Por Karina Miotto

Eles têm a rotina diferente da maioria dos colaboradores em todos os hotéis – o dia e a noite mudam de lugar. Estamos falando dos colaboradores da madrugada, pessoas que aceitaram o desafio do horário de trabalho em nome do aprendizado e do progresso profissional.

Para conhecer melhor estes profissionais, estivemos em três estabelecimentos de diferentes partes do Brasil: Convento do Carmo, em Salvador (BA), Golden Tulip Paulista Plaza, em São Paulo (SP), e Tropical Hotel, em Manaus (AM). Em cada olhar, encontramos um brilho em comum: o da determinação.

Todos sabem que trabalhar na hotelaria exige dedicação, boa vontade, gosto por servir. A rotina é pesada em vários departamentos e ninguém está imune ao cansaço e ao sucesso, certeiro para quem vai atrás, enfrenta desafios, veste a camisa. Quem começa no mercado hoteleiro sempre ascende de posto. Basta querer. E é essa certeza que dá forças a todos os colaboradores. Obstáculos a serem superados é a frase de ordem. E que o diga o pessoal da madrugada!

Desafios…
João Paulo Pinto trabalha há quase um ano como recepcionista no Convento do Carmo, em Salvador. Seu turno é das 22h às 6h20. A vantagem, para ele, está na tranqüilidade. Sem dúvida, o movimento diminui. Porém, ao lado de um ponto positivo, está um dos maiores problemas a serem enfrentados. “Perdemos nossa vida social. E isso pode atrapalhar um pouco nossas relações pessoais”, diz.


João Paulo a pleno vapor, na recepção do Convento do Carmo,
em Salvador
(fotos: Karina Miotto)

É, quem está no comando durante a noite precisa dormir durante o dia e conseqüentemente vai ver pai, mãe, irmãos, amigos, maridos e esposas com menos freqüência. Se quiser tomar um chopinho em um happy hour, coisa muito comum para quem trabalha até às 18h, vai ter que emendar a noite trabalhando e lutando contra o sono. Dormir mal durante o dia implica diretamente no aumento do sono durante a madrugada, especialmente após às 2 da manhã.


Recebemos várias tripulações durante a madrugada”, afirma
Franciney Lima Barroso, recepcionista do Tropical Manaus.
Sono, nem pensar!

Quem trabalha de madrugada tem que readaptar a vida toda, os horários e principalmente o organismo para descansar e despertar em momentos completamente opostos ao que sempre esteve habituado. “A gente tem que se adaptar. Em Manaus, tendo um quarto com ar-condicionado e bem escuro, consigo dormir. Mas cada um é cada um, né?”, afirma Franciney Lima Barroso, que atua há dois anos no turno da noite como recepcionista do Tropical Manaus. Sem dúvida, é preciso condicionar a mente de que o horário para descansar mudou. Um quarto escuro e aconchegante pode lembrar ao corpo que a hora de dormir chegou. A adaptação pode variar e é preciso persistir para que ela não demore muito para chegar.


Juliana Bezerra, Thais Helena e Franciney, recepcionistas
do Tropical Manaus

Tatiano Oliveira, gerente noturno do Golden Tulip Paulista Plaza, em São Paulo, conclui sabiamente: “Se para trabalhar em hotelaria é preciso gostar do que faz, para atuar de madrugada é preciso gostar muito mais”.


Tatiano Oliveira, gerente noturno do Golden Tulip Paulista Plaza

Colega de trabalho de Oliveira, o recepcionista Rafael Gonçalves conta alguns segredos do sucesso em trabalhar à noite. “É essencial ter bom humor, equipe unida, companheirismo, paciência e comprometimento”.

Recompensas…
Se por um lado diminui o contato com pessoas da vida pessoal, existe a chance de transformar alguns colegas de trabalho em grandes amigos. Almir Pinto Bahia Filho atua há oito meses como mensageiro no Convento do Carmo. Ele conta que quando encontrava um colega durante o dia, mal se falavam. Depois que passaram a trabalhar juntos à noite, descobriram tantas coisas em comum que nunca mais perderam contato.


Almir Pinto Bahia Filho, mensageiro no
Convento do Carmo, descobriu novos amigos
trabalhando de madrugada

Oliveira, do Golden Tulip, é categórico, inclusive, na hora de afirmar que trabalhar à noite favorece a união dos colaboradores. “Ficamos muito mais unidos”. E por falar em motivação, Margarida Yassuda, gerente geral do hotel, faz questão de preparar um presente especial a todos os colaboradores da madrugada: um café da manhã no restaurante principal, uma vez por mês. “Graças à equipe da madrugada, as chefias podem dormir tranqüilas”, afirma. Eles merecem o presente.


Durante o merecido café da manhã no Golden Tulip, o recepcionista
Rafael Gonçalves, em primeiro plano na foto, seguido do auditor Alyson
Hirakata e do auxiliar de limpeza Dorival Neves Ferreira dos Santos Filho

Se o desafio é superado, a chance de se adaptar a novas funções e de crescer na hotelaria aumenta. “Depois de dois anos e meio como recepcionista no Maksoud, virei supervisor noturno. Durante um ano e meio trabalhei das 23h às 7h. Foi o turno que mais enxerguei como funciona o lado operacional de um hotel”, afirma Gustavo Jarussi. Este cargo o preparou para o futuro. Hoje ele é gerente geral do Tropical Manaus. “Você tem que aproveitar para fazer as suas coisas e ver o impacto de seu trabalho durante o dia seguinte. É um turno que pode ensinar muito”, diz.


Gustavo Jarussi, gerente geral do
Tropical Manaus

A história se repete com o gaúcho Samuel Kruchin, gerente noturno do mesmo hotel. Há sete anos de madrugada, não nega as dificuldades, o aprendizado e a alegria que sente em exercer esta função. “Tem que gostar e ter muito prazer em fazer este trabalho, senão…”  E quem quer crescer sempre aceita um bom e engrandecedor desafio, não é mesmo?