Alexandre Zubaran, presidente da Resorts Brasil (Associação Brasileira de Resorts) e da Costa do Sauípe, afirma neste artigo que é preciso que se atente para a questão dos cruzeiros que cruzam nossos mares. Ao final do verão brasileiro, a chamada “polêmica dos navios” está mais acesa do que nunca. Como ele mesmo diz, “sem deixar de reconhecer que a matéria é controversa, preferimos definir a referida polêmica como uma questão de concorrência assimétrica”.
(Redação)


Alexandre Zubaran
(foto: waves.terra.com.br)

Fim da temporada – e da euforia – com os navios
Por Alexandre Zubaran

Chega o final da alta temporada do verão brasileiro e, mesmo com algumas tormentas, o segmento turístico respira e comemora bons resultados. Quem permanece no país começa a planejar a próxima estação e fazer as contas para não fechar no vermelho até dezembro chegar. Em contrapartida, no vácuo da inexistência de uma legislação reguladora sobre sua atividade, os cruzeiros trilham o caminho da Europa sem acumular preocupações com impostos, encargos trabalhistas e outras demandas de quem investe verdadeiramente no Brasil.

Como representantes dos resorts, setor que se orgulha de lutar pela valorização turística de nosso país, somos indagados a cada evento ou encontro profissional que participamos sobre a questão batizada pela mídia de “a polêmica dos navios”. Sem deixar de reconhecer que a matéria é controversa, preferimos definir a referida polêmica como uma questão de concorrência assimétrica. É dessa forma que tratamos o assunto, posto que as condições atuais do mercado assim o configuram. É assim que gostaríamos que a questão fosse tratada e o momento é propício para uma reflexão a respeito.

Não somos, em absoluto, contra a presença dos cruzeiros em nossa costa. Mas, enquanto a Europa protege seu mercado e a mão-de-obra local, os navios operam aqui sem nenhum subsídio legal regulatório. E o que dizer dos agentes de viagem que viveram a euforia da venda de cabines nesta temporada e agora ficam sem o produto na prateleira, simplesmente pelo fato de que os navios foram embora. Será que poderemos sobreviver a um turismo desse tipo, que explora o “filé mignon” e dá as costas ao mercado quando lhe convém?

Se as expectativas se confirmarem e tivermos, no verão de 2007, mais um aumento geométrico no número de cabines ofertadas, tememos por fortes distorções que nada têm a ver com a tão propalada livre concorrência com a qual alguns defendem a atividade dos cruzeiros concentrada no verão. A mais danosa dessas conseqüências será o inevitável achatamento de preços até o limite da sobrevivência empresarial ou mais. Uma guerra que deverá atingir todos os outros setores turísticos, diante da oferta rápida e incontrolável dos cruzeiros.

A solução para amenizar o impacto dessa super-oferta seria contar com o ingresso de turistas de outros países. Reconhecemos o esforço do Governo e do trade turístico em atrair o viajante estrangeiro e nos incluímos entre os que se dedicam a esse ideal. Porém, é fato que os cruzeiros também não colaboram nesse sentido, pois estão levando, com raras exceções, brasileiros para viajar pelo mar, sem que o comércio das cidades em que aportam seja beneficiado.

No momento em que essa questão, hoje tratada como mera disputa comercial, ser encarada como a questão sócio-econômica que realmente é, poderemos buscar uma isonomia competitiva que propicie a convivência harmoniosa entre cruzeiros e resorts. Por enquanto, só nos resta manter os pés em terra firme.