Márcio Moraes
(foto: divulgação/QI Profissional)

Algumas empresas se debruçam no planejamento dos recursos humanos e, de forma estratégica, se antecipam às necessidades, ora desenvolvendo sucessores, ora buscando, no mercado, o profissional que atenda às especificidades do cargo, respeitando a alma da empresa e os objetivos da função. 

Por outro lado, a maioria das empresas não investe com o mesmo empenho nos processos seletivos, começando pela análise superficial do currículo com base apenas na avaliação das competências técnicas. É preciso definir o perfil exato do futuro profissional para que a contratação seja, de fato, certeira.  

Ao tentar responder a pergunta que originou o título do artigo, a empresa poderá assinalar, por exemplo, que precisa de uma governanta que saiba reestruturar e supervisionar a equipe, coordenar as atividades, conter os custos, acompanhar as políticas e padrões, como também os planos orçamentários, qualificar equipes e elaborar escalas de serviços. 

No que tange o comportamento desse profissional, a empresa tentará “pescar” um comportamento corriqueiro e torná-lo padrão. Por exemplo, profissionais que não apresentaram estabilidade nos últimos empregos serão rotulados com a imagem que repetirão esse histórico sempre.  

Se fosse fácil selecionar profissionais, não estaríamos passando por uma série de erros que levam a alta rotatividade em muitas empresas, devido à complexidade dos processos de contratação. A solução pode estar em compreender a real importância do processo de seleção e incluir, na arquitetura do cargo, também as competências comportamentais analisadas com ferramentas apropriadas, evitando a subjetividade. 

Há dois exemplos, que recentemente tive contato, que apresentaram competências técnicas semelhantes, ou seja, estariam facilmente concorrendo às mesmas vagas no mercado. Porém, apresentam comportamentos diferentes. O principal talento delas será utilizado para denominá-las e, assim, compreenderemos como os perfis apresentam distinções no atendimento das demandas.

A Governanta Observadora apresenta como principal característica a capacidade de buscar fatos históricos para compor suas ações no presente e futuro. Dessa forma, consegue interferir e corrigir os erros. Apresenta facilidade e necessidade de identificar padrões e é justamente nesse quesito que busca segurança para lidar com as situações e tomar decisões.  Utiliza das perguntas para encontrar uma visão linear dentro do tempo e do espaço. A produtividade da Governanta Observadora aparece com o tempo, quando se ambienta com a política e padrões da empresa, a profissional deixa de ver o ambiente como desconhecido e, a partir daí, desabrocha uma gestora servidora de apoio à equipe. Deste momento em diante, compreende com facilidade o caminho que deve tomar para acompanhar o time e, principalmente, se reconhece como parte integrante do grupo. 

Já a Governanta Gerenciadora é seletiva no relacionamento profissional, procura pessoas com credibilidade e alta capacidade para associar-se.  Nessa composição de grupo, ela sente a possibilidade de vencer barreiras, investindo todos os recursos para transformar sua equipe em pessoas de alta eficiência.  No processo seletivo para composição de seu time, optará por profissionais que permitem e apresentem condições de evoluir e crescer profissionalmente. Sua principal característica é conduzir seus colaboradores para o desenvolvimento, saindo do medíocre em direção ao excepcional. A Governanta Gerenciadora administra sua equipe para atingir resultados através da persuasão, sem agressividade. Ela projeta no trabalho um modo de vida, pois tem personalidade de pessoa objetiva e assertiva, agindo sempre de forma positiva e arrojada. 

O sucesso desses perfis na empresa dependerá de como essas características comportamentais serão respeitadas e se haverá sintonia com as políticas da empresa. 

A Governanta Observadora será mais produtiva em uma empresa estável, com padrões bem definidos e que valorize relacionamentos sociais e de consideração entre seus funcionários, isto é, uma empresa que apresente planejamentos em médio e longo prazo, incluindo as possíveis mudanças.  Para que sua equipe seja eficiente e se desenvolva para atingir resultados positivos, o gestor responsável pelo trabalho da governanta deverá dar tempo para que ela possa pensar e agir, dentro do possível, é claro. É preciso saber aproveitar as qualidades dela como planejadora e suas características de ponderação e obstinação.

Já a Governanta Gerenciadora necessita de ambiente que favoreça o desenvolvimento,  que necessita de respostas rápidas e dinâmicas,  como também prioriza os resultados focados na objetividade.  Será mais produtiva em empresas que apresentam mudanças constantes e evolutivas, que compreendam as necessidades das pessoas, mas necessita de lideres que tomam decisões, na sua maioria, de forma independente.  

Os pontos mais destacáveis desse perfil são: a automotivação e a tendência em agir por conta própria. Seu gerente deverá estar atento a essa característica, para extrair o melhor de sua produtividade, provendo um ambiente em que ela possa seguir seus caminhos, desde que os resultados finais sejam os esperados. Para esse perfil, é importante que seu gerente lhe apresente desafios constantes e a premie por objetivos atingidos, mantendo-a sempre em atividade.

Interessante compreender que para esses dois perfis há oportunidades de trabalho, porém ou trabalharão em empresas diferentes ou numa mesma empresa em momentos diferentes.  Como também é nítido compreender que os gerentes,  lideres desses perfis, também apresentam estilos diferentes de relacionamento. Desta forma, é compreensível que a competência técnica não seja suficiente para designar um profissional compatível.  

Acredito, com essa análise, que esteja mais fácil entender determinados perfis que passaram pela empresa, mesmo com alta competência técnica, mas apresentaram pouca produtividade ou uma passagem rápida. 

*Baseados em perfis reais, utilizando a ferramenta DISC. Trechos do texto foram extraídos do relatório da  análise descritiva  de profissionais representados pela QI Profissional. 

** Márcio Moraes é gerente de Planejamento de Carreira da QI Profissional.

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