Móris Litvak

Vejamos: por mais ou menos noveleiro(a) que você seja, já deve ter ouvido essa pergunta, mesmo que não saiba a resposta nem a qual novela se refere. Esse expediente de mistério é muito utilizado nas novelas como forma de segurar a audiência até o último capítulo.  

Mas, o que isso tem a ver com a hotelaria? Estamos atravessando uma crise há cerca de um ano e meio, com uma baixa generalizada na ocupação. Além disso, estamos assistindo a uma série de inaugurações de novos hotéis de todas as categorias, o que só vem a agravar o quadro. Nada disso é novidade, bem como também não é novidade que todos nós temos que cortar custos.

Por mais que queiramos ser otimistas, deveremos amargar mais uns dois anos, no mínimo, de baixa ocupação, abaixo dos sonhados 60%, faixa esta que dá aos hotéis um certo equilíbrio. Ocorre que, bem agora, com a corda já apertada no pescoço dos hotéis, as OTA’s vêm unilateralmente com propostas indecentes de aumento das comissões (que já são indecentes), pois acham que os hotéis não sobreviverão sem elas. Neste ponto o Rio de Janeiro está dando um ótimo exemplo, com todos os hotéis boicotando a Decolar por uma semana.

E tem mais: quando a economia se recuperar, as viagens corporativas não vão voltar ao nível anterior pré-crise. As empresas já estarão acostumadas às novas formas encontradas de evitar, pelo menos em parte, as viagens a trabalho. Mais ou menos o que ocorreu após o apagão nos anos 90. O consumo de energia das famílias nunca voltou a ser o que era.  

E o channel manager (CM), para que serve mesmo? Isso nós todos sabemos. Ou, me permitam relembrar: Na época das vacas gordas, a função principal (não a única) dos CM’s era evitar o over booking. Você distribuía a sua disponibilidade pelos vários canais e não corria riscos. Mas, e agora, com ocupação abaixo dos 50%? Outro dia, conversando com um hoteleiro que gerencia vendas de três empreendimentos de bom porte, ele me disse que dispensou o seu CM e passou a fazer tudo manualmente, como antigamente, com uma enorme economia, pois pagava caro para receber cada reserva além das comissões pagas para cada canal. Como eu já disse em posts anteriores, quem menos lucra com a atividade hoteleira é o hotel.

Estamos todos numa fase tão difícil que o importante é sobreviver. Não estou aqui movendo nenhuma campanha contra os CM’s, até porque dependendo do hotel, da sua estrutura, se for rede, etc, não dá mais para viver sem essa ferramenta. Mas o fato é que no nosso dia a dia nos acostumamos a certas facilidades – ou somos levados a nos acostumar da mesma forma como somos levados a assistir o próximo capítulo da novela (ou série)  que nem percebemos quanto aquilo nos custa e se podemos ou não viver sem essa tal facilidade.

Outro exemplo da minha própria realidade recente: fiquei muitos anos sem andar de ônibus urbano. Tivemos este mês de junho muito chuvoso aqui em São Paulo. Num certo dia de rodízio, eu precisava ir próximo ao centro da cidade e esperava um taxi ou um Uber, o que viesse primeiro, pois os dois estavam demorando e eu estava saindo atrasado. Passaram por mim muitos ônibus que iam passar muito perto de onde eu ia. Naquele horário, o trânsito estava ruim e nem o táxi poderia circular pelos corredores de ônibus. Ou seja, mesmo que eu pegasse táxi ou Uber, ainda enfrentaria o congestionamento. Cancelei os dois nos aplicativos e peguei um ônibus. Para minha surpresa, os ônibus hoje em dia nada têm a ver com a fotografia amarelada que eu trazia em mente. São silenciosos, alguns são automáticos, não têm degraus….  E por aí vai.  Tornei-me usuário deste tipo de transporte  ou melhor, voltei a ser, como antigamente  ainda mais que não pago passagem.  E tenho economizado muito.

E daí? Assim como antigamente, pense em reduzir seus custos caso o porte do seu hotel x sua ocupação atual não justifique o uso do CM.  Quem sabe você também não se surpreenda como o hoteleiro que mencionei acima que, junto com minhas experiências, me inspirou a escrever. Ah, a novela chamava-se Vale tudo e passou há quase 30 anos.

* Formado em engenharia pela USP, Móris Litvak trabalhou na indústria de computadores quando esta surgiu no Brasil e, mais tarde, em assistência técnica. Fundou a WebBusiness em 1996, que iniciou fazendo sites, tendo concentrado-se em sites para hotéis e logo focado em reservas online. Em 2013, a WebBusiness foi vendida a um grupo europeu e atualmente ele comada a easyHotel, voltada ao fornecimento de tecnologia para pequenos meios de hospedagem.

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