Manoel Carlos Cardoso, diretor de Marketing
e Vendas do Rio Quente Resorts
(fotos: Fernando Chirotto)

No dia 14 de julho, o paulistano Manoel Carlos Cardoso, diretor de Marketing e Vendas do Rio Quente Resorts, completou 44 anos, 19 deles dedicados ao grupo hoteleiro Accor. “Comecei como gerente de Contas e fui galgando alguns degraus, passando para gerente de Vendas; gerente regional de Vendas para o interior paulista; gerente nacional de Vendas; gerente estratégico de Vendas para o Brasil e, por fim, gerente geral de Vendas para o Brasil”, relembra.

 
Formado em Direito pela FMU e pós-graduado em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas, o executivo se transferiu para o complexo goiano em 2006, no início de abril.
Nestes três anos, o empreendimento coleciona quebras de recordes, os quais, aliados às constantes renovações, o tornam um dos cases mais conhecidos do país. Para saber o segredo do sucesso e projetos futuros do resort, o Hôtelier News conversou com o executivo, que também aproveitou para discorrer sobre o trade hoteleiro do Brasil.
 
Por Fernando Chirotto

 
 

Hôtelier News: Qual foi o maior aprendizado nos 19 anos de Accor?
Manoel Carlos Cardoso: Durante todos estes anos, a Accor teve um presidente (Firmin António) extremamente agressivo para vendas, que sempre dobrava as metas anuais. Durante minha passagem pela rede, uma das coisas mais normais que aprendi – e que hoje me ajuda muito – foi a mudança. Todos os anos a empresa tinha inovações em marcas e na estrutura. Hoje sou muito aberto para mudanças.

Também passei por um período de grande dificuldade na rede, que foi a crise de 2000, quando tivemos todos os investidores rebelados por não terem os retornos esperados. Foi muito difícil lidar com os acionistas e turistas. Isto também me gerou uma bagagem bastante interessante, que é ter o equilíbrio emocional para se relacionar com os investidores, visto que cada um tem uma concepção diferente do mesmo assunto. Questões que favoreceram muito em minha formação profissional.

HN: O que motivou sua saída da rede?
Cardoso: Trabalhar na Accor foi praticamente uma vida. Chegou o momento em que atingi uma determinada ‘zona de conforto’, o que não me agradava mais. Entravam e saiam os anos e as coisas não se modificavam. Em vista disso, fiz uma reflexão e decidi mudar de ramo.

 
Na época se tratava de uma empresa líder de mercado, com uma ótima aceitação e que me proporcionava um bom relacionamento com muitas pessoas do trade. Contudo, eu já havia conquistado muitos resultados e ajudado na formação de diversas pessoas. Senti que precisava de algo para fazer uma reviravolta na minha vida.

HN: Como surgiu a oportunidade de ir para o Rio Quente Resorts?
Cardoso: Na realidade, eu estava propenso a ir para outro setor, o qual não sabia direito na época. Quando fui encontrado por um headhunter do Grupo Algar e chamado para conversar, nem imaginava que era algo relacionado à hotelaria.

Quando conheci a proposta e o business plan do complexo, achei fascinante. Algumas das coisas que me chamaram a atenção foi o fato de se tratar de um resort líder de mercado, com um parque aquático e ter proposta de mixed use, além de atuar como uma operadora. Isto me surpreendeu bastante e fez com que eu mergulhasse novamente no segmento.

 
   

HN: Qual é o balanço dos três anos de atuação no complexo?
Cardoso: Estou novamente motivado e já colho parte deste resultado positivo, representado pelos índices de ocupação e outros recordes atingidos no período. Posso afirmar que estou em um MBA que não existe em nenhum lugar do mundo, visto que aprendo a cada dia com a dinâmica deste grupo, o qual é muito focado em resultados e vendas.

 
HN: Qual o grande segredo para atingir resultados e superar recordes?
Cardoso: Uma característica muito forte da organização é ultrapassar qualquer obstáculo, com uma cultura 200% voltada para resultados. Tiramos de letra todos os tipos de problemas. Um exemplo disto foi a crise de febre amarela, que ocorreu no ano passado. Não tivemos nenhum caso no resort, contudo, o surto derrubou um trimestre nosso – entre janeiro e março. Porém, mesmo assim continuamos acreditando e fechamos o ano com recorde em vendas.

Isto mostra que temos muita força e não esmorecemos em qualquer tipo de obstáculo. A audácia de construir uma praia no Centro-oeste, em pleno momento que ninguém investia um centavo em hotelaria, demonstra muito a característica do grupo em acreditar que não deve dar ouvidos à crise.

HN: Falando em crise econômica, como ela repercutiu para o resort? E o vírus Influenza A (H1N1)? Prejudicou?
Cardoso: Não sei o que é crise. Prestamos atenção nela, mas como ela ‘não bateu em nossa porta’, seguimos o trabalho normalmente.

Em relação à gripe, não tivemos nenhum problema até agora, visto que Caldas Novas ainda não teve registros. Contudo, nossa equipe de guias foi treinada para observar se os hóspedes apresentam sintomas e, se houver infecção, temos um plano B.

HN: Falando sobre segmentos distintos: quais são as maiores diferenças entre atuar no corporativo e à frente de um resort?
Cardoso: O corporativo, por exemplo, tem mais força para barganhar na negociação, o que derruba a diária média de uma maneira geral. Já quando você trabalha em resorts, tem mais espaço para a negociação.

 
Agora, se formos abordar a diferença entre trabalhar em empresas nacionais e multinacionais, posso dizer que hoje tenho mais autonomia e os processos decisórios são mais ágeis. Por exemplo, no Rio Quente identificamos oportunidade nos períodos de alta ocupação e estamos construindo mais apartamentos no Hotel Turismo – clique aqui para ler a notícia.

Já em uma multinacional, no entanto, esta decisão poderia levar mais de um ano, fazendo com que duas temporadas fossem perdidas.

 

HN: Como você analisa a situação atual do mercado hoteleiro no Brasil?
Cardoso: Olhando para o mercado de uma maneira geral, ainda observo um resquício da crise econômica, que acabou
prejudicando todas as organizações, entre elas algumas que tiveram uma retração turbinada em eventos e viagens.

Contudo, acredito que, no segundo semestre, as empresas  retomarão suas atividades para ‘tirar o atraso’, o que fará com que os próximos seis meses sejam aquecidos para o corporativo. E devemos entrar no próximo ano neste ritmo.

HN: E a situação atual do segmento de resorts? Como está?
Cardoso: É um panorama difícil, visto que temos várias situações que acabam dificultando um pouco o cenário dos resorts brasileiros. Temos que olhar com certa cautela questões como o câmbio, que favorecem as viagens para o exterior. Os preços das passagens aéreas internacionais também potencializam este tipo de viagem.

HN: Como a mentalidade do brasileiro pode ser mudada? Mesmo com o dólar baixo e descontos em passagens, como fazer com que ele prefira viajar pelo seu país?
Cardoso: Temos que melhorar nossa estrutura. Hoje o brasileiro prefere ir para fora porque a estrutura internacional está muito madura, facilitando desde a locação de um carro até reservas em hotéis, o que é muito diferente do que encontramos nas cidades brasileiras. Este é um fator para o qual não podemos fechar os olhos.

Há também a questão dos navios, que, em vista da legislação brasileira, acabam sendo uma concorrência desleal para os resorts. 
E, para podermos nos sobrepor a isto, procuramos oferecer coisas diferentes aos clientes. Se ficarmos esperando estas melhoras acontecerem, ‘paramos’ no meio do caminho.


HN:
Como você vê o posicionamento do resort em relação à concorrência? São feitas muitas pesquisas de mercado?
Cardoso: Todos os resorts do Brasil são concorrentes do Rio Quente. Quando uma família quer viajar e escolhe um outro destino, automaticamente é um concorrente nosso. Ainda temos que melhorar muito em diversos aspectos, contudo, no primeiro semestre estive analisando os concorrentes e tenho a certeza de que tenho um produto muito bom e diferenciado.

HN: Se você fosse um investidor, em qual destino aplicaria seu capital e por quê?
Cardoso: Se eu fosse um empreendedor, tentaria ser sócio do Grupo Rio Quente. Pelo que eu conheci da hotelaria, não vejo destinos no Brasil que tem tanto potencial como o Rio Quente Resorts. Sério mesmo. Eu pediria uma participação acionária da organização.

HN: Falando sobre os demais destinos brasileiros, quais você acha que têm grande potencial turístico e deveriam ser aproveitados de uma melhor forma? Por exemplo, o que você acha da Amazônia?
Cardoso: Todos os destinos nacionais precisam de uma
infraestrutura mais adequada e melhorias em transporte e segurança, inclusive o nosso. Toda a infraestrutura do Rio Quente Resorts é proporcionada por nós. O Brasil está avançando e se desenvolvendo, porém, a infraestrutura ainda é um ponto que precisa melhorar.

Ao meu ver, a Amazônia também está inserida neste contexto. Apesar de ter um alto potencial, o acesso é muito difícil. Qual é a infraestrutura que o local apresenta para o turista? Mesmo assim, o destino é tão forte que recebe muitos visitantes, sobretudo os estrangeiros, que conhecem o local melhor que os próprios brasileiros.

HN: Por estar cansado da rotina, você saiu da Accor para buscar novos desafios. Há possibilidade de isso acontecer no Rio Quente? O que diferencia estas duas fases de sua carreira?
Cardoso: A possibilidade de isto acontecer, tanto em médio quanto longo prazo, é remota. Estamos em plena atividade de mutação do complexo e temos novidades já programadas até 2013. Após isso, muitas coisas já estão cogitadas para transformar e fortalecer o destino.

Quando entrei na Accor, o que me deixou estimulado foi a quantidade de bandeiras e produtos que a rede tinha no mundo todo. Aquilo, para um garoto, era uma espécie de ‘foguete’ no qual eu entraria para ir ‘à lua’. Já no Rio Quente, não vejo a mesma projeção de presença internacional, contudo, identifico uma igual

potência de business que este negócio tem para o mundo.

Estamos no meio da preparação de um destino único, que não terá parâmetros de referência dentro do Brasil.

HN: Há um limite de expansão para o resort?
Cardoso: Não tem limite. Nós não poderíamos ter a proposta  básica de potencializar e melhorar o destino sem saber como aproveitar o terreno como um todo. Hoje ocupamos apenas 80 de 1.350 hectares, o que não chega a 10% do área total do território.

Com esta visão empreendedora do futuro, contemplando o que é o Brasil, o gosto do brasileiro e as características de nosso produto, existe o entendimento que o potencial do destino ainda tem muito a crescer. Com todo o respeito, sabemos que nunca seremos o ‘único resort do mundo’, contudo, teremos muita representatividade diante de qualquer destino brasileiro.

Sem sombra de dúvida, o Rio Quente Resorts já é um case dentro do contexto da indústria. Posso afirmar que o complexo ainda vai surpreender muito ao trade. Temos a missão de ser o melhor destination resort da América do Sul.

HN: Você pode adiantar algumas destas surpresas? 
Cardoso: Dentro da premissa de oferecer diversas opções de lazer em apenas um destino, criaremos uma fazenda completa no
complexo, a qual vai contar com diversos animais, como vacas, galinhas e porcos, além de uma horta que vai fornecer alguns legumes e verduras para os restaurantes. Talvez esta nova atração fique pronta já no primeiro semestre de 2010.

Nosso grande objetivo é sempre melhorar o destino para que as famílias pensem: ‘por que iríamos para outro lugar?’.

HN: Qual o tamanho e investimento desta fazenda?
Cardoso: Vamos parar por aqui…nem poderia estar te falando isso…(risos). Posso afirmar que a fazenda não é nada perto do que virá para complementar o destino ao longo do tempo.

HN: Para finalizar, cite qual é sua atração preferida do resort e o que gosta de fazer em suas horas vagas, fora do complexo.
Cardoso: Uma das coisas mais fascinantes é a experiência do convívio familiar no Parque das Fontes, no qual você pode admirar as estrelas durante a noite. Tenho uma filha de três anos e meio e desde seu seis meses de idade ela frequenta o resort. O que ela mais me pede é para visitar o local. É revigorante.

Já fora do Rio Quente, ultimamente tenho cuidado de minha chácara em Itupeva, no interior paulista. Lá tenho meus animais e mexo com plantas, o que me ajuda a relaxar e me distrair do mundo de trabalho.

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