Philippe Seigle quando recebeu o prêmio de
melhor diretor geral do mundo, no final
do ano passado em Paris
(foto: divulgação)

Ele já morou em várias partes do mundo e conheceu diversas culturas. Profissional de sucesso, encontrou no grupo Le Méridien seu recanto, e agora, como diretor regional para América do Sul, Philippe Seigle usará seus 45 anos de experiência na indústria hoteleira para conduzir o Le Méridien Rio, um dos empreendimentos mais conhecidos da cidade, e a expansão da rede, agora uma marca da Starwood Hotels & Resorts..
 
Ao longo de sua carreira Philippe trabalhou no Egito, no México, na Europa, na Ásia, mais especificamente na Tailândia, onde, aliás, enfrentou seu maior desafio profissional.

Na segunda parte desta entrevista, ele fala um pouco da família, da profissão, do Brasil e também aborda suas experiências profissionais pelos quatro cantos do planeta, com destaque especial para o período em que dirigiu o resort da bandeira francesa na Tailândia, quando viu de perto o efeito devastador do tsunami.

* Por Vinícius Medeiros

Hôtelier News: Qual a sua formação universitária? O senhor crê que a formação em hotelaria ou turismo seja útil para seu cargo, ou pensa que cursos como administração, marketing e gerenciamento sejam mais importantes? 
Phillipe Seigle: Fiz minha formação universitária numa escola de hotelaria francesa, em Paris. Em relação à segunda pergunta, o que posso dizer é que a universidade é uma boa base. Mas a verdadeira escola é a da vida. Uma pessoa que trabalha com hotelaria tem oportunidade de conhecer vários lugares e culturas e são estas experiências é que te formam verdadeiramente. O trabalho de um diretor geral é muito amplo. Para ser um bom profissional, você deve saber um pouco de marketing, de economia, de vendas, de recursos humanos, ou seja, ter estes conhecimentos é muito importante para a carreira, mas, seguramente, as experiências que acumula ao longo da vida é que te fazem um bom profissional.

HN: O senhor sempre se interessou por turismo e hotelaria?
Seigle: Queria ser diplomata como meu pai. Desde criança viajava com ele e por isso me interessava por profissões que envolvessem viagens. Um dia minha avó me perguntou: porque não tenta hotelaria? Você se interessa por viagens, relações humanas…aí pensei, por que não? Entrei para a escola de formação hoteleira em Paris, mas no início não gostei muito. Com o tempo fui me interessando e desde então são 45 anos nessa vida.

HN: Como e onde foi o início de sua carreira?
Seigle: Aos 24 anos, administrava um restaurante gastronômico num país do oeste da África chamado Togo. Foi uma experiência muito dura para um jovem como eu na época, mas um excelente aprendizado, principalmente na área gerencial. Depois fui para a escola de hotelaria na França e de lá quis de fato conhecer o setor. Assim, fui para o México trabalhar num hotel da rede Posadas na época, hoje um Holiday Inn. Passei dois anos lá e, finalmente, em 1982, ingressei no grupo Le Méridien, mais precisamente como gerente de alimentos e bebidas na Arábia Saudita.

HN: Quais características um bom gerente geral deve possuir?
Seigle: Liderança é fundamental. Você deve saber liderar, lidar corretamente com seus colaboradores. Você tem que saber escolher as pessoas certas para os cargos certos, estar sempre perto do seu time, treinar e motivar seu pessoal. Isso é muito importante. É por isso que sempre faço uma analogia com o futebol. Os colaboradores do hotel formam um time e você, como diretor geral, é como se fosse um treinador. E isso não é uma tarefa fácil.

HN: O senhor comandava o resort Le Méridien de Phuket, na Tailândia, quando houve o tsunami, em dezembro de 2004. Como foi esta experiência?
Seigle: Na ocasião, ninguém sabia o que era de fato um tsunami. Nunca havia visto nada parecido e vi quando a primeira onda nos atingiu. A terceira onda foi a mais devastadora, foi impressionante. O grupo Le Méridien possuía planos para tudo: terremoto, incêndio, assaltos, terrorismo…mas o tsunami foi algo tão inesperado que nos pegou totalmente de surpresa. Senti-me como um comandante de navio à deriva. Chamei minha equipe e tive que tomar decisões rápidas e não podia errar de maneira alguma. Foi um dos momentos mais difíceis da minha carreira.

HN: O hotel foi muito afetado? Como foi o trabalho de reconstrução do resort?
Seigle: Nós sempre tentamos antecipar tudo na estrutura de um hotel. Sabíamos que um terremoto havia atingido Sumatra, mas jamais poderíamos antecipar o tsunami. O hotel estava cheio. Havia, ao todo, 1.200 pessoas, entre hóspedes e colaboradores. Um de nossos salva-vidas achou muito estranho o recuo do mar e retirou todos as pessoas da praia. Não houve mortes, mas, ainda assim, o hotel foi bastante danificado e o prejuízo foi grande. No dia seguinte já estávamos trabalhando na reconstrução. Um trabalho, aliás, que se estende até hoje. O turismo na região ainda está se recuperando, voltando aos níveis anteriores. Tive que tomar decisões muito difíceis, mas foi um aprendizado muito grande.

HN: O senhor já trabalhou em diversos países, com diferentes culturas e, claro, com percepções de mercado distintas. Como o senhor vê o mercado brasileiro? Há muita diferença para os demais mercados onde trabalhou?   
Seigle: Uma coisa posso te dizer: não existe mercado melhor ou pior. Há, isso sim, diferentes. Pode parecer óbvio, mas não é. Você tem que saber se adaptar a todos eles, pois sempre vai encontrar situações diferentes. Para mim, o Brasil é um novo desafio. Já trabalhei aqui, na Bahia, mas foi por pouco tempo. Estava nos meus planos voltar ao Brasil. Recentemente o grupo Le Méridien foi adquirido pela Starwood, e atualmente estamos passando por um processo de integração das marcas. Até o final do ano tudo já estará integrado.

HN: E como tem sido a vida no Rio de Janeiro? Já deu para conhecer a cidade?
Seigle: Estamos morando no hotel mesmo, eu e minha esposa Delphine. Por enquanto, o trabalho tem ocupado grande parte do meu tempo, mas quando posso saio para conhecer a cidade. Já estava aqui no réveillon e achei a festa fantástica. Era muita gente, fiquei impressionado. Mas estou louco mesmo é para que a Copa do Mundo chegue logo. Quero assistir os jogos junto dos brasileiros.