(imagem: peteps.ufsc.br)
 
A insígnia ao se produzir um estudo, seja este para qualquer finalidade, é que ele demonstre e perscrute os interstícios do que está sendo investigado para, posteriormente, desnudar alguns percalços e servir de bússola para tomadas de decisões. Eis o mundo ideal. O Estudo da Demanda Internacional no Brasil, encomendado pelo MTur (Ministério do Turismo) em parceria com o Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) à Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), apresentado esta semana, traz sim algumas possibilidades neste sentido.
 
A pesquisa apurou 39 mil entrevistas, entre janeiro e outubro de 2010. Os respondentes foram abordados em salas de embarque de 15 aeroportos internacionais e postos da Polícia Federal em saídas de 12 fronteiras terrestres – o que demonstra ser um material fidedigno quanto aos proventos obtidos.
 
Nele, há sinais ominosos que, agora à baila, pedem reavaliações e posturas condizentes – o que nem sempre é via de regra. O Brasil continua a ser, sob a leitura do material, campeão em hospitalidade (98% de aprovação), possui restaurantes virtuosos (95%), opções noturnas a granel para diversão (90,5%) – mas esbarra em pontos infantis, como sinalização turística (76,5%), rodovias (66,4%), telefonia e internet (73,8%) e, em tempos de alta da moeda nacional, no preço (59,9%).
 
As más notícias, neste contexto – ou a pontuação diminuta, como se preferir chamar -, na verdade são novidades excelentes para que se desenhe outra dinâmica capaz de minguar tais pontos. Todavia, o MTur prefere, com o perdão do clichê, fazer uso da clássica política de manipulação das massas e vender, imprensa a fora, o que há de mais airoso aos olhos.
 
Sob títulos como Turista de negócios gasta mais no Brasil, Turismo de lazer é o preferido do visitante estrangeiro e Brasil supera expectativa de estrangeiros o Ministério evidenciou o que de mais graúdo o Estudo da Demanda Internacional no Brasil poderia mostrar. Tudo eram flores – e não que tais argumentos não sejam prudentes, pelo contrário, eles são bem-vindos. Mas o que se espera, em se tratando de um material que deve nortear ações concisas e resolutivas, é que o estorvo a se enfrentar também entre na pauta para daí nascerem possibilidades que esmaeçam o problema.
 
Na contramão disso, a via-crúcis pende mais para o lado de reafirmar a valoração turística que o País possui – antiga conhecida tanto por aqui quanto em outras fronteiras. Em tempos de mudança, e com a expectativa do governo de melhorar a infraestrutura turística até 2014, quando são esperados 600 mil estrangeiros durante a Copa do Mundo, repetir os bons números é espécie de pleonasmo.
 
Tanto o turista estrangeiro quanto o transeunte tupiniquim que faz uso desta estrutura clamam por modificações. Na lista de avaliações apequenadas estão pormenores simples, a exemplo da própria sinalização turística – que poderia ser melhorada sem debandar grandes aportes. Internet e telefonia também são pontos que, se aprimorados, trariam benefícios não só ao turismo – mas igualmente à população e a outras indústrias e setores da economia. É uma questão de opção.
 
Questão também para análise da própria imprensa, que não deve reproduzir o conveniente ofuscando a indigência de minúcias ora ou outra mais relevantes. Reafirmar que o Brasil tem potencial e ganhou o óculo estrangeiro está longe de ser negativo, no entanto, não é por publicidade que o País clama – e sim por mudanças tangíveis e favoráveis a ele mesmo e aos que dele desfrutam.
 
É cediço dizer ainda que, por sorte – ou quem sabe conveniência -, o tema violência passou despercebido e parece não ter sido questionado / apresentado; o que desenha uma possibilidade de o quesito não ter relevância sob o óculo de quem conduziu a pesquisa, ou será que o assunto nem foi inserido?