade, fundada em 1878 com o nome de seu primeiro professor, não tem muitos atrativos turísticos – entre esses poucos, se destacam o Museu do Engenho e as Piscinas Naturais do Rio Sorocaba e, claro, o próprio hotel. Os cerca de 15 mil habitantes do município vivem ali sob as bênçãos de Santa Cruz, padroeira local, e ao som de uma das cidades vizinhas, Tatuí. Lá está o Conservatório Dramático e Musical Doutor Carlos de Campos, que forma um grande número de músicos em toda a região.

Saindo da capital paulista, pegamos a rodovia Castelo Branco e, em menos de uma hora e meia, chegamos na entrada do hotel. Após passar pela portaria, levamos mais alguns minutos de carro andando por um grande campo. O trajeto denuncia o tamanho do resort: são 750 mil metros quadrados de área total, sendo 15 mil construídas. O faturamento previsto para este ano é de R$ 15 milhões.

Fomos recepcionados por João Francisco Rodrigues, gerente geral do Mavsa. Tanto no sábado quanto no domingo, pudemos desfrutar da infraestrutura do hotel e também de boas conversas com o nosso anfitrião. No primeiro dia ele nos mostrou as principais melhorias físicas que o resort está recebendo. No segundo, falou sobre sua carreira, sobre o reposicionamento do hotel, fidelização e perfil do público.

 
*Por Aline Costa e Peter Kutuchian
 
O empreendimento está passando por várias reformas e ampliações, as quais podemos observar durante um passeio com carrinho elétrico, dirigido pelo próprio Rodrigues. A primeira fase do restaurante foi concluída neste mês, o que representa a reforma de 450m² de um total de 900m². Até o fim do ano, o setor ganha uma cozinha show de temática asiática, que vai se juntar com as já existentes – uma brasileira, com churrascaria, e uma italiana, com forno.

Recentemente ainda foi concluída a construção de um bloco com 47 apartamentos e, até o fim do ano, outro com mais 30

UH’s estará pronto. A piscina aquecida também foi modernizada e hoje tem capacidade para 120 pessoas. Na área da piscina há ainda restaurante com cozinha show. E isso não é tudo. No último Carnaval foi inaugurada a prainha com bar já ampliado. O hotel ganhará uma igreja em estilo Barroco com 220m² de área privativa e ciclovia com aproximadamente cinco mil metros lineares. Além disso, vai calçar algumas trilhas com bloquetes (pequenos blocos) e colocar pastilhas para modernizar a decoração e a infraestrutura das piscinas.


Aqui vemos o mais novo bloco do hotel

 

Do lado de dentro
Ainda em nosso tour observamos que as estruturas que o hóspede não vê também estão recebendo investimentos. Cozinha (com 480m² privativos, dividida em cambuja, copa, copa para lavagem, [ou copa suja], coquição, cozinha fria, padaria, confeitaria, peixaria e açougue), almoxarifado (com 500m², cinco câmera frigoríficas, produtos separados com normas de vigilância), lavanderia (com 320m² de área coberta e 180m² de área descoberta para arejar as roupas).
 
Tantas mudanças têm um objetivo muito claro, explicitado por Rodrigues: “vou ser o melhor”. Nossa conversa continuou no dia seguinte, quando ele explicou que talvez o Mavsa não seja o maior hotel do interior paulista, mas será o com mais diferenciais. “Estamos no meio das obras, as coisas estão um pouco bagunçadas, mas caminhando para a excelência. Além disso, eu precisava viabilizar o negócio”, comenta. Entre 2009 e 2010 o faturamento subiu 120% – a expectativa é de crescer 50% até o final desse ano.
 
Personagem real
A determinação é uma característica marcante desse português que ainda carrega sotaque bem forte. Vindo de uma família com nove irmãos, patriarca mineiro e mãe dona de casa, foi o único a querer fazer o caminho de seus antepassados desbravadores e chegou no Brasil em 1982. Bem antes disso, como não havia escola em sua cidade natal, estudou em um seminário. Depois foi para Marinha de Guerra, estudou Física Nuclear por quatro anos e chegou a ser professor em Portugal por sete anos.
 
Tentou continuar o ofício quando chegou em terras tupiniquins, mas o salário de professor “não pagava a kitnet”. Então, resolveu trabalhar como garçom, pois seria mais lucrativo. Começou a carreira em 1982 como ajudante de cozinha e chegou a gerente geral em 1995. Nesse meio tempo, foi também caixa e maitre.
Trajetória profissional e acadêmica
Trabalhou nos cariocas mais badalados da época: Glória, Le Meridien e Rio Othon – além de ter trabalhado no Naoum Brasília por um ano e na Rede Bourbon por outros 11 (foram duas fases na Bourbon: uma de seis e outra de cinco anos). Durante todo esse tempo, sempre esteve ligado à área acadêmica – estudando ou ensinando, lecionou, inclusive, no Senac. “Você é quem cria sua empregabilidade e se faz importante para empresa”, declara.
 
O profissional se formou em Hotelaria pela Universidade Estácio de Sá em 1989. Fez pós-graduado em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas em 1998, MBA Executivo em Marketing em 2000 e obteve o título de Mestre em Economia de Empresas pela UCB em 2003.
 
Acostumado a reinventar a própria história, assumiu em outubro de 2008 a gerência geral do então Sabrina Resort. O nome era uma
homenagem à filha mais velha do proprietário do hotel, que tem ainda uma fábrica de jóias homônima. A internacionalização da indústria criou a necessidade de se dar um novo nome ao meio de hospedagem. Mavsa foi a sugestão de Rodrigues. “O nome tinha que ter boa aceitação no mercado, ter um significado forte e agradar à família”, ressalta. O executivo juntou as iniciais do clã e chegou ao sonoro resultado. “Quando pesquisei Mavsa na internet, descobri que significa ‘lugar de gente feliz’ em árabe.
 
  
 
Seu maior desafio é encontrar mão de obra qualificada e conter a rotatividade. “A vocação da região é a música e o agronegócio”, explica. Como já mencionado, Cesário Lange fica próxima a um dos mais tradicionais conservatórios do País. Além disso, a região se destaca pelo cultivo de cana de açúcar, pela quantidade de haras e olarias, bem como duas fábricas de jóias e uma indústria de cosmético. “Por isso é difícil desenvolver nas pessoas o gosto por servir. Todos são muito simpáticos e atenciosos, mas é difícil para eles assimilar a rotina hoteleira, de se trabalhar mais nos dias em que os outros descansam. Já a capacitação técnica é mais fácil. Só que ela não é nada se não incutirmos na mentalidade ds colaboradores que hotelaria é servir”, reflete Rodrigues.
 
Alto custo para treinar
“No início de 2010 trouxe pessoal altamente capacitado que me acompanhou por seis meses, treinando principalmente A&B”,
conta. Ele diz ainda que normas e procedimentos de cada setor devem ser passados semanalmente até que se sinta consistência no que o colaborador vem fazendo. Em funções como de garçons e cozinheiros, por exemplo, a formação básica e os cursos técnicos são essenciais.
 
“Somos pequenos, mas nossa logística exige que tenhamos uma escola interna. Estou procurando profissionais que me ajudem nisso, já que as instituições que são bancadas pela indústria e deviam nos dar apoio viraram unidades de negócio – e eram para ser sem fins lucrativos. Isso inviabiliza a utilização dos serviços prestados por elas”, lamenta.

Mesmo assim, o executivo ressalta que o Mavsa não é um resort comum. “Temos muito clientes fiéis por conta de laços que se

formam com os colaboradores, laços de relacionamento que são difíceis de existir em hotéis grandes. Sou muito presente, quase
todos os hóspedes me conhecem e chego a pescar junto com alguns. Falhas existem, mas estamos em constante evolução”. O resort tem dois lagos e alguns peixes pesam 12 quilos, segundo o gerente.

Outra forma de fidelização no Mavsa é cativar os hóspedes desde cedo. Embora esse tipo de evento não seja o foco do hotel, Rodrigues conta que há parcerias com algumas empresas especializadas em formaturas. Nessas ocasiões, o hotel é fechado somente para os jovens. Casamentos também são o tipo de evento que só acontecem quando os hóspedes reservam todo o hotel. Isso é para garantir que quem não é convidado da festa não se sinta incomodado.

 
Outros públicos
Nos meses de setembro/outubro/novembro a maior demanda é da terceira idade. Rodrigues conta que esse é um público fiel
e espontâneo: eles mesmos organizam excursões e fazem as reservas. “O hotel não precisa agir de forma ativa para atrair
esse tipo de grupo”, explica. 
 
 


Animais estão entre as atrações do resort

 
Público de lazer
O mercado de lazer representa 35% (destes, 70% são de São Paulo; 20% de Sorocaba e os outros 10% das demais cidades
do Estado) do público do resort. Rodrigues explica que entre as ações para atender a esse público está a criação da Turma da Sabrina, que tem sete personagens ligados à natureza, visando mexer com o imaginário das crianças.
 
Além disso, o hotel aproveita o potencial musical da região para investir em shows de diversos estilos. A pesca esportiva, piscinas, tirolesa, arvorismo, trilhas, esportes radicais e banana boat também fazem a alegria dos hóspedes que vão para se divertir. Isso sem
contar o barco catamarã para 100 pessoas, que tanto pode receber eventos quanto proporcionar uma bela vista de um dos lagos.
 
O all inclusive, que tem a diária média de cerca de R$ 900, também proporciona maior comodidade aos hóspedes. O sistema
faz parte da política de reposicionamento do produto. O público de lazer costuma fazer a reserva em cima da hora e já tem UH de sua preferência. “Não vendo categorias para lazer, o hóspede já sabe qual apartamento quer. Isso é fruto do marketing boca a boca, uma ação promocional que não tem preço”, pontua. Ele explica ainda que, normalmente, o hóspede de lazer faz a reserva em cima da hora. “Ele vê a previsão do tempo no meio da semana e depois liga para fazer a reserva. Como é muito perto, ele prefere agir desse modo”.
 
Público de negócios
Já os eventos são responsáveis pelos outros 65% do mercado do Mavsa – neste setor não é aplicado o all inclusive e as diárias estão em torno de R$ 680 com café, almoço, jantar e bebidas. “Nossa infraestrutura nesse setor caminha para ser diferenciada. Cadeiras iguais a que eu tenho aqui, só hotéis de luxo têm, por exemplo. Nossas salas ainda possuem tela embutida. Itens que hotéis terceirizam nós temos de origem própria. Além da estrutura que viabiliza o evento e proporciona o maior conforto possível para os participantes, ainda temos atendimento de qualidade ímpar. A atenção dispensada pelo coordenador de eventos é um grande diferencial. Ele ajuda mesmo o cliente com muita simpatia e amabilidade”, destaca.
 
Mercado emissor
Em relação à origem, São Paulo gera a maior demanda de hóspedes. Cerca de 80% do público vem da capital paulista. De
Campinas são 10% – e de outras cidades do Estado os outros 10%. Ele explica que a maior parte das vendas é feita por executivos de contas. GDAs e OTAs representam uma parcela muito pequena das diárias compradas. Por isso, a equipe de vendas em São Paulo deve crescer – acompanhando o crescimento do resort.

Chegou o momento de irmos embora e o sol ainda estava lá, nos deixando a vontade de voltar em breve para conferir o resultado das mudanças pelas quais o empreendimento está passando. 

Serviço
www.mavsaresort.com

 
*A equipe do Hôtelier News viajou para Cesário Lange a convite do Mavsa.